São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Advogado de Dirceu atuou para Dantas no caso Kroll

José Luís Oliveira Lima advogou para o banqueiro por pelo menos cinco meses

Advogado diz que quando assumiu a defesa do petista já não trabalhava mais no inquérito penal contra o dono do banco Opportunity


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O atual advogado do ex-ministro José Dirceu (PT-SP), José Luís Oliveira Lima, trabalhou pelo menos cinco meses na defesa do banqueiro Daniel Dantas (Opportunity) durante as investigações do caso Kroll -espionagem de autoridades brasileiras supostamente encomendada pelo banqueiro.
Lima foi o terceiro advogado com alguma relação com o PT contratado pela Brasil Telecom (BrT) -então sob administração do Opportunity. Também foram contratados Antônio Carlos Almeida Castro, amigo do ex-ministro, e Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em depoimento ontem na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Senado, Dantas admitiu a possibilidade de as contratações terem sido uma tentativa de aproximar a BrT do governo federal. Ele negou ter indicado nomes.
"Se me perguntarem se havia uma expectativa da Brasil Telecom de, ao contratar advogados ligados ao PT, atenuar o relacionamento difícil com o governo, posso dizer que é bem possível que tivesse havido. Pode ser, mas não tomei conhecimento", afirmou Dantas.
Entre os advogados, Castro, conhecido como Kakay, abocanhou a maior fatia dos honorários pagos: R$ 7,987 milhões. Lima fechou o contrato por R$ 1 milhão e, após renegociação, recebeu R$ 500 mil. Teixeira ficou com R$ 1 milhão.

Os advogados
Lima afirmou que, no período em que trabalhou para Dantas, não tinha nenhum contato com o ex-ministro. Disse que assumiu o caso Kroll em dezembro de 2004. Recebeu a primeira parcela de R$ 300 mil no dia 27 de dezembro de 2004 e a segunda em 27 de abril de 2005, quando parou de atuar.
Em julho de 2005, foi indicado pelo tio e ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, para assumir a defesa de Dirceu. "Quando fui nomeado advogado de Dirceu, já não trabalhava para a Brasil Telecom. É importante que isto fique claro."
Sobre a diferença entre os valores pagos pela Brasil Telecom a ele e a Kakay, Lima afirmou que a definição dos honorários é uma "questão de foro íntimo".
"Cobro o que acho razoável. Pode ser talvez que o Kakay, à época, tivesse uma notoriedade maior do que a minha, não sei."
No inquérito que tramitou na 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, referente ao caso Kroll, a atuação de Lima é bastante mais visível se comparada à de Kakay. Pelo menos, nas quatro principais peças do inquérito (um habeas corpus contra o pedido de prisão e três mandados de segurança para impedir a abertura de documentos recolhidos da BrT), não há a assinatura de Kakay.
Kakay diz que teve muitas reuniões com os executivos da BrT, acompanhou os depoimentos de Dantas e da ex-presidente da tele Carla Cico e que assinou várias petições.
Acrescentou que, apesar de não ter assinado, foi dele a idéia de impetrar mandado de segurança que resultou na liminar que impediu que os discos rígidos dos computadores do Opportunity fossem analisados pela PF. "Foi a nossa maior vitória nesse caso. Tivemos muitas reuniões, foram várias petições. É inexplicável dizer que eu não trabalhei", disse Kakay.
Ele ressalta que as pessoas superdimensionam sua amizade com Dirceu e esquecem das inúmeras autoridades que já defendeu, como sete ministros do governo anterior. Kakay disse que os valores cobrados da Brasil Telecom estão no mesmo nível que os de muitos outros clientes que já defendeu.
Kakay trabalhou também no desdobramento da compra da CRT pela BrT -apesar de a operação ter sido fechada em 1999, o Opportunity, recentemente, levantou a hipótese de ter havido elevação artificial nos valores pagos para atender a interesses políticos.
Ainda no depoimento à CCJ, Dantas disse ter tido conhecimento dos valores pagos pela BrT após os contratos terem sido fechados. Segundo ele, Kakay pode ter cobrado um preço alto porque estava sendo disputado pelos adversários dele, os acionistas da BrT.
A denúncia apresentada pela atual diretoria da BrT é contra Dantas, acusado de ter usado dinheiro da tele para a defesa pessoal dele. Os advogados não são investigados. Numa proposta de trabalho enviada por Lima via e-mail à BrT, fica claro que o advogado iria atuar na "interposição de todas as medidas judiciais visando resguardar os interesses do sr. Daniel Valente Dantas".


Texto Anterior: Dantas diz a senadores que PT pressionou Opportunity
Próximo Texto: Toda Mídia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.