São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RETÓRICA DA CRISE

Deputados reclamam das taxas de juros, mas ministro e presidente do BC deixam claro que a prioridade é o controle da inflação

Criticado, Palocci diz ao PT que rumo não muda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afastaram ontem, em reunião com petistas, a possibilidade de adotarem atitudes arrojadas na economia, mas sinalizaram que podem ceder em uma negociação futura.
Os 11 deputados que foram sorteados para falar no encontro reclamaram da política econômica, alguns de forma irônica.
Palocci admitiu dialogar com os críticos da bancada e Meirelles afirmou que o governo busca a redução dos juros básicos da economia, embora a prioridade seja o controle da inflação.
Além disso, Palocci negou que a política econômica seja uma repetição da adotada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Lula também falou sobre os números da economia, comemorou os índices citados, mas foi cauteloso ao falar dos juros e do superávit primário. "Temos o objetivo de, no futuro, reduzir a taxa de juros e o superávit primário. Mas hoje não dá."
O superávit deste ano está estipulado em 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto), mas atingiu até agosto 6,26% (R$ 78,9 bilhões).
Em resposta aos deputados, Palocci afirmou que o governo "apertou o cinto" no início do ano, mas prevê aumento de gastos até dezembro, o que reduziria o superávit para um índice próximo aos 4,25%.
Já sobre a taxa básica de juros, hoje em 19,5% ao ano, tanto Palocci quanto Meirelles afirmaram que a intenção é de promover queda gradual, mas que a prioridade é o controle da inflação.
Segundo relato de presentes, Palocci afirmou que o governo não vai permitir que uma atitude "mais arrojada" coloque em risco os ganhos econômicos.
O ministro disse que não haverá aumento irresponsável de gastos em 2006, ainda de acordo com pessoas presentes no encontro.
Já Meirelles, segundo relatos, afirmou que vai perseguir a política de queda de juros e pediu paciência, reafirmando que a prioridade é o controle da inflação.
Os 67 deputados receberam uma cartilha com o desempenho econômico e social do governo. Um dos principais pontos abordados foi a geração de empregos formais, que teria chegado a 1,37 milhão de postos neste ano contra 645 mil do primeiro ano de governo de Lula (2003) e 762 mil do último ano do governo FHC (2002).
Palocci afirmou, sempre de acordo com deputados presentes, que a política adotada pelo governo não é igual à do governo anterior. Ele disse ainda ser impossível que o governo cumpra a medida que determina gasto mínimo em saúde, já que isso exigiria um aporte extra, neste ano, de R$ 12 bilhões. Os ministros foram criticados pelos deputados pelo fato de o governo insistir em incluir o Bolsa-Família como gasto na área de saúde, que é uma manobra para tentar cumprir a medida.
Os ministros defenderam as realizações do governo e citaram números positivos nas áreas econômica e social, desde as famílias atendidas pelo Bolsa-Família até a queda no preço do arroz e do cimento. Quando Orlando Desconsi (RS) pediu a queda de juros e a fixação de um preço mínimo para produtores de arroz, Palocci o interrompeu: "E o consumidor que se beneficia do preço baixo como fica?". Dilma Roussef (Casa Civil) não teve tempo para falar no encontro, mas marcou uma reunião com a bancada de deputados para o dia 17. (RANIER BRAGON, ANA FLOR E FÁBIO ZANINI)

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