São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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Dantas diz a senadores que PT pressionou Opportunity

Banqueiro afirma na CCJ que sócio foi sondado para contribuir com o partido

"Houve extorsão. Pode não ter sido bem-sucedida, mas houve extorsão", afirma Arthur Virgílio; "Essa é uma conclusão do sr.", diz Dantas


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O banqueiro Daniel Dantas (Opportunity) confirmou ontem, em audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que seu ex-sócio Carlos Rodenburg foi procurado pelos petistas Ivan Guimarães e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, em ocasiões distintas, para que a instituição contribuísse com o partido.
Dantas preferiu não usar termos como "extorsão" ou "achaque", no entanto afirmou que foi até os Estados Unidos para consultar o Citibank sobre o assunto. Na época, o Opportunity tinha um acordo com o Citi que permitia a Dantas controlar a Brasil Telecom.
De acordo com Dantas, pouco antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomar posse, Guimarães, que depois assumiria o Banco Popular do Brasil, procurou Rodenburg e lhe entregou uma caixa vermelha com um "kit" do PT.
Dantas disse que Rodenburg não entendeu o gesto como um pedido de doação e devolveu a caixa ao partido. Segundo o banqueiro, o PT não teria gostado disso.
Meses depois, quando já estava no governo, Delúbio teria procurado Rodenburg. O então tesoureiro teria dito que o partido enfrentava uma dificuldade financeira da ordem de US$ 50 milhões: "Somos administradores de fundos, não seria possível atender a esse pleito", afirmou Dantas. Segundo ele, o Citibank lhe enviou uma carta dizendo que não aceitaria fazer pagamentos ao partido. O banqueiro disse não ter feito doação ao PT.
"Houve extorsão. Pode não ter sido bem-sucedida, mas é claro que houve extorsão", disse o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). "Essa é uma conclusão do senhor", replicou Dantas. Durante a sessão, os senadores do PFL José Agripino (RN), Edson Lobão (MA) e Heráclito Fortes (PI) defenderam Dantas ou levantaram pontos favoráveis à sua defesa.
Dantas contou também no Senado que foi procurado pelo então ministro José Dirceu (Casa Civil). De acordo com sua fala na audiência, o ministro o chamou para uma conversa no Palácio do Planalto.
Dirceu teria dito que o governo queria resolver a disputa entre os fundos de pensão e o Opportunity pelo controle da Brasil Telecom e que o presidente do Banco do Brasil na época, Cássio Casseb, teria sido escolhido pelo governo para tratar do assunto.
Dantas contou que teve encontro com Casseb na sede do BB e que o tom da conversa foi duro. Segundo o banqueiro, Casseb teria dito a ele para que o Opportunity abrisse mão do controle da Brasil Telecom. "Perguntei o que receberia em troca. Ele disse: "Nada.'"
"O tom do Delúbio não era de intimidação, ao contrário do Casseb, nitidamente intimidatório", disse. Dantas relatou conversas que diz ter tido com o presidente do Citibank no Brasil, Gustavo Marin.
O dirigente do banco americano teria contado a Dantas que o governo vinha pressionando o Citibank por conta de sua associação com o Opportunity. Segundo ele, por conta dessas pressões, o Citibank teria desfeito o acordo com o Opportunity, que perdeu o controle da Brasil Telecom.

Investigação
Dantas voltou a negar que tenha responsabilidade na contratação da Kroll pela Brasil Telecom. Admitiu, porém, que participou de reuniões com o fundador da empresa, Jules Kroll, e de conferências telefônicas com membros daquela agência de investigação. O banqueiro contou que chegou a recomendar a Jules que procurasse o governo para dizer que a Kroll não havia espionado autoridades do país.
Questionado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se não seria responsável pelo trabalho da Kroll, já que a agência fora contratada pela Brasil Telecom na gestão do Opportunity, disse: "Por esse caso, o presidente Lula seria o responsável pelo mensalão. O mensalão ocorreu no governo Lula".

Outro lado
Procurado pela Folha, o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb disse que não iria comentar nada sobre Daniel Dantas, Opportunity ou Brasil Telecom. O Citibank informou que não não podia comentar o caso uma vez que tem um processo na Justiça americana contra Dantas.
No ano passado, em depoimento à CPI dos Correios, o presidente do Citi no Brasil, Gustavo Marin negou que tivesse sido pressionado por autoridades brasileiras a desfazer o acordo com o Opportunity.


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