São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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CULTURA

Pedro Corrêa do Lago diz sair por possuir poucos recursos; sua gestão é investigada por supostas irregularidades

Presidente da Biblioteca Nacional pede demissão

DA SUCURSAL DO RIO

O colecionador Pedro Corrêa do Lago deixou ontem a presidência da Fundação Biblioteca Nacional, que dirigia desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003.
Corrêa do Lago formalizou anteontem, por carta, seu pedido de demissão, aceito ontem pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Alvo de suspeitas de irregularidades, a gestão de Corrêa do Lago está sendo investigada desde segunda-feira por comissão formada por representantes da Controladoria Geral da União, do Ministério Público e da Polícia Federal.
Na quarta-feira, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Gil disse que havia "suspeita de quebra de confiança, irregularidades, eventualmente dolo".
Ontem, o ministro divulgou nota conciliatória. "Acolhi seu desejo de que uma auditoria completa fosse conduzida com a CGU para esclarecer e apurar quaisquer suspeitas de irregularidades." Gil dizia ainda, na nota, que lamentava sua saída e que ele havia inovado na gestão da Biblioteca.
Corrêa do Lago diz que sua saída estava acertada havia dois meses. "Saio por projetos pessoais e pela decepção com as limitações orçamentárias", afirmou, negando todas as irregularidades e dizendo que poderá provar sua inocência.
Ele acreditava que a Biblioteca Nacional não podia ser só um depositário de livros, jornais e fotos, mas precisava produzir idéias. Por isso, quis criar revistas, prêmios e abrir o prédio para exposições. "Minha contribuição está dada. Eu não pedi esse cargo, fui convidado. Mas fizemos muita coisa lá. O ministro Gilberto Gil luta para aumentar o orçamento e consegue pouco", declarou Corrêa do Lago.
O ex-presidente demitiu funcionários e terceirizou funções, o que fez com que passasse sua gestão em conflito com os servidores da biblioteca, que fizeram várias manifestações pedindo a sua saída.
Com a morte de Waly Salomão, em maio de 2003, Corrêa do Lago passou a ser o homem-forte do governo na área de livros. Era responsável pela distribuição de volumes para as bibliotecas criadas pelo projeto Fome de Livro.

"Nossa História"
Uma das iniciativas das quais Corrêa do Lago mais se orgulhava, a revista "Nossa História", tornou-se um problema. Em maio último, o procurador Maurício Manso entrou com uma denúncia acusando-o de improbidade administrativa porque a publicação fora criada em novembro de 2003 sem licitação e sem um contrato de parceria com a editora Vera Cruz, proprietária legal da revista.
Corrêa do Lago, então, rompeu de vez com a editora e criou a "Revista de História", com o mesmo projeto gráfico da "Nossa História". Depois de ação judicial da Vera Cruz (empresa do banqueiro Aloísio Faria), o projeto gráfico foi mudado. À epoca, a assessoria de Côrrea do Lago disse que o projeto original da revista pertencia à Biblioteca Nacional e que a Vera Cruz é quem deveria alterar a sua publicação.
Ontem, horas antes do anúncio da demissão, o Ministério Público Federal pediu pela segunda vez o afastamento de Corrêa do Lago -a primeira vez foi neste ano, por causa de ação judicial que contestava o contrato da Biblioteca Nacional com a Vera Cruz.
O fato novo foi a descoberta de que ele tentou, em outubro de 2002, registrar em nome da Livraria Corrêa do Lago a marca "Nossa História", o que configuraria mistura de interesses públicos e particulares. A marca "Revista de História" também tem registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) em nome da livraria Corrêa do Lago.
Pedro Côrrea do Lago diz que o pedido de registro foi feito ao INPI antes de ele assumir o cargo da Biblioteca Nacional e que ele já abriu mão dos direitos sobre as duas marcas.


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