São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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UM DIA DE FILA

Eliminação de 15 mil seções elevou média de eleitores por urna; TSE reconhece necessidade de mudanças

Erros de planejamento causaram atrasos

LEILA SUWWAN
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma série de falhas no planejamento técnico do uso da urna eletrônica por parte da Justiça Eleitoral ocasionou a demora na votação e a formação de grandes filas em praticamente todo o país no primeiro turno, anteontem.
Não houve orientação suficiente para compensar a falta de familiaridade do eleitor com o sistema eletrônico de votação, algumas seções tinham um número alto de eleitores e também foram eliminadas na última hora cerca de 15 mil seções em todo o país.
Ontem, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dizia que a demora se devia sobretudo a dificuldades dos eleitores com as urnas.
Até anteontem, a informação oficial do tribunal era que haveria 335 mil seções em todo país, o que manteria a média de 344 eleitores por urna, a mesma verificada em 1998, última eleição presidencial.
No entanto, com a eliminação das 15 mil seções pelos Tribunais Regionais Eleitorais, a média de eleitores por urna passou para 359. Segundo o TSE, a decisão de retirar as urnas foi dos órgãos estaduais e pode ter sido, por exemplo, as de locais de difícil acesso.
Foram colocadas à disposição dos TREs 406 mil urnas para 320 mil seções. As urnas excedentes deveriam ser utilizadas para substituição. Neste ano foram 5.198 equipamentos substituídos, o que corresponde a 1,62%, um pouco acima do 1,18% registrado nas eleições municipais de 2000.
Ontem à noite, o vice-presidente do TSE, Sepúlveda Pertence, disse que o tribunal aguarda agora informações dos TREs para tirar uma conclusão sobre o problema de domingo. "A avaliação toca em primeiro lugar os TREs, que são os órgãos que põem a mão na massa", disse ele.
Em São Paulo, onde o problema das filas foi mais grave, o TSE chegou a planejar a instalação de uma urna adicional em mais de um terço das seções do Estado.
Cinco semanas antes da votação, o tribunal desistiu do uso de duas urnas por seção, alegando problemas técnicos.
São Paulo tem, neste ano, uma média de 519 eleitores por seção. Isso significa que, se cada um levasse exatamente 1 minuto e 15 segundos para votar -tempo médio estimado pelo TSE-, a votação se estenderia das 8h às 18h48, quase duas horas além do horário normal, às 17h.
A lotação também afeta o Distrito Federal, onde há 427 eleitores por seção em média e a votação passou da meia-noite ontem.
O TSE reconhece a necessidade de desafogar algumas seções -o que poderia acontecer já para o segundo turno-, mas avalia que não seria prático baixar uma resolução se não houver condições físicas para isso.
"O TSE tem competência para baixar uma resolução limitando o número de eleitores por seção, mas também tem que observar as condições locais", disse o ministro Sálvio de Figueiredo.
De acordo com ele, outro problema detectado foi "a falta de familiaridade da população com a máquina de votação", o que indica treinamento e propagandas institucionais insuficientes.
Um dos pontos que podem ter influenciado no atraso da votação de anteontem é a ausência de um procedimento padronizado para que os mesários pudessem ajudar eleitores com dificuldade.
Anteontem, o presidente do TSE, Nelson Jobim, disse que os mesários foram instruídos para não interferir ou pressionar na votação de pessoas que tivessem eventuais dificuldades "manuais, mentais ou culturais". Mas o manual de instruções dos mesários do TSE deixa em aberto o procedimento recomendado para atender as pessoas com dificuldades.
A demora no encerramento da votação também atrasou a totalização centralizada dos votos no TSE. Durante boa parte do dia de ontem, faltava menos de 0,5% do votos para concluir a apuração.
Às 18h30, 69 municípios ainda tinham seus votos apurados. Dificuldades de transporte dos disquetes das urnas e problemas com a transmissão de dados também podem ter interferido na rápida conclusão da totalização.



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