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CULTURA
Pedro Corrêa do Lago diz sair por possuir poucos recursos; sua gestão é investigada por supostas irregularidades
Presidente da Biblioteca Nacional pede demissão
DA SUCURSAL DO RIO
O colecionador Pedro Corrêa
do Lago deixou ontem a presidência da Fundação Biblioteca
Nacional, que dirigia desde o início do governo Luiz Inácio Lula
da Silva, em janeiro de 2003.
Corrêa do Lago formalizou anteontem, por carta, seu pedido de
demissão, aceito ontem pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Alvo de suspeitas de irregularidades, a gestão de Corrêa do Lago
está sendo investigada desde segunda-feira por comissão formada por representantes da Controladoria Geral da União, do Ministério Público e da Polícia Federal.
Na quarta-feira, em entrevista
ao jornal "O Estado de S. Paulo",
Gil disse que havia "suspeita de
quebra de confiança, irregularidades, eventualmente dolo".
Ontem, o ministro divulgou nota conciliatória. "Acolhi seu desejo de que uma auditoria completa
fosse conduzida com a CGU para
esclarecer e apurar quaisquer suspeitas de irregularidades." Gil dizia ainda, na nota, que lamentava
sua saída e que ele havia inovado
na gestão da Biblioteca.
Corrêa do Lago diz que sua saída estava acertada havia dois meses. "Saio por projetos pessoais e
pela decepção com as limitações
orçamentárias", afirmou, negando todas as irregularidades e dizendo que poderá provar sua inocência.
Ele acreditava que a Biblioteca
Nacional não podia ser só um depositário de livros, jornais e fotos,
mas precisava produzir idéias.
Por isso, quis criar revistas, prêmios e abrir o prédio para exposições. "Minha contribuição está
dada. Eu não pedi esse cargo, fui
convidado. Mas fizemos muita
coisa lá. O ministro Gilberto Gil
luta para aumentar o orçamento e
consegue pouco", declarou Corrêa do Lago.
O ex-presidente demitiu funcionários e terceirizou funções, o que
fez com que passasse sua gestão
em conflito com os servidores da
biblioteca, que fizeram várias manifestações pedindo a sua saída.
Com a morte de Waly Salomão,
em maio de 2003, Corrêa do Lago
passou a ser o homem-forte do
governo na área de livros. Era responsável pela distribuição de volumes para as bibliotecas criadas
pelo projeto Fome de Livro.
"Nossa História"
Uma das iniciativas das quais
Corrêa do Lago mais se orgulhava, a revista "Nossa História", tornou-se um problema. Em maio
último, o procurador Maurício
Manso entrou com uma denúncia
acusando-o de improbidade administrativa porque a publicação
fora criada em novembro de 2003
sem licitação e sem um contrato
de parceria com a editora Vera
Cruz, proprietária legal da revista.
Corrêa do Lago, então, rompeu
de vez com a editora e criou a "Revista de História", com o mesmo
projeto gráfico da "Nossa História". Depois de ação judicial da
Vera Cruz (empresa do banqueiro Aloísio Faria), o projeto gráfico
foi mudado. À epoca, a assessoria
de Côrrea do Lago disse que o
projeto original da revista pertencia à Biblioteca Nacional e que a
Vera Cruz é quem deveria alterar
a sua publicação.
Ontem, horas antes do anúncio
da demissão, o Ministério Público
Federal pediu pela segunda vez o
afastamento de Corrêa do Lago
-a primeira vez foi neste ano,
por causa de ação judicial que
contestava o contrato da Biblioteca Nacional com a Vera Cruz.
O fato novo foi a descoberta de
que ele tentou, em outubro de
2002, registrar em nome da Livraria Corrêa do Lago a marca "Nossa História", o que configuraria
mistura de interesses públicos e
particulares. A marca "Revista de
História" também tem registro no
INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) em nome da
livraria Corrêa do Lago.
Pedro Côrrea do Lago diz que o
pedido de registro foi feito ao INPI antes de ele assumir o cargo da
Biblioteca Nacional e que ele já
abriu mão dos direitos sobre as
duas marcas.
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