São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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País passa por onda petista, diz cientista político

LIA HAMA
DA REDAÇÃO

O Brasil passa por uma onda petista, fruto de um processo de consolidação do partido em todo o país que já vinha ocorrendo em eleições passadas, avalia Fábio Wanderley Reis, 64, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A quase eleição em primeiro turno de Luiz Inácio Lula da Silva, a passagem para o segundo turno de José Genoino, em São Paulo, e o crescimento de Nilmário Miranda, em Minas, e de Benedita da Silva, no Rio, seriam sintomas desse processo, aponta Reis.
Leia a seguir entrevista do cientista político à Folha.
 

Folha - Que avaliação o sr. faz do resultado das eleições presidenciais?
Fábio Wanderley Reis
- Acho que é positivo o fato de que passaram para o segundo turno duas candidaturas mais consistentes do ponto de vista institucional, em contraste com candidaturas mais personalistas, de caráter mais aventureiro, caso de Ciro Gomes, ou uma candidatura mais populista, caso de [Anthony] Garotinho.

Folha - O fato de Lula não ter passado para o segundo turno significa uma derrota para o PT?
Reis
- Pode ter havido alguma decepção porque a partir de um certo momento pareceu que dava para Lula levar no primeiro turno. Mas acho que o partido também estava preparado para ter um segundo turno. E a vantagem é muito grande. As chances da vitória do Lula são muito grandes.

Folha - São maiores do que nas três eleições passadas?
Reis
- Claramente. Nas duas últimas, Fernando Henrique [Cardoso" venceu no primeiro turno. Agora Lula atingiu um patamar novo. Há um fenômeno mais geral de penetração do PT. Temos a possibilidade de vir a ter o PT controlando a Presidência da República, o governo do Estado de São Paulo, além da Prefeitura paulistana, o que significa os três maiores orçamentos do país. Vi na imprensa inclusive preocupação de empresários com isso, com um excesso de poder do PT.

Folha - Para onde devem migrar os votos de Ciro Gomes e de Anthony Garotinho?
Reis
- Os votos do Ciro provavelmente incluem uma parte que resiste a Lula e que viu no Ciro uma alternativa ao Serra. Ele pode ter sido uma opção clara de um voto mais preocupado com a competência, com o desempenho, que resiste ao Lula por razões como a falta de preparo e o fato de ele não ter um diploma. Provavelmente essa parcela não se transfere para o Lula. Mas tem uma parcela também que estava sendo atraída pelo Ciro por seu discurso mais oposicionista e que encontra em Lula algo mais atraente do que em Serra. No caso do Garotinho, o voto evangélico deve ter mais chances de se deslocar para o Lula. Não vejo razão para que ele seja atraído para o Serra.

Folha - Qual o significado da derrota de Maluf em São Paulo? Como explicar o crescimento de Genoino? Reis - Acho que são duas faces da mesma coisa. Tem a ver com uma certa consolidação da penetração do PT. Se fosse só o caso do [José" Genoino em São Paulo, podia ser visto como uma coisa negativa em relação ao [Paulo] Maluf. Mas também houve o crescimento grande do Nilmário Miranda, em Minas, e de Benedita [da Silva], no Rio, que teve desempenho melhor do que parecia inicialmente. Acho que foi uma onda petista, manifestação de um processo que vem se dando há algum tempo. É um passo a mais desse processo. O partido se tornou mais palatável, num esforço de moderação, de um certo jogo de marketing.


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