São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÕES

Rendimento médio mensal de Guedes na Fazenda Nacional é de R$ 9.000; dados do Coaf indicam que ele recebeu R$ 902 mil de Marcos Valério

Procurador comprou 12 imóveis desde 2001

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes adquiriu, de 2001 até agora, 12 imóveis, no valor de R$ 7,23 milhões, conforme escrituras registradas em cartórios do Rio de Janeiro. Os registros obtidos pela Folha indicam apenas a aquisição, mas ele pode ter se desfeito de alguns desses bens no mesmo período.
Segundo dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Guedes recebeu repasses de dinheiro de Marcos Valério. O órgão identificou pelo menos R$ 902 mil de transferências em 2003, mas novos dados indicariam que ele pode ter recebido outros repasses de Valério.
O empresário, sócio em agências de publicidade, é investigado por supostamente ser um dos operadores do "mensalão".
Em 2003, entre os dias 2 e 8 de dezembro, o procurador adquiriu três imóveis, cujo valor somado é de R$ 1,92 milhão, segundo escrituras em cartórios do Rio. Nos outros anos, conforme a Folha apurou, Guedes também investiu no mercado imobiliário: foram R$ 207 mil em 2001, R$ 1,68 milhão em 2002, R$ 1,58 milhão em 2004 e R$ 1,83 milhão neste ano.
O rendimento médio mensal de Guedes como procurador da Fazenda Nacional é de R$ 9.000,00.
A Folha tentou localizar Guedes em um dos seus imóveis, na Barra da Tijuca, mas funcionários do condomínio afirmaram que ele tinha vendido o apartamento há menos de um mês, informação desmentida por uma vizinha. Nos cartórios do Rio, porém, o imóvel continua em seu nome.
Segundo o site de uma imobiliária responsável pelo empreendimento, um apartamento é vendido por R$ 1,2 milhão no local.

Afastamento
Guedes foi afastado do cargo em 30 de junho após a ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio, dizer que o procurador se encontrava com o publicitário. Ela disse que a conta do celular de Guedes era paga por uma das empresas de Valério, a SMPB.
O procurador também faz parte, desde 1998, do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, que julga em segunda instância os recursos de instituições financeiras contra multas aplicadas pelo Banco Central e pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários). Sua função era fazer pareceres sobres os recursos.
Além do afastamento, Guedes é alvo de uma sindicância. No dia 4, foram designados três procuradores para a comissão de processo disciplinar, que tem 60 dias para concluir apuração. Guedes também deve ser ouvido pela PF na próxima semana.
À CPI dos Correios, Valério disse anteontem que tinha apenas um relacionamento "esportivo" com o procurador. Em relação às passagens aéreas, Valério disse que o procurador apenas usava os serviços de sua secretária e que reembolsa suas despesas.
Na CPI, Valério negou que suas empresas tenham feito algum pagamento para o procurador.
O presidente da CPI, Delcídio Amaral, classificou como "muito grave" a informação de que Valério transferiu R$ 902 mil a Guedes. Segundo ele, Guedes deve ser convocado para depor em breve na CPI. Um requerimento de convocação foi apresentado ainda ontem por Antônio Carlos Magalhães Neto, mas não foi votado.

Outro lado
Guedes disse ontem ao "Jornal Nacional" que os R$ 902 mil se referem a uma conta única da família dele. O titular seria o seu pai, Ramon Prestes Guedes de Morais, e ele, o dependente. O procurador afastado da Fazenda disse ser apenas conhecido do publicitário Marcos Valério.


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