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TELEVISÃO
"Nosso companheiro"
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois mantras pontuaram o discurso de apresentadores e entrevistados ao longo do noticiário
sobre a morte de Roberto Marinho apresentado desde a noite de
quarta pela TV Globo e, em versão estendida, pela Globo News.
O primeiro foi a descrição do
presidente das Organizações Globo como um "jornalista acima de
qualquer outra qualificação". A
idéia, cultivada em vida pelo próprio personagem da notícia, ganhou variantes como "jornalista
maior que o empresário" e, nas
palavras de mais de um apresentador, "nosso companheiro, jornalista Roberto Marinho".
O segundo mantra foi a observação de que o biografado, "homem à frente de seu tempo" e dotado de "fôlego de jovem", criou a
Rede Globo quando já tinha mais
de 60 anos, "idade em que as pessoas pensam em se aposentar"
-na rádio CBN, pertencente ao
grupo, a comentarista Miriam
Leitão aproveitou a deixa para
fustigar servidores públicos contrários à reforma da Previdência.
Em regra, obituários de pessoas
importantes tendem à santificação. Como Roberto Marinho foi
bem mais do que importante, não
era de esperar que sua própria TV
se contivesse nos elogios.
Ainda assim, os homens e mulheres de preto espalhados pela
grade de programação se excederam um pouco. No "Bom Dia
Brasil", Alexandre Garcia chegou
a prever que os "representantes
do povo" suspenderiam ontem
suas "divergências [sobre as reformas] em nome da unanimidade" em torno do dono da Globo.
Suspensas ou não as divergências, a repercussão da notícia reuniu políticos dos mais variados
matizes, amalgamados, no "Jornal Nacional", com empresários,
intelectuais e principalmente artistas. Do presidente da República
à protagonista da "novela das oito", boa parte do Brasil que o telespectador reconhece desfilou
ontem pela cobertura, o que diz
bastante sobre o significado nacional da Globo e de seu criador.
Cabe observar ainda que, na
noite de quarta-feira, a emissora
deixou a impressão de ter sido
quase tão surpreendida quanto o
restante da mídia pelos acontecimentos. Ana Paula Padrão atrapalhou-se na primeira entrada, levada ao ar no intervalo do jogo.
Mais tarde, o pré-gravado Jô Soares abriu seu programa com piadas sobre a tradição dos minutos
de silêncio -pouco antes, os jogadores haviam feito um em homenagem a Roberto Marinho.
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