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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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TELEVISÃO

"Nosso companheiro"

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois mantras pontuaram o discurso de apresentadores e entrevistados ao longo do noticiário sobre a morte de Roberto Marinho apresentado desde a noite de quarta pela TV Globo e, em versão estendida, pela Globo News.
O primeiro foi a descrição do presidente das Organizações Globo como um "jornalista acima de qualquer outra qualificação". A idéia, cultivada em vida pelo próprio personagem da notícia, ganhou variantes como "jornalista maior que o empresário" e, nas palavras de mais de um apresentador, "nosso companheiro, jornalista Roberto Marinho".
O segundo mantra foi a observação de que o biografado, "homem à frente de seu tempo" e dotado de "fôlego de jovem", criou a Rede Globo quando já tinha mais de 60 anos, "idade em que as pessoas pensam em se aposentar" -na rádio CBN, pertencente ao grupo, a comentarista Miriam Leitão aproveitou a deixa para fustigar servidores públicos contrários à reforma da Previdência.
Em regra, obituários de pessoas importantes tendem à santificação. Como Roberto Marinho foi bem mais do que importante, não era de esperar que sua própria TV se contivesse nos elogios.
Ainda assim, os homens e mulheres de preto espalhados pela grade de programação se excederam um pouco. No "Bom Dia Brasil", Alexandre Garcia chegou a prever que os "representantes do povo" suspenderiam ontem suas "divergências [sobre as reformas] em nome da unanimidade" em torno do dono da Globo.
Suspensas ou não as divergências, a repercussão da notícia reuniu políticos dos mais variados matizes, amalgamados, no "Jornal Nacional", com empresários, intelectuais e principalmente artistas. Do presidente da República à protagonista da "novela das oito", boa parte do Brasil que o telespectador reconhece desfilou ontem pela cobertura, o que diz bastante sobre o significado nacional da Globo e de seu criador.
Cabe observar ainda que, na noite de quarta-feira, a emissora deixou a impressão de ter sido quase tão surpreendida quanto o restante da mídia pelos acontecimentos. Ana Paula Padrão atrapalhou-se na primeira entrada, levada ao ar no intervalo do jogo. Mais tarde, o pré-gravado Jô Soares abriu seu programa com piadas sobre a tradição dos minutos de silêncio -pouco antes, os jogadores haviam feito um em homenagem a Roberto Marinho.


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