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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÕES
Rendimento médio mensal de Guedes na Fazenda Nacional é de R$ 9.000; dados do Coaf indicam que ele recebeu R$ 902 mil de Marcos Valério
Procurador comprou 12 imóveis desde 2001
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes adquiriu, de 2001 até agora, 12 imóveis, no valor de R$ 7,23 milhões,
conforme escrituras registradas
em cartórios do Rio de Janeiro. Os
registros obtidos pela Folha indicam apenas a aquisição, mas ele
pode ter se desfeito de alguns desses bens no mesmo período.
Segundo dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Guedes recebeu repasses de dinheiro de Marcos Valério. O órgão identificou pelo
menos R$ 902 mil de transferências em 2003, mas novos dados
indicariam que ele pode ter recebido outros repasses de Valério.
O empresário, sócio em agências de publicidade, é investigado
por supostamente ser um dos
operadores do "mensalão".
Em 2003, entre os dias 2 e 8 de
dezembro, o procurador adquiriu
três imóveis, cujo valor somado é
de R$ 1,92 milhão, segundo escrituras em cartórios do Rio. Nos
outros anos, conforme a Folha
apurou, Guedes também investiu
no mercado imobiliário: foram
R$ 207 mil em 2001, R$ 1,68 milhão em 2002, R$ 1,58 milhão em
2004 e R$ 1,83 milhão neste ano.
O rendimento médio mensal de
Guedes como procurador da Fazenda Nacional é de R$ 9.000,00.
A Folha tentou localizar Guedes
em um dos seus imóveis, na Barra
da Tijuca, mas funcionários do
condomínio afirmaram que ele tinha vendido o apartamento há
menos de um mês, informação
desmentida por uma vizinha. Nos
cartórios do Rio, porém, o imóvel
continua em seu nome.
Segundo o site de uma imobiliária responsável pelo empreendimento, um apartamento é vendido por R$ 1,2 milhão no local.
Afastamento
Guedes foi afastado do cargo em
30 de junho após a ex-secretária
de Valério, Fernanda Karina Somaggio, dizer que o procurador se
encontrava com o publicitário.
Ela disse que a conta do celular de
Guedes era paga por uma das empresas de Valério, a SMPB.
O procurador também faz parte, desde 1998, do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, que julga em segunda instância os recursos de instituições
financeiras contra multas aplicadas pelo Banco Central e pela
CVM (Comissão de Valores Imobiliários). Sua função era fazer pareceres sobres os recursos.
Além do afastamento, Guedes é
alvo de uma sindicância. No dia 4,
foram designados três procuradores para a comissão de processo disciplinar, que tem 60 dias para concluir apuração. Guedes
também deve ser ouvido pela PF
na próxima semana.
À CPI dos Correios, Valério disse anteontem que tinha apenas
um relacionamento "esportivo"
com o procurador. Em relação às
passagens aéreas, Valério disse
que o procurador apenas usava os
serviços de sua secretária e que
reembolsa suas despesas.
Na CPI, Valério negou que suas
empresas tenham feito algum pagamento para o procurador.
O presidente da CPI, Delcídio
Amaral, classificou como "muito
grave" a informação de que Valério transferiu R$ 902 mil a Guedes. Segundo ele, Guedes deve ser
convocado para depor em breve
na CPI. Um requerimento de convocação foi apresentado ainda
ontem por Antônio Carlos Magalhães Neto, mas não foi votado.
Outro lado
Guedes disse ontem ao "Jornal
Nacional" que os R$ 902 mil se referem a uma conta única da família dele. O titular seria o seu pai,
Ramon Prestes Guedes de Morais, e ele, o dependente. O procurador afastado da Fazenda disse
ser apenas conhecido do publicitário Marcos Valério.
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