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PODERES EM ATRITO
Corrêa critica uso de recurso privado na Justiça
SILVANA DE FREITAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Maurício Corrêa, disse que é "obrigação do Estado" financiar o funcionamento do Poder Judiciário.
A afirmação de Corrêa foi uma
resposta aos planos do governo,
revelados ontem pela Folha, de
atrair dinheiro de empresas particulares para aplicar na modernização da Justiça.
"Dinheiro privado para financiar o funcionamento da máquina
do Judiciário? Meu Deus do céu,
isso é obrigação do Estado. É uma
inversão total dos valores éticos
que norteiam os julgamentos."
O ministro afirmou que não fora nem sequer convidado para a
cerimônia, que acontece hoje, de
assinatura do termo de cooperação entre o Ministério da Justiça, a
Companhia Vale do Rio Doce, a
Associação dos Magistrados Brasileiros e a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, pelo qual a
Vale irá bancar um concurso com
prêmios aos melhores projetos de
modernização da Justiça.
Esse é o primeiro de uma série
de termos de cooperação que o
governo quer firmar com empresas e confederações empresariais,
segundo o secretário de Reforma
do Judiciário, Sérgio Renault.
"Se fosse [convidado], eu não
iria mesmo. A iniciativa de propor dinheiro para o Judiciário é
nossa", acrescentou Corrêa.
O presidente do TST (Tribunal
Superior do Trabalho), ministro
Francisco Fausto, reforçou as críticas. "Em princípio, isso parece
até um passo para a privatização
da Justiça, o que no Brasil seria
desastroso como em qualquer
outra parte do mundo."
A Ajufe (Associação dos Juízes
Federais do Brasil) divulgou uma
nota na qual o vice-presidente da
entidade, Walter Nunes da Silva
Júnior, e o secretário-geral, Jorge
Antônio Maurique, também atacam a iniciativa do governo. "Isso, além de uma obrigação típica
de Estado, também é um investimento em cidadania."
"Trabalho sério"
O ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) atribuiu a reação
negativa a um "mal-entendimento". "Estamos fazendo um trabalho sério, que tem a colaboração
de associações de magistrados e
que visa premiar as melhores práticas", disse. "Sem a reforma do
Judiciário, o país não vai fazer
aquilo que precisa, em vários aspectos. Não só do "custo Brasil",
mas da luta contra a violência. De
forma que é uma crítica de mal-entendido. Não é uma crítica que
possa se sustentar."
"Estamos, na Secretaria de Reforma do Judiciário, interessados
em melhorar o Poder Judiciário."
O governo estuda criar um fundo para captar os recursos privados que seriam aplicados na modernização de juizados e varas judiciais. O objetivo seria "pulverizar" a arrecadação do dinheiro
para impedir a identificação do
destino específico da verba doada
por determinado participante.
Em outras palavras, não haveria
uma ligação direta entre o dinheiro de uma empresa e a compra de
máquinas em determinada vara
judicial, por exemplo.
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