São Paulo, quarta-feira, 08 de agosto de 2007

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Lula diz que "caso individual" não pode atrapalhar Senado

É a primeira declaração após a abertura pelo Supremo de um inquérito criminal contra o senador Renan Calheiros

Em Honduras, presidente argumenta que, "por mais importante que seja", nada pode paralisar votação de temas de interesse do país

Alan Marques/Folha Imagem
Lula é cumprimentado pelo colega Daniel Ortega, em Manágua


LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Na primeira declaração pública desde que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) passou a ser alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que irá intervir caso as investigações paralisem o Senado e disse que nenhum caso individual, "por mais importante que seja", pode atrapalhar a votação de temas de interesse do país. As declarações foram dadas durante entrevista coletiva em Tegucigalpa (Honduras), segundo destino de uma visita a cinco países da região.
Questionado se há preocupação em relação à agenda no Congresso, já que a oposição ameaça obstruir a pauta de votação no Senado se Renan ficar no cargo, Lula afirmou que, até domingo passado, quando saiu do Brasil rumo ao México e à América Central, o Senado e a Câmara tinham votado "as coisas que entendíamos que deveriam votar".
O presidente afirmou que atrasos em votações acontecem por "n" fatores. "Regressando ao Brasil, se eu descobrir e os ministros que ficaram lá me afirmarem que o Senado está atrasando alguma votação, irei me reunir com a liderança do governo no Senado, com a liderança dos partidos políticos e pedir para eles que nenhum caso individual, por mais importante que seja, pode atrapalhar a votação de temas de interesse do país. É isso", acrescentou o presidente, imediatamente aplaudido pela platéia de hondurenhos convidada ao evento.
Lula lembrou que Renan está sendo investigado há muito tempo - "afinal de contas faz dois meses que não se fala em outra coisa a não ser na investigação que se faz da vida do senador". O presidente também disse que é preciso aguardar uma posição ou do Conselho de Ética do Senado, que investiga o caso há dois meses, ou do Supremo Tribunal Federal. Fora disso, complementou, "vamos viver com especulações até que este caso termine".
Evitando se posicionar sobre o futuro de Renan, ainda disse que "um presidente da República, por mais importante que seja, não dá palpite sobre o que vai acontecer na Suprema Corte". Foi novamente aplaudido pelos hondurenhos. Ao longo da crise de Renan, Lula evitou comentar o caso publicamente. No final do mês de junho, na primeira aparição pública ao lado do presidente do Senado após o surgimento das denúncias, afirmou que é preciso ter o cuidado de "evitar que pessoas sejam execradas publicamente antes de serem julgadas".
Renan vive um calvário político desde que surgiram suspeitas de que ele se utilizou de serviços de um lobista para pagar contas pessoais. O principal alvo da oposição, que cobra no Senado investigação há dois meses, e agora do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, é descobrir a origem do dinheiro que pagava as despesas de Renan com uma filha que teve fora do casamento. A abertura de inquérito penal piorou ainda mais a situação do senador. Nos bastidores, Lula compartilha com assessores o temor de que o caso Renan dificulte a aprovação da prorrogações da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e da DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumentos fundamentais para fechar as contas públicas, e que precisam ser aprovados ainda este ano.

Os jornalistas LETÍCIA SANDER e ALAN MARQUES viajaram nos trechos México-Honduras e Honduras-Nicarágua em avião da Força Aérea Brasileira em razão da falta de vôos comerciais em tempo hábil para a cobertura


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