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Ambientalista
"Está todo mundo se esfaqueando em praça pública"
DA REPORTAGEM LOCAL
Na avaliação de Paulo Barreto, do Imazon, a falta de liderança do presidente Lula
nas discussões sobre o tema
leva os envolvidos a se "esfaquear em praça pública".
FOLHA - Qual é o problema da
MP?
PAULO BARRETO - São vários.
Um deles é o subsídio dado a
quem ocupa terras. Ela doa
terras para quem ocupou até
100 hectares (cada hectare
equivale a 10 mil m2). Entre
100 e 400 hectares, prevê a
venda por um preço simbólico. A lógica é estranha: se
ocupou faz tempo, tem direito a desconto. Se está ocupando terra pública de graça,
já ganhou bastante dinheiro,
a lógica seria pagar mais.
Embora a lei diga que isso
é válido para quem ocupou
até dezembro de 2004,
quando isso ficar mais popularmente conhecido, o que
vai soar para quem está fora
da Amazônia é que estão
doando terra, o que vai incentivar mais gente vindo
para cá, o que só vai piorar o
desmatamento.
Além disso, a MP acaba
desestimulando quem já
desmatou área em outras regiões a investir no aumento
da produtividade das áreas.
Quando você quer aumentar
a produtividade de uma área,
tem um custo. Isso fica caro
em comparação com migrar
para outra área e desmatar.
Quanto mais você facilita a
ocupação, mais barato fica
desmatar sem investir no aumento da produtividade.
FOLHA - Mas o fato de legalizar
a terra não torna mais fácil a fiscalização do poder público?
BARRETO - A maioria que está
falando mal dessa regra [da
MP] é a favor da regularização. Agora, tem de ser feita
com critérios que facilitem
isso, sem subsídio.
Outra coisa é que essa MP
permite a regularização para
aqueles que ocupam em nomes de outros, o "empreendedorismo da grilarem" -o
que chamam de preposto.
Nas áreas próximas das estradas, todo mundo já ocupou. Agora, tem áreas que estão distantes, que ainda não
são viáveis economicamente
de ocupar. O especulador,
quando tem o anúncio de
que vai haver investimento
de asfaltar estradas, abrir novas, pensa que aquela terra
vai passar a ser viável.
Para ele, não é negócio ir lá
para o mato distante. Vai um
funcionário. Isso inicia uma
corrida para ver quem ocupa
primeiro. E não basta ir lá, falar essa área é minha. Isso é
terra de ninguém, acontece
muita violência, morre gente. E tem um desmatamento
prematuro, porque tem de
mostrar que está usando,
mesmo sendo economicamente inviável no momento.
FOLHA - E pequenos produtores?
BARRETO - A MP vale até para
empresas, o que distorce a
ideia de regularizar posse.
Originalmente era só até 100
hectares. Tem aquela brecha:
pequeno, então pode. Agora
vai até 1.500 hectares, com
dispensa de licitação.
FOLHA - Do ponto de vista político, por que a área ambiental parece sempre perder as batalhas?
BARRETO - Qual o papel do líder? Encaminhar esses temas. O presidente não faz isso. Os ministros ficam lá, se
estapeando via imprensa. Isso é muito ruim, cria dificuldades de encontrar soluções.
Está todo mundo se esfaqueando em praça pública.
Falta esse papel de liderança.
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