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Amante de torturador e senador teriam revelado a causa da morte de Herzog
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo dos EUA recebeu
duas informações sobre as circunstâncias da morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida
em outubro de 1975 numa cela
do DOI-Codi, em São Paulo,
que eram desconhecidas, até a
semana passada, pela própria
família do jornalista. Os dados
aparecem nos telegramas enviados pelo serviço diplomático
americano a Washington.
Numa de suas conversas com
o cônsul americano em SP, Frederick Chapin, dom Paulo Evaristo Arns revelou ter ouvido do
então senador Magalhães Pinto, defensor dos militares, que
de fato Herzog fora morto em
meio a torturas, e não cometera
suicídio, ao contrário da versão
difundida pela ditadura à época
e contestada por investigações
posteriores. Além disso, d. Paulo contou ter ouvido de "uma
fonte jornalística" que a amante do "principal torturador" de
Herzog também lhe teria confidenciado que o jornalista morreu sob tortura.
A viúva do jornalista, Clarice
Herzog, disse à Folha que nunca soube que Magalhães Pinto
detinha informações desse tipo. "Isso não foi divulgado,
nem na época nem depois. Se
existisse isso na época, seria
importantíssimo", disse.
"O cardeal arcebispo, por outro lado, afirma que no dia após
a morte de Herzog recebeu (de
uma fonte jornalística que chegara por meio de uma amante
do torturador principal de Herzog) um relato segundo o qual
Herzog teria sido morto em decorrência das torturas que sofrera. Ademais, o senador Magalhães Pinto confidenciara a
d. Paulo que ele (e presumivelmente o presidente Geisel também) tinham recebido informações semelhantes quanto à
causa da morte", escreveu Chapin, num telegrama repassado
a Washington pelo embaixador
americano em Brasília, John
Hugh Crimmins.
Herzog apareceu morto após
ter sido preso e, segundo testemunhas, torturado a fim de esclarecer suposta "infiltração de
comunistas" na TV Cultura de
SP, onde trabalhava. Sua morte
foi um divisor de águas na
questão dos direitos humanos
e, segundo estudiosos, apressou a abertura política.
Dois telegramas registram
que os americanos dialogavam
com o então governador de SP,
Paulo Egydio Martins (1975-1979), tido como parceiro de
Geisel no processo de distensão política e supostamente adversário da "linha dura" do
Exército. Segundo um telegrama, Martins fez a seguinte descrição sobre os militares que
discordavam da abertura política: "Os jovens oficiais são
profundamente "anticomunistas", mas suas idéias são marxistas. Eles querem intervir na
vida nacional. Querem fechar a
Universidade de São Paulo
quando houver algum problema."
(RV)
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