|
Texto Anterior | Índice
RAZÃO DE VOTO
As tendências e as surpresas
MAURO FRANCISCO PAULINO
A exemplo de eleições anteriores, porém numa menor
proporção, alguns veículos de comunicação começaram a comparar, na noite de domingo, resultados parciais de apuração das urnas com os resultados de pesquisas de intenção de voto realizadas
na antevéspera e véspera da eleição. Na medida que os votos eram
totalizados, o procedimento, incorreto, foi felizmente abandonado. Independente da questão da
apuração geograficamente desproporcional, vale aí uma observação técnica sobre pesquisas feitas no dia anterior à eleição.
De forma inadequada, alguns
chamam as pesquisas feitas às
vésperas das eleições de "prognóstico" que, segundo o Aurélio, significa "predição, agouro, presságio, profecia". É exatamente o
que elas não representam. Pesquisas feitas antes da ida dos eleitores às urnas servem para apontar tendências e medem a intenção de voto naquele momento.
As únicas pesquisas que permitem essa comparação são as de
boca-de-urna pois, nestas, o eleitor é abordado logo depois de votar e declara o que já fez e não o
que pretende fazer. Elas possibilitam informar qual foi o resultado
das eleições, dentro dos limites estatísticos de erro amostral, assim
que a votação é encerrada. Como
a expectativa de apuração, divulgada pelo TSE, era a de totalização dos votos no próprio domingo, o Datafolha não fez esse tipo
de levantamento nesta eleição.
Todas as tendências apontadas
pelo instituto em suas últimas
pesquisas foram confirmadas. O
Datafolha foi o primeiro a mostrar, em São Paulo, Genoino empatado com Maluf na disputa pelo segundo lugar, empate que se
repetiu na véspera da eleição.
Mostrou a possibilidade de Rosinha vencer já no primeiro turno,
no Rio e, em Minas, o grande favoritismo de Aécio. Mostrou,
também, a possibilidade de Lula
vencer no primeiro turno e seu recuo após o debate na TV Globo.
Já a ascensão de Garotinho foi
observada de forma clara em todas as regiões do país na sexta-feira e no sábado. Os 18% de votos
válidos obtidos por ele na apuração final do TSE mostram que,
apesar de ter o eleitorado com
perfil menos escolarizado entre os
quatro candidatos, pressupondo
maior dificuldade na efetivação
do voto, a tendência estava correta. Assim, mesmo sendo realizada
antes da votação a pesquisa nacional do Datafolha mostrou resultados muito próximos dos revelados pelas urnas. No levantamento do instituto dos dias 4 e 5,
Lula teve 48%, Serra 21%, Garotinho 19% e Ciro 12% das intenções
de voto válidas.
A contribuição das pesquisas ao
processo eleitoral é o de ajudar a
entender os movimentos de opinião. Graças a elas pudemos perceber as alternâncias na disputa
pelo segundo lugar, a maior participação das mulheres no processo de decisão e o desejo de mudança apontado pela maioria dos
eleitores, entre muitas informações relevantes. No final, as pesquisas mostraram que houve um
movimento de opiniões nos últimos dias, incluindo o próprio dia
da eleição, que geraram mudanças, principalmente nas eleições
para governadores, potencializadas pelas tendências das opções
para presidente.
Não se pode exigir que números
coletados antes da votação sejam
precisos em relação aos apurados
nas urnas. Manter exclusivamente esse parâmetro de avaliação
para as pesquisas é deturpar seu
verdadeiro papel dentro do processo democrático, que é o de garantir o direito de informação e
de seu uso pelo eleitor. Pesquisa
de intenção de voto não é bola de
cristal.
MAURO FRANCISCO PAULINO,
diretor-geral do Datafolha, escreve
às terças-feiras nesta coluna
Texto Anterior: Graças a FHC, Paris e Berlim preferem Serra Índice
|