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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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MEMÓRIA

Presidente minimiza suas divergências com Roberto Marinho, que apoiou Collor em 1989 e FHC em 1994 e 1998

No velório, Lula elogia "homem de vanguarda"

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chefiou uma delegação de autoridades em viagem ao Rio para o velório de Roberto Marinho. Lula, que enfrentou a oposição explícita de Marinho em três das quatro eleições presidenciais que disputou, minimizou as divergências políticas com o empresário e o qualificou como "grande homem" e "homem de vanguarda" no campo das comunicações.
O presidente foi ao velório acompanhado dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney, e de cinco ministros. Ao chegar à casa de Roberto Marinho, no Cosme Velho, Lula cumprimentou a viúva, Lili Marinho, e permaneceu ao lado do caixão enquanto d. Eugenio Sales, arcebispo emérito do Rio, rezava a missa de corpo presente.
"Eu acho que a gente não mede as pessoas por divergências políticas. A gente mede pela importância que as pessoas tiveram naquilo que se propuseram a fazer, e o dr. Roberto Marinho foi inegavelmente um dos maiores homens de comunicação da história deste país", disse. Afirmou ainda que não tinha dúvida nenhuma de que os filhos de Marinho saberiam "tocar as Organizações Globo com grande competência."
O presidente chamou de "grandes momentos" os dois encontros pessoais que teve com Roberto Marinho. Um deles foi em Paris, quando discutiram as eleições de 1989, e o outro no Rio, quando conversaram sobre o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Os dois encontros foram marcados pela "sinceridade", disse Lula.
"Eu acho que os dois momentos foram importantes porque conhecendo melhor as pessoas é que a gente pode analisar o que leva as pessoas a tomarem as grandes decisões. Por isso eu acho que o Brasil perde hoje um grande homem", afirmou.
Nas eleições de 1989, Lula foi derrotado por Collor, candidato apoiado por Marinho. Na edição do "Jornal Nacional" sobre o último debate entre os dois, a Rede Globo foi francamente favorável a Collor, que recebeu um minuto e 12 segundos a mais de tempo de exposição. Em 1994 e 1998, Marinho apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
O presidente, que decretou anteontem três dias de luto oficial, permaneceu 22 minutos na casa de Marinho, onde foi realizado o velório. Chegou acompanhado do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney.
No enterro, Lula foi representado pelo vice-presidente José Alencar. O presidente normalmente não comparece a enterros, considerados atos íntimos da família, devido ao tumulto causado pelo aparato presidencial. Alencar disse que "Roberto Marinho foi um homem adiante do seu tempo. Sintonizado com o futuro, edificou uma obra que colocou o país afinado com a modernidade".
Lula decidiu viajar ao Rio ontem pela manhã e a comitiva e o avião precisaram ser rapidamente preparados para o embarque, por volta de meio-dia. Diversos parlamentares também viajaram com Lula, que estava de volta ao Planalto às 18h. Ele desmarcou reuniões internas e uma audiência.
Outros ministros que viajaram com Lula -Ciro Gomes (Integração Nacional), Miro Teixeira (Comunicações), Gilberto Gil (Cultura) e Cristovam Buarque (Educação)- chegaram depois ao velório. A ministra Benedita da Silva (Assistência Social), também presente, já estava no Rio.
Por poucos minutos, Lula não se encontrou com seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, no velório. FHC atrasou uma viagem ao Chile para homenagear Marinho, que segundo ele se expressava com "simplicidade" e "ternura". "Eu não podia deixar de vir aqui para dar o meu pleito de amizade. Eu não estou aqui como ex-presidente, estou como pessoa", disse FHC. Questionado sobre Lula, declarou: "Não o vi. Se eu o visse, choraríamos juntos". (LS e FE)


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