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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Corrente da Assembléia de Deus pedirá votos para Lula
Líder da Convenção Nacional da igreja orientará pastores a pedir a fiéis apoio a presidente
Para driblar restrições legais à campanha em cultos, apologia a petista deverá ocorrer em reuniões e cartas de representantes da igreja
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Lideranças evangélicas vão
pedir votos em igrejas em defesa da candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à
reeleição. O líder da Convenção
Nacional das Assembléias de
Deus no Brasil (Ministério de
Madureira) e presidente do
Conselho Nacional de Pastores
do Brasil, Manoel Ferreira, disse ontem à Folha que a entidade vai pedir aos fiéis da igreja
para votar em Lula.
A atividade política é proibida pela Justiça Eleitoral em
cultos religiosos. A Igreja Universal do Reino de Deus, outra
evangélica com atuação política, já apóia Lula.
"Recomendamos o apoio, os
pastores levam a palavra [para
os fiéis]. Geralmente eles estão
três vezes por semana com os
fiéis do país e já falam com os
fiéis que a direção se manifestou favorável [ao apoio a Lula].
É mais ou menos por aí."
Lula estará hoje em Santa
Cruz, zona oeste do Rio, para
formalizar o apoio dos líderes
da Assembléia de Deus.
Segundo Manoel Ferreira, a
igreja "vai manifestar apoio e
recomendar o voto em Lula aos
fiéis". "Apenas recomendamos,
mas o voto é livre", disse.
A "decisão definitiva" de aderir à campanha de Lula foi tomada pela Assembléia de Deus
na segunda, mas o presidente
receberá oficialmente o apoio
amanhã, durante convenção
brasileira que reúnirá cerca de
2.500, pastores de todo o país
no Rio e vai de hoje a domingo.
Correntes
A Convenção Nacional é uma
das duas grandes correntes da
Assembléia de Deus, que congrega 9 milhões de fiéis, 22 mil
pastores e é a maior pentecostal do país. O outro ramo, a
Convenção Geral, com cerca da
metade do total de fiéis, está
com o principal rival de Lula,
Geraldo Alckmin (PSDB), mas
cogita desistir do apoio ao tucano.
A Assembléia de Deus detém
um terço (21) dos 63 integrantes da bancada evangélica no
Congresso Nacional -60 deputados e três senadores. Treze
deputados e o senador Magno
Malta (66% dos representantes
da Assembléia no Congresso)
foram investigados pela CPI
dos Sanguessugas.
Questionado sobre a proibição de pedir votos em cultos,
Manoel Ferreira explicou que a
orientação política aos fiéis pode ocorrer em outros lugares.
"Geralmente os pastores
têm, além do templo, um salão
social, onde se reúnem com os
fiéis e têm a parte de assistência
social. Eles também publicam
uma nota, boletim informativo
semanal, com a decisão que a
igreja tomou, de apoiar o presidente Lula", afirmou.
A Folha mostrou terça-feira
que o responsável pela Universal no Rio, bispo Gérson Cardoso, pediu votos para o candidato a governador do Estado
Marcelo Crivella, bispo licenciado e sobrinho do fundador,
Edir Macedo, e insinuou que
um rival "cheira cocaína".
A "razão maior" do apoio da
Assembléia de Deus a Lula, segundo o pastor Manoel Ferreira, é o fato de o governo ser o
"que tem dado comida ao
maior número de pobres", por
meio do programa Bolsa-Família. Ele contou que a igreja realiza trabalho nessa área.
"Nossa igreja está no meio do
proletariado, na classe menos
provida. Temos a "campanha
do quilo", por meio da qual todos os meses distribuímos toneladas de alimentos aos mais
carentes, independentemente
de credo", afirmou.
Filiado ao PTB, partido da
base de sustentação do governo
Lula, Manoel Ferreira disse
que a decisão é exclusivamente
da igreja e não tem nenhuma
relação com sua legenda política. Aos 74 anos, ele é candidato
a deputado federal em outubro.
Ele concorreu ao Senado em
2002 e obteve 1,7 milhão de votos. Ficou em terceiro lugar.
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