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Ex-secretária diz que Valério mantinha contato com doleiro
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fernanda Karina Somaggio
confirmou ontem, em depoimento à CPI dos Correios, que o publicitário Marcos Valério manteve
contato com um doleiro preso pela Polícia Federal na operação Farol da Colina.
A ex-secretária de Valério também afirmou que a agência do
Banco Rural em Belo Horizonte
abria mais cedo para que funcionários da SMPB e DNA fizessem
vultosos saques em dinheiro que
seriam destinados, segundo ela,
para o pagamento de deputados.
Antes de iniciar seu depoimento, Karina -que está sendo processada por Valério desde outubro de 2004 por tentativa de extorsão- fez questão de ler uma
listagem com 34 itens nos quais
procurou demonstrar que tudo o
que falou até agora é verdade.
"Tudo o que falei vem sendo
comprovado." O depoimento iniciou às 16h30 e acabou às 22h10.
Questionada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) se tinha feito,
a pedido de Marcos Valério, ligações telefônicas para algum doleiro, ela respondeu que ligou uma
vez para um doleiro chamado Haroldo [Bicalho]. "Foi porque ele
importou três cavalos que foram
pagos em dólar", disse Karina,
que forneceu o endereço do doleiro em Belo Horizonte. Anteontem, Valério disse à CPI que não
mantinha contatos com Bicalho e
declarou que seu sócio, Cristiano
Paz, é amigo do doleiro.
O senador ainda perguntou à
ex-secretária se o publicitário
mantinha contas no exterior. Segundo ela, o representante do
banco Merryl Linch Júlio Lage vinha ao Brasil algumas vezes e falava com Valério. No entanto, não
soube dizer o teor das conversas.
Dias afirmou que em dois anos
Valério enviou cerca de US$ 750
mil, em 50 remessas, para a conta
Beacon Hill, uma offshore em Nova York que, segundo investigações da CPI do Banestado, foi usada para lavagem de dinheiro.
A operação Farol da Colina foi
desencadeada pela Polícia Federal
no ano passado com o objetivo de
prender 60 doleiros que movimentavam ilegalmente subcontas
na offshore Beacon Hill.
Saques
Fernanda Karina disse que funcionários da SMPB e DNA "iam
mais cedo" à agência do Banco
Rural em Belo Horizonte para sacar vultosas quantias de dinheiro.
Não soube dizer o valor de cada
uma dessas transações.
"A Simone [Vasconcelos] ligava, avisando que os boys iam passar no banco e a agência abria
mais cedo", afirmou Karina, que
falou à CPI na condição de informante e não como testemunha.
De acordo com Karina, "dois ou
três office-boys se dirigiam ao
banco para dar garantia, em caso
de assalto". Ela estimou que os saques aconteciam pelo menos uma
vez por semana. A secretária declarou que nunca viu o dinheiro
dos saques. "Eu sabia da logística
do dinheiro." Afirmou que as notas eram acomodadas em valises
tipo 007, que ficavam no departamento de finanças da agência.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), perguntou se o dinheiro dos saques
iam para parlamentares e ela respondeu que sim.
"Ele [Valério] falava algumas
vezes com o [então tesoureiro do
PT] Delúbio [Soares] e depois ligava para outras pessoas falando
"olá deputado, amanhã vou estar
em Brasília". Um dia que eu o ouvi
falando isso teve um saque e ele
viajou no dia seguinte."
A secretária disse não saber a
origem do dinheiro mas que ouviu Valério dizendo que o "amigo" tinha mandado dinheiro.
A secretária voltou a destacar a
amizade entre o publicitário e Delúbio, além de dizer que seu ex-chefe "gostava de se gabar de que
conhecia vários políticos e que tinha relações estreitas com o PT".
Segundo Karina, ele se encontrou "várias vezes" com José
Mentor (PT-SP) em hotel em São
Paulo. Nos encontros, diz, estava
acompanhado do ex-vice-presidente do Rural, José Dumont. O
banco é suspeito de participar de
envio irregular de recursos para o
exterior, como levantou a CPI do
Banestado. O relator era Mentor.
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