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STF abre inquérito criminal e quebra sigilo fiscal de Renan
Receita informará a movimentação financeira do senador nos últimos sete anos
Não foi fixado prazo para o envio das informações; se entender que há indícios de crime, procurador-geral denunciará senador ao STF
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski determinou ontem
a quebra do sigilo fiscal e da
movimentação financeira do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), a partir
do ano 2000, ao abrir inquérito
criminal para investigá-lo.
Lewandowski também ordenou ao Senado que envie cópia
das representações existentes
contra Renan. Após receber as
informações do Senado e da
Receita Federal, ele as encaminhará ao procurador-geral da
República, Antonio Fernando
de Souza, que decidirá os passos seguintes da investigação.
A Receita Federal informará
tanto as declarações de renda
como a movimentação financeira do senador nos últimos
sete anos a partir do recolhimento da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira). Essa espécie
de quebra de sigilo bancário
não permite acesso a dados sobre depósitos e transferências.
Quebra mais ampla
Renan já havia entregue espontaneamente ao Conselho
de Ética do Senado cópia das
declarações de renda posteriores a 2004 e da movimentação
de uma conta no Banco do Brasil desde 2003. A quebra dos sigilos ordenada pelo STF é mais
ampla. Ela atinge o período a
partir de 2000 e todas as contas
bancárias em nome de Renan
para ver se houve movimentação financeira e enriquecimento incompatíveis com a renda.
Não foi dada uma explicação
sobre o motivo da data.
Anteontem, Antonio Fernando solicitou ao STF a abertura do inquérito e a adoção das
providências, e o tribunal designou Lewandowski relator do
caso. O ministro apreciou o pedido do procurador-geral ontem e o aprovou integralmente.
No pedido, Antonio Fernando não especificou que crimes o
senador pode ter praticado,
mas descreveu as acusações
contra ele, sobretudo a suspeita
sobre a origem do dinheiro usado para pagamento de pensão
mensal à filha que teve fora do
casamento com a jornalista
Mônica Veloso, de R$ 12 mil.
O ministro disse que a investigação poderá ser ampliada se
surgirem novos fatos. "A qualquer momento, o procurador-geral poderá aditar o pedido. Se
[novos fatos] estiverem relacionados com os já em apuração,
ele poderá aproveitar o mesmo
inquérito. Caso contrário, poderá pedir a abertura de outro."
Ele descartou o risco de Renan utilizar a condição de presidente do Senado para dificultar ou retardar o envio da cópia
das representações em curso
contra ele. "Não creio. O Conselho de Ética é que vai fornecer as informações."
Lewandowski lembrou que,
há um mês, o próprio senador
pediu a investigação a Antonio
Fernando e apresentou documentos. "O procurador-geral
fez alusão a esse fato [na petição ao STF]. Não creio que haja
nenhum empecilho."
O ministro disse que determinou segredo de Justiça na
tramitação do inquérito porque [a documentação relativa à
quebra dos sigilos] "abre espaço na privacidade da pessoa".
Não foi fixado prazo para que
o envio das informações pelo
Senado e pela Receita. Após recebê-las, Lewandowski as mandará a Antonio Fernando.
Se entender que há indícios
suficientes de prática de crime,
o procurador-geral oferecerá
ao STF denúncia contra Renan
-o pedido de instauração da
ação penal. Se a denúncia for
recebida pelos 11 ministros do
tribunal, o senador passará à
condição de réu.
Caso não se convença da
ocorrência de crime, Antonio
Fernando pedirá o arquivamento ou indicará apurações
complementares. Anteontem,
ele disse que essa investigação
independe do processo por
quebra de decoro parlamentar,
no Conselho de Ética, e pode
correr paralelamente.
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