São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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Graças a FHC, Paris e Berlim preferem Serra

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os governos francês e alemão preocupam-se com a instabilidade gerada pelo processo eleitoral brasileiro e, implicitamente, vêem com bons olhos a possibilidade de o candidato do PSDB à Presidência, José Serra -que, para eles, representa a continuidade das políticas de Fernando Henrique Cardoso-, seja eleito, segundo analistas consultados pela Folha.
"Para Paris, é essencial que haja previsibilidade, pois, sem ela, o clima é desfavorável às relações bilaterais e às empresas que têm negócios no Brasil", explicou Alfredo Valladão, brasileiro que dirige a cátedra Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
"Na Alemanha, torcemos apenas para que a instabilidade econômica atual não provoque no Brasil uma crise similar à que assola a Argentina", apontou Manfred Nitsch, especialista em economia política e membro do Instituto para a América Latina da Universidade Livre de Berlim.
"Serra é pouco conhecido aqui, porém é diretamente associado à figura do atual presidente, que tem uma ótima reputação no país. Com isso, ele é considerado o candidato da manutenção da orientação atual", disse Nitsch, que esteve no Brasil em agosto passado.
"O novo governo da França [eleito em junho", que é de centro-direita, dá muito valor à estabilidade. Como é o candidato do governo, Serra tem a preferência implícita dos dirigentes franceses, que têm um bom relacionamento com FHC", afirmou Valladão.
Uma questão que inquieta bastante o mercado financeiro, mas nem tanto Paris e Berlim, é a possibilidade da quebra de contratos. Os especialistas não acreditam que isso venha a ocorrer independentemente de quem for eleito.
"Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, PT", que, teoricamente, é o candidato mais de esquerda, é visto pelos alemães como um tipo de Lech Walesa brasileiro. A exemplo do ex-presidente polonês, trata-se de um líder trabalhista que, caso fosse eleito, teria preocupações sociais, mas não poria em xeque a essência do sistema liberal. Ninguém pensa que ele deixaria de cumprir contratos já firmados pelo governo", declarou Nitsch.
"É claro que uma quebra de contratos seria terrível para os franceses, que investiram muito no Brasil nos últimos anos. Entretanto o Partido Socialista, que liderou o governo francês de 1997 a 2002, tem laços estreitos com o PT, e nenhum socialista crê que Lula deixe de cumprir o que já foi estabelecido", avaliou Valladão.


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