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São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003

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RUMO A 2004

Desafetos, governador e ex-prefeito se reúnem pelo menos duas vezes para negociar estratégia a fim de derrotar o PT

Alckmin e Maluf articulam pacto anti-Marta

ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem alarde, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) reuniram-se pelo menos duas vezes nas últimas semanas para discutir um pacto anti-Marta Suplicy (PT) na eleição para a Prefeitura de São Paulo do ano que vem.
Nos encontros -um deles realizado na casa do ex-prefeito em Campos do Jordão (SP) e o outro na de um parlamentar em São Paulo-, trocaram cumprimentos cordiais e não fizeram nenhum tipo de mea-culpa pelos ataques mútuos e pesados durante a eleição de 2002.
Na época, o tucano disse que Maluf era "um caso perdido" e que a conversa com ele seria na "polícia" e "na Justiça". O ex-prefeito afirmou que o governo Alckmin era "fraco" e "frouxo".
Com o objetivo em comum -derrotar a prefeita- os dois optaram por seguir a máxima de que "política não se faz olhando para o retrovisor". O ex-ministro Delfim Netto (Planejamento) participou de um dos encontros.
Alckmin quer o mesmo que Maluf, mas por motivações mais ambiciosas do que as do ex-prefeito. O seu "norte" é a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o tucano, a eleição de 2004 será uma espécie de plebiscito da gestão Lula. A derrota de Marta significaria a derrota do presidente. O que interessa ao governador, independentemente do partido do eleito. Se a vitória for de um correligionário seu, tanto melhor.
Maluf não pensa mais na Presidência nem no Estado. Não admite publicamente, mas sonha encerrar sua carreira no comando da cidade. A vitória seria importante para "lavar" sua biografia, marcada, nos últimos anos, por derrotas políticas e investigações de desvio de recursos públicos. Muitas delas, aliás, promovidas pelo Ministério Público Estadual.

Disputa fratricida
O governador tem empurrado a definição sobre o candidato do PSDB para 2004. Como o ex-ministro José Serra recusa-se a concorrer e o partido não tem outro nome "natural", acha melhor evitar uma disputa interna fratricida (há cinco interessados).
Enquanto isso, no entanto, tenta montar uma frente anti-PT no Estado. Sua estratégia é firmar coligações com partidos com os quais há certa identidade (como o PFL, o PTB e o PSB) e articular pactos de coexistência com aqueles onde isso não é possível. É o caso do PP de Maluf na capital.
A sua idéia é a de que o candidato do PSDB e o do PP evitem trocar grandes farpas na campanha, concentrando esforços para atingir a prefeita. O plano interessa a Maluf. Acha que, sem a hostilidade tucana, poderá polarizar com Marta e chegar ao segundo turno.
O ex-prefeito já tem feito contatos e procurado velhos correligionários. Mas, prudente, não diz que será candidato. Segundo aliados, prefere analisar com calma suas possibilidades, leia-se pesquisas. Ao governador, porém, disse que não pretende disputar a eleição. Internamente, estimula o deputado federal Celso Russomano (PP) a concorrer.
O PT não acredita que Alckmin e Maluf conseguirão levar adiante um pacto de boa vizinhança. Avalia que Marta irá liderar as pesquisas no primeiro turno e que, para sobreviver, PSDB e PP precisarão digladiar-se. Considera que a eventual candidatura de Maluf será positiva para a prefeita. Divide a oposição e permite, num segundo turno contra o ex-prefeito, a repetição do discurso do "bem" contra o "mal", como em 2000.
Maluf disse por meio de sua assessoria que não comentaria os encontros. Procurado pela Folha desde segunda-feira, Alckmin não se pronunciou.


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