São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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Ex-secretária diz que Valério mantinha contato com doleiro

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernanda Karina Somaggio confirmou ontem, em depoimento à CPI dos Correios, que o publicitário Marcos Valério manteve contato com um doleiro preso pela Polícia Federal na operação Farol da Colina.
A ex-secretária de Valério também afirmou que a agência do Banco Rural em Belo Horizonte abria mais cedo para que funcionários da SMPB e DNA fizessem vultosos saques em dinheiro que seriam destinados, segundo ela, para o pagamento de deputados.
Antes de iniciar seu depoimento, Karina -que está sendo processada por Valério desde outubro de 2004 por tentativa de extorsão- fez questão de ler uma listagem com 34 itens nos quais procurou demonstrar que tudo o que falou até agora é verdade. "Tudo o que falei vem sendo comprovado." O depoimento iniciou às 16h30 e acabou às 22h10.
Questionada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) se tinha feito, a pedido de Marcos Valério, ligações telefônicas para algum doleiro, ela respondeu que ligou uma vez para um doleiro chamado Haroldo [Bicalho]. "Foi porque ele importou três cavalos que foram pagos em dólar", disse Karina, que forneceu o endereço do doleiro em Belo Horizonte. Anteontem, Valério disse à CPI que não mantinha contatos com Bicalho e declarou que seu sócio, Cristiano Paz, é amigo do doleiro.
O senador ainda perguntou à ex-secretária se o publicitário mantinha contas no exterior. Segundo ela, o representante do banco Merryl Linch Júlio Lage vinha ao Brasil algumas vezes e falava com Valério. No entanto, não soube dizer o teor das conversas.
Dias afirmou que em dois anos Valério enviou cerca de US$ 750 mil, em 50 remessas, para a conta Beacon Hill, uma offshore em Nova York que, segundo investigações da CPI do Banestado, foi usada para lavagem de dinheiro.
A operação Farol da Colina foi desencadeada pela Polícia Federal no ano passado com o objetivo de prender 60 doleiros que movimentavam ilegalmente subcontas na offshore Beacon Hill.

Saques
Fernanda Karina disse que funcionários da SMPB e DNA "iam mais cedo" à agência do Banco Rural em Belo Horizonte para sacar vultosas quantias de dinheiro. Não soube dizer o valor de cada uma dessas transações.
"A Simone [Vasconcelos] ligava, avisando que os boys iam passar no banco e a agência abria mais cedo", afirmou Karina, que falou à CPI na condição de informante e não como testemunha.
De acordo com Karina, "dois ou três office-boys se dirigiam ao banco para dar garantia, em caso de assalto". Ela estimou que os saques aconteciam pelo menos uma vez por semana. A secretária declarou que nunca viu o dinheiro dos saques. "Eu sabia da logística do dinheiro." Afirmou que as notas eram acomodadas em valises tipo 007, que ficavam no departamento de finanças da agência.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), perguntou se o dinheiro dos saques iam para parlamentares e ela respondeu que sim.
"Ele [Valério] falava algumas vezes com o [então tesoureiro do PT] Delúbio [Soares] e depois ligava para outras pessoas falando "olá deputado, amanhã vou estar em Brasília". Um dia que eu o ouvi falando isso teve um saque e ele viajou no dia seguinte."
A secretária disse não saber a origem do dinheiro mas que ouviu Valério dizendo que o "amigo" tinha mandado dinheiro.
A secretária voltou a destacar a amizade entre o publicitário e Delúbio, além de dizer que seu ex-chefe "gostava de se gabar de que conhecia vários políticos e que tinha relações estreitas com o PT".
Segundo Karina, ele se encontrou "várias vezes" com José Mentor (PT-SP) em hotel em São Paulo. Nos encontros, diz, estava acompanhado do ex-vice-presidente do Rural, José Dumont. O banco é suspeito de participar de envio irregular de recursos para o exterior, como levantou a CPI do Banestado. O relator era Mentor.


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