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UM DIA DE FILA
Eliminação de 15 mil seções elevou média de eleitores por urna; TSE reconhece necessidade de mudanças
Erros de planejamento causaram atrasos
LEILA SUWWAN
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma série de falhas no planejamento técnico do uso da urna eletrônica por parte da Justiça Eleitoral ocasionou a demora na votação e a formação de grandes filas
em praticamente todo o país no
primeiro turno, anteontem.
Não houve orientação suficiente para compensar a falta de familiaridade do eleitor com o sistema
eletrônico de votação, algumas
seções tinham um número alto de
eleitores e também foram eliminadas na última hora cerca de 15
mil seções em todo o país.
Ontem, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dizia que a demora
se devia sobretudo a dificuldades
dos eleitores com as urnas.
Até anteontem, a informação
oficial do tribunal era que haveria
335 mil seções em todo país, o que
manteria a média de 344 eleitores
por urna, a mesma verificada em
1998, última eleição presidencial.
No entanto, com a eliminação
das 15 mil seções pelos Tribunais
Regionais Eleitorais, a média de
eleitores por urna passou para
359. Segundo o TSE, a decisão de
retirar as urnas foi dos órgãos estaduais e pode ter sido, por exemplo, as de locais de difícil acesso.
Foram colocadas à disposição
dos TREs 406 mil urnas para 320
mil seções. As urnas excedentes
deveriam ser utilizadas para substituição. Neste ano foram 5.198
equipamentos substituídos, o que
corresponde a 1,62%, um pouco
acima do 1,18% registrado nas
eleições municipais de 2000.
Ontem à noite, o vice-presidente do TSE, Sepúlveda Pertence,
disse que o tribunal aguarda agora informações dos TREs para tirar uma conclusão sobre o problema de domingo. "A avaliação
toca em primeiro lugar os TREs,
que são os órgãos que põem a
mão na massa", disse ele.
Em São Paulo, onde o problema
das filas foi mais grave, o TSE chegou a planejar a instalação de uma
urna adicional em mais de um
terço das seções do Estado.
Cinco semanas antes da votação, o tribunal desistiu do uso de
duas urnas por seção, alegando
problemas técnicos.
São Paulo tem, neste ano, uma
média de 519 eleitores por seção.
Isso significa que, se cada um levasse exatamente 1 minuto e 15
segundos para votar -tempo
médio estimado pelo TSE-, a
votação se estenderia das 8h às
18h48, quase duas horas além do
horário normal, às 17h.
A lotação também afeta o Distrito Federal, onde há 427 eleitores por seção em média e a votação passou da meia-noite ontem.
O TSE reconhece a necessidade
de desafogar algumas seções -o
que poderia acontecer já para o
segundo turno-, mas avalia que
não seria prático baixar uma resolução se não houver condições físicas para isso.
"O TSE tem competência para
baixar uma resolução limitando o
número de eleitores por seção,
mas também tem que observar as
condições locais", disse o ministro Sálvio de Figueiredo.
De acordo com ele, outro problema detectado foi "a falta de familiaridade da população com a
máquina de votação", o que indica treinamento e propagandas
institucionais insuficientes.
Um dos pontos que podem ter
influenciado no atraso da votação
de anteontem é a ausência de um
procedimento padronizado para
que os mesários pudessem ajudar
eleitores com dificuldade.
Anteontem, o presidente do
TSE, Nelson Jobim, disse que os
mesários foram instruídos para
não interferir ou pressionar na
votação de pessoas que tivessem
eventuais dificuldades "manuais,
mentais ou culturais". Mas o manual de instruções dos mesários
do TSE deixa em aberto o procedimento recomendado para atender as pessoas com dificuldades.
A demora no encerramento da
votação também atrasou a totalização centralizada dos votos no
TSE. Durante boa parte do dia de
ontem, faltava menos de 0,5% do
votos para concluir a apuração.
Às 18h30, 69 municípios ainda
tinham seus votos apurados. Dificuldades de transporte dos disquetes das urnas e problemas
com a transmissão de dados também podem ter interferido na rápida conclusão da totalização.
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