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RUMO A 2004
Desafetos, governador e ex-prefeito se reúnem pelo menos duas vezes para negociar estratégia a fim de derrotar o PT
Alckmin e Maluf articulam pacto anti-Marta
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem alarde, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e o
ex-prefeito Paulo Maluf (PP) reuniram-se pelo menos duas vezes
nas últimas semanas para discutir
um pacto anti-Marta Suplicy (PT)
na eleição para a Prefeitura de São
Paulo do ano que vem.
Nos encontros -um deles realizado na casa do ex-prefeito em
Campos do Jordão (SP) e o outro
na de um parlamentar em São
Paulo-, trocaram cumprimentos cordiais e não fizeram nenhum tipo de mea-culpa pelos
ataques mútuos e pesados durante a eleição de 2002.
Na época, o tucano disse que
Maluf era "um caso perdido" e
que a conversa com ele seria na
"polícia" e "na Justiça". O ex-prefeito afirmou que o governo Alckmin era "fraco" e "frouxo".
Com o objetivo em comum
-derrotar a prefeita- os dois
optaram por seguir a máxima de
que "política não se faz olhando
para o retrovisor". O ex-ministro
Delfim Netto (Planejamento) participou de um dos encontros.
Alckmin quer o mesmo que
Maluf, mas por motivações mais
ambiciosas do que as do ex-prefeito. O seu "norte" é a sucessão
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o tucano, a eleição de 2004
será uma espécie de plebiscito da
gestão Lula. A derrota de Marta
significaria a derrota do presidente. O que interessa ao governador,
independentemente do partido
do eleito. Se a vitória for de um
correligionário seu, tanto melhor.
Maluf não pensa mais na Presidência nem no Estado. Não admite publicamente, mas sonha encerrar sua carreira no comando
da cidade. A vitória seria importante para "lavar" sua biografia,
marcada, nos últimos anos, por
derrotas políticas e investigações
de desvio de recursos públicos.
Muitas delas, aliás, promovidas
pelo Ministério Público Estadual.
Disputa fratricida
O governador tem empurrado a
definição sobre o candidato do
PSDB para 2004. Como o ex-ministro José Serra recusa-se a concorrer e o partido não tem outro
nome "natural", acha melhor evitar uma disputa interna fratricida
(há cinco interessados).
Enquanto isso, no entanto, tenta montar uma frente anti-PT no
Estado. Sua estratégia é firmar coligações com partidos com os
quais há certa identidade (como o
PFL, o PTB e o PSB) e articular
pactos de coexistência com aqueles onde isso não é possível. É o
caso do PP de Maluf na capital.
A sua idéia é a de que o candidato do PSDB e o do PP evitem trocar grandes farpas na campanha,
concentrando esforços para atingir a prefeita. O plano interessa a
Maluf. Acha que, sem a hostilidade tucana, poderá polarizar com
Marta e chegar ao segundo turno.
O ex-prefeito já tem feito contatos e procurado velhos correligionários. Mas, prudente, não diz
que será candidato. Segundo aliados, prefere analisar com calma
suas possibilidades, leia-se pesquisas. Ao governador, porém,
disse que não pretende disputar a
eleição. Internamente, estimula o
deputado federal Celso Russomano (PP) a concorrer.
O PT não acredita que Alckmin
e Maluf conseguirão levar adiante
um pacto de boa vizinhança. Avalia que Marta irá liderar as pesquisas no primeiro turno e que, para
sobreviver, PSDB e PP precisarão
digladiar-se. Considera que a
eventual candidatura de Maluf será positiva para a prefeita. Divide
a oposição e permite, num segundo turno contra o ex-prefeito, a
repetição do discurso do "bem"
contra o "mal", como em 2000.
Maluf disse por meio de sua assessoria que não comentaria os
encontros. Procurado pela Folha
desde segunda-feira, Alckmin
não se pronunciou.
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