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País passa por onda petista, diz cientista político
LIA HAMA
DA REDAÇÃO
O Brasil passa por uma onda petista, fruto de um processo de
consolidação do partido em todo
o país que já vinha ocorrendo em
eleições passadas, avalia Fábio
Wanderley Reis, 64, professor
emérito da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais).
A quase eleição em primeiro
turno de Luiz Inácio Lula da Silva,
a passagem para o segundo turno
de José Genoino, em São Paulo, e
o crescimento de Nilmário Miranda, em Minas, e de Benedita da
Silva, no Rio, seriam sintomas
desse processo, aponta Reis.
Leia a seguir entrevista do cientista político à Folha.
Folha - Que avaliação o sr. faz do
resultado das eleições presidenciais?
Fábio Wanderley Reis - Acho que
é positivo o fato de que passaram
para o segundo turno duas candidaturas mais consistentes do ponto de vista institucional, em contraste com candidaturas mais personalistas, de caráter mais aventureiro, caso de Ciro Gomes, ou
uma candidatura mais populista,
caso de [Anthony] Garotinho.
Folha - O fato de Lula não ter passado para o segundo turno significa uma derrota para o PT?
Reis - Pode ter havido alguma
decepção porque a partir de um
certo momento pareceu que dava
para Lula levar no primeiro turno.
Mas acho que o partido também
estava preparado para ter um segundo turno. E a vantagem é muito grande. As chances da vitória
do Lula são muito grandes.
Folha - São maiores do que nas
três eleições passadas?
Reis - Claramente. Nas duas últimas, Fernando Henrique [Cardoso" venceu no primeiro turno.
Agora Lula atingiu um patamar
novo. Há um fenômeno mais geral de penetração do PT. Temos a
possibilidade de vir a ter o PT
controlando a Presidência da República, o governo do Estado de
São Paulo, além da Prefeitura
paulistana, o que significa os três
maiores orçamentos do país. Vi
na imprensa inclusive preocupação de empresários com isso, com
um excesso de poder do PT.
Folha - Para onde devem migrar
os votos de Ciro Gomes e de Anthony Garotinho?
Reis - Os votos do Ciro provavelmente incluem uma parte que resiste a Lula e que viu no Ciro uma
alternativa ao Serra. Ele pode ter
sido uma opção clara de um voto
mais preocupado com a competência, com o desempenho, que
resiste ao Lula por razões como a
falta de preparo e o fato de ele não
ter um diploma. Provavelmente
essa parcela não se transfere para
o Lula. Mas tem uma parcela também que estava sendo atraída pelo Ciro por seu discurso mais oposicionista e que encontra em Lula
algo mais atraente do que em Serra. No caso do Garotinho, o voto
evangélico deve ter mais chances
de se deslocar para o Lula. Não vejo razão para que ele seja atraído
para o Serra.
Folha - Qual o significado da derrota de Maluf em São Paulo? Como
explicar o crescimento de Genoino?
Reis - Acho que são duas faces da
mesma coisa. Tem a ver com uma
certa consolidação da penetração
do PT. Se fosse só o caso do [José"
Genoino em São Paulo, podia ser
visto como uma coisa negativa
em relação ao [Paulo] Maluf. Mas
também houve o crescimento
grande do Nilmário Miranda, em
Minas, e de Benedita [da Silva],
no Rio, que teve desempenho melhor do que parecia inicialmente.
Acho que foi uma onda petista,
manifestação de um processo que
vem se dando há algum tempo. É
um passo a mais desse processo.
O partido se tornou mais palatável, num esforço de moderação,
de um certo jogo de marketing.
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