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ANÁLISE
Em Roma, o decorum no Senado era tudo
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O Senado é uma criação
romana de 2.700 anos. Ao
vermos um senador contemporâneo falar em decoro, falta de decoro e quebra de decoro, lembramos dos pais da
Pátria romanos. Parecem-se,
mas as parecenças enganam.
Para um cidadão romano
do período republicano (que
termina quando César é assassinado justamente na antessala do Senado), a auctoritas, a autoridade, era tudo,
e os senadores a encarnavam. Os senadores romanos
representavam o Estado; de
certa maneira, eles eram o
Estado e, por extensão,
eram Roma.
Um senador romano descendia das famílias que haviam (mitologicamente)
fundado a cidade, os Julios,
os Cláudios, os Flávios etc.
Eram os Pais Fundadores da
Pátria. A cidade não era nada
sem eles, e eles não significavam nada sem Roma. Seu
poder (que era imenso) derivava dessa auctoritas. E ela
exigia decorum, comportamento apropriado, equilíbrio, estilo.
A autoridade de um senador derivava da capacidade
que ele tinha de representar
bem o bem comum, que para
um romano do período republicano significava basicamente evitar os excessos,
não avançar o sinal, conhecer o seu lugar.
Exagerar era um erro, não
ficava bem. O que diriam os
outros? Em uma sociedade
austera como era a Roma republicana, o fausto era visto
com maus olhos. Era gente
simples, pelo menos se achava assim. Ninguém invocaria
a posse de um jatinho, ou
moveria os olhos esbugalhados, em um esgar de ódio. O
Senado era um palco, de atores que representavam as
virtudes romanas: a moderação, o equilíbrio, o autocontrole, o respeito à tradição e
aos costumes ancestrais.
Nada mais distante disso
do que o Brasil moderno.
Numa sociedade do excesso
e da superabundância, o decorum romano não teria lugar. Mas o que diriam os outros? Provavelmente, nada.
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