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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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EMPRESAS

Conglomerado tem mais da metade da receita publicitária do país; Globopar tenta reestruturar dívida de US$ 1,3 bi

Globo fatura R$ 4,5 bi e emprega 20 mil

ELVIRA LOBATO
CHICO SANTOS

DA SUCURSAL DO RIO

Um documento das Organizações Globo apresentado ao mercado financeiro internacional em 2002 dá a dimensão do império de comunicação construído por Roberto Marinho. O grupo absorveu 52% de toda a receita publicitária do mercado brasileiro em 2001 (US$ 4,2 bilhões), o que representou cerca de US$ 2,18 bilhões.
A presença manteve-se nos mesmos patamares deste então. De acordo com levantamento do projeto Inter-Meios, da publicação "Meio e Mensagem", o mercado publicitário brasileiro somou cerca de R$ 9,5 bilhões em 2002, dos quais 60% foram para as emissoras de televisão e TVs pagas. Calcula-se que a Globo e suas afiliadas ficaram com entre 60% e 65% da verba total direcionada para as TVs.
O conglomerado de mídia emprega hoje 20 mil profissionais e fatura R$ 4,5 bilhões por ano. É um dos maiores grupos de comunicação do mundo.
O pilar principal do grupo é a TV Globo, surgida em 1965 com o canal 4 no Rio de Janeiro. A concessão do canal foi outorgado à família pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1957, e levou oito anos para ir ao ar.
Hoje, a Globo cobre praticamente todo o território nacional. Com uma rede formada por 115 emissoras geradoras e afiliadas, é vista em 99,84% dos 5.043 municípios. A empresa calcula que concentra, no momento, 69% da audiência no horário nobre e 75% do total das verbas publicitária no mercado de TV aberta, com transmissão gratuita.
Até o ano passado, o peso da Rede Globo podia ser medido também pelo número de concessões de emissoras de televisão que ela detinha. A família Marinho chegou a acumular participações acionárias em 32 emissoras de TV, mas a crise financeira obrigou-a a rever esta política.
No ano passado, o grupo colocou 27 emissoras à venda. Segundo as Organizações Globo, 21 emissoras já foram transferidas para terceiros e as outras seis estão em fase final de negociação de venda. As cinco emissoras mantidas são consideradas a espinha dorsal da rede (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Brasília).

Mídia impressa
Nos últimos cinco anos, as Organizações Globo avançaram também sobre o mercado de mídia impressa. Em 1998, a família Marinho surpreendeu com o lançamento quase simultâneo do jornal "Extra", no Rio de Janeiro, e da revista "Época", em São Paulo. Os dois lançamentos consumiram investimentos estimados na ocasião em R$ 100 milhões.
Em 2000, o grupo lançou, em sociedade com a Empresa Folha da Manhã S.A (que edita a Folha), o jornal "Valor Econômico", com investimento conjunto de US$ 50 milhões.
Em 2001, comprou o "Diário Popular", que pertencia ao ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Mudou o título para "Diário de S. Paulo".
O pilar do grupo no segmento de mídia impressa continua sendo "O Globo", lançado em 29 de julho de 1925 por Irineu Marinho. Segundo o IVC, é o segundo maior jornal do país (a liderança pertence à Folha) e teve uma circulação média diária de 254.386 exemplares em junho.

Sucessão
As Organizações Globo estão preparadas há cinco anos para a falta de Roberto Marinho. Segundo analistas, a morte do empresário não deverá provocar alterações na rotina da conglomerado, porque a divisão de poder entre os herdeiros foi estabelecida em uma reestruturação feita em 1998.
Na época, os herdeiros Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho deixaram as funções executivas e passaram a se dedicar às ações estratégicas. Roberto Marinho ficou como presidente do grupo e os filhos assumiram as três vice-presidências criadas.
A mudança, segundo explicações da época, buscou diferenciar a empresa da estrutura tradicional familiar, deixando a gestão executiva para profissionais.
A estrutura montada em 98 mantém-se até hoje. No ano passado, o grupo esboçou uma reestruturação mais ampla, criando a Globo S.A. A nova holding passaria a controlar as emissoras de rádio, televisão e jornais que, por força da lei, eram mantidas como empresas isoladas.
A crise financeira na qual o grupo já estava mergulhado abortou o projeto. Quatro meses depois de os herdeiros de Roberto Marinho anunciarem a criação da Globo S.A., a holding Globopar -que detém a participação acionária na Net Serviços, ex-Globo Cabo - comunicou a suspensão do pagamento de sua dívida (de US$ 1,365 bilhão), dando início a uma longa, e ainda inconclusa, renegociação com credores.
Na sequência, a Net Serviços se viu obrigada também a suspender o pagamento de suas dívidas, por incapacidade financeira de honrar os compromisso.

A crise do império
Na estratégia de diversificação das atividades do grupo, iniciada nos anos 90, está a origem da crise financeira. A diversificação começou com a entrada no mercado de TV a cabo, inicialmente com participações minoritárias e, depois, assumindo o controle acionário das operações.
Na época, a avaliação dos especialistas era que o mercado brasileiro atingiria 6 milhões de assinantes de TV paga no ano 2000. A Globo Cabo (hoje Net), esperava chegar a 2001 com 3,5 milhões de assinantes. Hoje ela tem 1,3 milhão.
A expansão da rede da Net foi financiada com recursos captados no exterior. As sucessivas crises cambiais brasileiras e a queda de poder aquisitivo da população atingiram em cheio o projeto. De 1996 a 2002, a Net Serviços acumulou R$ 3 bilhões de prejuízos.
A situação da empresa só não é pior graças a um esforço de capitalização feito em 2002 que contou com a ajuda estatal do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A participação do banco no capital da empresa saltou de aproximadamente 4% para 22,1%.
No primeiro trimestre deste ano a empresa conseguiu obter lucro (R$ 42,8 milhões), atribuído basicamente ao efeito do movimento de valorização do real em relação ao dólar registrado este ano.
A Globopar, principal holding do grupo, apresentou no ano passado prejuízo de R$ 5 bilhões. A cifra é maior que os lucros somados do Bradesco e do Itaú, os dois maiores bancos privados do país no mesmo período (R$ 4,2 bilhões).


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