São Paulo, quarta-feira, 08 de agosto de 2007

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No plenário, Renan discute com líder do DEM e ataca revista

Senador troca cadeira da presidência pela tribuna ao fazer discurso que acaba em clima tenso após ameaça de obstrução

Alagoano troca ataques com colega e afirma que acusações são alimentadas por Heloísa Helena e João Lyra, seus adversários locais

SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mais tenso embate com a oposição desde o estouro das denúncias que enfrenta, o senador Renan Calheiros discutiu e fez ameaças em plenário ao líder do DEM, José Agripino Maia (RN), e atacou adversários e o Grupo Abril, que publica a revista "Veja".
Orientado por aliados, Renan fez um gesto simbólico ao descer da cadeira de presidente do Senado, pela primeira vez, para discursar da tribuna. De lá, replicou: "Não me envergonho, sabem por quê? Porque sei o que faço, sei o que fiz".
O pronunciamento, mais uma vez, gerou manifestações da oposição para que ele se licenciasse da presidência. Mas a reação de Renan foi diferente. Após ouvir de Agripino que a oposição faria obstrução às votações enquanto ele não saísse do cargo, Renan retrucou.
"Se estivesse nessa situação, com os negócios que tem, com as concessões que tem, com os financiamentos bancários e estatais, talvez não agüentasse duas semanas de acusação como tenho agüentado", disse. Na prática, tornou públicas ameaças que vinha fazendo nos bastidores. Agripino reagiu com o dedo em riste: "Que débitos? Onde é que existe algum pecado? Se tem, Vossa Excelência tem a obrigação de dizer".
Após a discussão, o clima no Senado ficou tenso. "A estratégia é exacerbar e o clima ficou incompatível com a Casa", disse o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).
O pronunciamento de Renan, que precedeu o bate-boca, durou 18 minutos e foi acompanhado por 20 senadores. A fala começou com uma queixa: "Há mais de dois meses venho sendo vítima de um impiedoso e irresponsável ataque que já se transformou em campanha".
Em seguida, o tom de desabafo deu lugar a ataques em série. O primeiro deles foi aos rivais alagoanos, a ex-senadora Heloísa Helena e o ex-deputado João Lyra (PTB). Heloísa é presidente do PSOL, autor da representação que deu origem ao processo no Conselho de Ética. Lyra foi o candidato derrotado, com o apoio de Renan, por Teotônio Vilela (PSDB) ao governo de Alagoas, na eleição de 2006.
"Sou agredido diariamente por sistemáticas ignomínias, perfídias, insídias, originadas da briga política paroquial e alimentadas por derrotados rancorosos como João Lyra e Heloísa Helena, que, desesperadamente, tentam reinserção política nacional", disse.
"Imaginem o futuro deste Congresso se cada derrotado político conseguir transformar seu ressentimento em pseudo-escândalo, em representações?", completou.
Renan criticou as duas representações -a do PSOL que está em curso, e a feita em parceria pelo DEM e pelo PSDB. Sobre a primeira, originada a partir das denúncias da jornalista Mônica Veloso, classificou como "tentativa de criar a falta de decoro familiar". Da segunda, disse ser "rabiscada em guardanapos".
O próximo alvo foi o Grupo Abril, a quem acusou de ter feito "negócios ocultos", de "interesses secretos". "[É] um escândalo de interesse nacional e que estou mandando para o Ministério Público apurar."
O senador acusou a editora de "fraude" na negociação da TVA com a Telefônica. "A transação é uma fraude e fere o interesse nacional", disse. "Isso, sim, deveria despertar o pendor investigativo do Senado, responsável pelas concessões. Deveria aguçar o papel fiscalizador de toda a mídia, da livre concorrência. É um escândalo de quem vive a apontar o dedo para os Poderes constituídos."
Ele também prometeu entrar com processos na Justiça contra a revista "Veja". "É a mesma Veja que vem enxovalhando a honra de pessoas sem comprovar suas falsas denúncias. Elas sempre carecem de prova [...] que nunca aparece. Onde estão as provas dos dólares de Cuba? O envolvimento das Farc com o MST? A prova de que o presidente Lula seria o sujeito oculto de organizações criminosas?", disse, citando algumas reportagens da revista.


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