São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Um inimigo por dia

Bem que John Kerry avisou, no "Miami Herald":
- Não tenho um bom pressentimento (sobre Kirchner).
O presidente argentino foi para o conflito aberto com o Brasil. Era manchete nos sites do "La Nación", "Clarín" e "Ambito Financiero" a ameaça de "ampliar (as restrições) ao âmbito têxtil".
Enquanto ministros dos dois países buscavam não "dramatizar", Néstor Kirchner dizia:
- O desenvolvimento (tem que ocorrer) em todos os países do Mercosul e não em um só.
Mas o Brasil não é seu único alvo. A Argentina abriu a reunião do Mercosul propondo que o México seja aceito, mas como mero "membro observador".
Enquanto isso, o mexicano Vicente Fox recebia de Lula apoio empolgado à associação ao Mercosul, como se via, em destaque, na CNN em espanhol.
E tem mais. A reação de Kirchner a Kerry veio, no "Ambito", com um ministro argentino dizendo que o país "não tem por que prestar atenção" ao presidenciável americano. Dias atrás, Kirchner já havia trombado com o assessor dos EUA para a América Latina, Roger Noriega.
E a cada dia tem mais. No dizer do mesmo "Ambito", ontem, "Kirchner fez seu inimigo do dia: desta vez foi a Igreja". O presidente chamou a direção católica no país de "hipócrita". Sem falar dos ataques coléricos a Eduardo Duhalde, Raúl Alfonsín etc.
 
Por outro lado, o "Ambito" anunciou no site que, "logo depois do episódio da aftosa" contra o Brasil, o país obteve ontem do Chile a reabertura das importações da carne argentina.
Coincidência ou não, segundo o "Valor", as conversas entre os setores de eletroeletrônicos do Brasil e Argentina não deram certo, levando às restrições, porque os argentinos queriam "favorecer" importações do Chile.
 
Nem todos os argentinos estão com Kirchner. Em editorial, o "La Nación" criticou ontem as restrições e cobrou "diálogo".


REALMENTE O "New York Post" ironizou a si mesmo, na capa de ontem, copiando o desenho do dia anterior (imagem à esq.) e anunciando o vice correto de John Kerry (no centro). Dois detalhes: a palavra "realmente" na capa, em destaque, e a menção de que desta vez era de uma informação "não" exclusiva. O concorrente "Daily News" também reproduziu em parte o desenho do "Post", mas mudando a manchete para "A verdadeira escolha de Kerry" (imagem à dir.). Segundo relatos, a redação do "News" enviou vinho australiano à redação do "Post", com a mensagem "parabéns pelo furo"

HOMEM-ARANHA


Não foi do e-mail de John Kerry, enviado a seus apoiadores, o "furo" de quem seria o vice. Foi, disse o "New York Times", de um "blogger obscuro". Para ser mais exato, de "aerosmith", que usa como identificação a imagem do Homem-Aranha e colabora num blog de aviação. Ele entrou na noite de segunda com a notícia de que o Boeing 757 de Kerry estava mudando a pintura e acrescentando o nome de John Edwards como vice.

Madrugada
Da manchete do Jornal Nacional e dos demais:
- Senado aprova o texto da reforma do Judiciário.
Saiu, depois de tanto debate. Saiu sobretudo depois de uma longa noite, segundo o blog de Jorge Bastos Moreno, na Globo On Line:
- A madrugada fria de Brasília permitiu vários encontros do governo e da oposição, típicos do "Vai Passar" de Chico Buarque: "A nossa pátria mãe tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações".
É que a oposição exigia, para garantir quórum às votações, a "liberação de suas emendas".

Modéstia
Mas nem tudo é tão tenebroso. Outros destaques do dia, nas manchetes do Jornal da Record e de outros, eram que "o emprego cresce na indústria brasileira" e "a inflação fica mais baixa".
Um ministro de Lula chegou a afirmar que só insiste na projeção de crescimento de 3,5% no ano, agora, "por modéstia".


Texto Anterior: Contra e a favor: Tucano é cobrado e aplaudido no centro
Próximo Texto: Fritura eleitoral: Marta come pastel e lanche de mortadela
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.