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INVESTIGAÇÃO
Ex-prefeito informou Justiça sobre suposta extorsão 20 dias depois de depoimento de testemunha que o comprometeu
Maluf só denunciou doleiro após ser acusado
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do que Paulo Maluf (PP) tem afirmado para se defender da prisão preventiva pedida pela Polícia Federal, o ex-prefeito só denunciou ser vítima de
uma suposta chantagem 20 dias
após ser acusado formalmente
pelo doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, de remeter dinheiro para o
exterior de forma ilegal.
No dia 27 de julho, advogados
do ex-prefeito comunicaram à
Justiça Federal uma suposta tentativa de extorsão por parte do
doleiro, que teria exigido US$ 5
milhões para não citar Maluf no
depoimento dele à PF. Como o
valor não foi pago, a defesa queria
fazer um alerta sobre eventuais
acusações de Birigüi.
O primeiro depoimento do doleiro à PF, no entanto, foi em 7 de
julho. Neste dia, Birigüi relatou às
autoridades que Maluf e o filho
Flávio movimentaram milhões de
dólares por meio da conta Chanani no Safra National Bank de Nova York (EUA). Disse ainda que
pagou contas no exterior por determinação de Flávio.
O doleiro voltou a ser ouvido no
dia 2 de agosto, quando detalhou
as operações de envio de dinheiro
para o exterior.
Nas interceptações das ligações
dos celulares de Maluf e do filho
Flávio, entre junho e agosto, o Ministério Público vê indícios de que
os dois já sabiam do primeiro depoimento e tentaram impedi-lo.
Em junho, antes do primeiro
depoimento de Birigüi à polícia,
Flávio telefonou pelo menos três
vezes para o doleiro, a quem convidou para uma conversa.
Num dos diálogos gravados,
Flávio, após referir-se ao doleiro
como "amigo", pediu a ele que
não se esquecesse da conversa
que tiveram. "Garanto o que nós
conversamos, e a forma, entendeu? É o melhor para você. Te garanto. Te garanto. Você entendeu? Confia em mim, tenho certeza do que eu tô falando."
Num outro diálogo, desta vez
com Maluf, Flávio disse qual deveria ser a orientação para o doleiro. "Entra mudo e sai calado".
Ao advogado criminalista José
Roberto Leal, o ex-prefeito perguntou: "O cara já depôs?". Diante da negativa, Maluf continuou:
"Então, como é que vai controlar
isso?". "Olha, a forma é outra, eu
não sei ainda", disse Leal.
Em outro momento, Flávio perguntou ao pai se "ele foi lá". Maluf
respondeu: "Acho que foi. Não temos a informação correta, mas é
bom você não se mexer. Eu acredito que todos os telefones dele
devem estar "assessorados", viu?
Se você falar com ele, esse canalha
é capaz de gravar de prova que é
teu amigo".
Foi por conta das conversas gravadas que a polícia pediu a prisão
preventiva de Maluf, do filho e do
ex-prefeito Celso Pitta (sem partido). Para a polícia, a medida é necessária porque é "inegável o tráfico de influência" e o "poder de
intimidação" dos acusados.
O Ministério Público e a PF
acreditam que o dinheiro remetido ao exterior foi desviado de
obras públicas na gestão de Maluf
na Prefeitura de São Paulo (1993-1996) e na de Pitta (1997-2000).
Maluf não negou o teor das conversas, mas disse que estão fora
do contexto. Afirmou que não
conversou com o filho sobre o doleiro, mas sobre assuntos pessoais
ou da empresa Eucatex.
Testemunha ou réu
Advogados do ex-prefeito entregaram à Justiça uma defesa
prévia contra o pedido de prisão
preventiva de Maluf e de Flávio. O
documento só será analisado
após o Ministério Público formalizar o pedido de prisão -o que
pode ocorrer nos próximos dias.
Na defesa, os advogados criminalistas José Roberto Batochio e
José Roberto Leal dizem que Maluf e Flávio não podem ser acusados de cooptação de testemunhas,
pois Birigüi é réu confesso -assumiu a movimentação ilegal de
dinheiro no exterior.
Batochio afirmou que, em tese,
os réus de uma mesma ação penal
podem conversar para acertar
uma defesa conjunta. "Não é esse
o caso, mas é uma tese válida."
O Ministério Público, no entanto, concedeu delação premiada a
Birigüi, que foi classificado como
testemunha contra Maluf. O benefício prevê a redução de pena
somente se as informações prestadas forem corretas, mas sua
aplicação dependerá da Justiça.
Documentos bancários do Safra
National Bank de Nova York confirmaram os depósitos denunciados por Birigüi. Os papéis foram
obtidos em março deste ano pelo
promotor Sílvio Marques e pelo
procurador Pedro Barbosa, que
viajaram aos EUA e receberam
cerca de 8.000 documentos do
promotor distrital Adam Kaufmann por ordem da Suprema
Corte do Estado de Nova York.
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