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CAMINHO DAS ÁGUAS
Um dia após encerrar greve de fome, frei Luiz diz não ter motivos para se sentir enganado por ministro
Bispo exige que governo cumpra promessas
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CABROBÓ (PE)
O bispo de Barra (BA), dom
Luiz Flávio Cappio, 59, disse ontem, em Cabrobó (a 600 km de
Recife), que não se sente enganado pelo governo e que vai cobrar
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva o cumprimento do acordo
que encerrou, após dez dias, sua
greve de fome contra a transposição do rio São Francisco.
"Ele [Lula] deu ao ministro [Jaques Wagner, de Relações Institucionais] o poder de decidir por
ele. Então, foi o presidente que
sancionou aquilo que desejávamos", disse Cappio. "Foi uma
guerra de foice chegarmos até onde chegamos. Fomos o mais fiéis
possível ao que desejávamos."
O bispo disse não ter motivos
para se sentir enganado pelo governo "porque nada ainda aconteceu". Cappio entende que o
acordo garantiu a suspensão do
início das obras até que haja consenso sobre o projeto. Já o ministro afirmou que o adiamento ou a
suspensão não foram discutidos.
A pressa do governo em negociar o fim do protesto, afirmou
Cappio, "não ocorreu porque estavam com dó". "Ele [o governo]
não estava preocupado com a minha fome, estava preocupado
com a repercussão nacional, internacional, com a pressão que estava acontecendo."
"O governo Lula não iria assumir o ônus de ter que levar para o
resto da história a pecha, a responsabilidade pela morte do bispo", disse Cappio, reafirmando a
disposição de retomar o jejum se
o acordo fechado com o governo
for descumprido.
Sanções
O bispo declarou ainda que,
mesmo sabendo dos "riscos de
sanções eclesiais", estava disposto
a seguir "até o fim". "Quem está
disposto a morrer não tem medo
de sanções. Eu estava livre, sem
receio de nada."
Representante do Vaticano no
país, o núncio apostólico do Brasil, dom Lorenzo Baldisseri, viajou a Cabrobó e disse que a igreja
não aprova a atitude do bispo. Segundo ele, o jejum até a morte é
contra a moral cristã.
Para o frei Luiz, o fim da greve
de fome -iniciada às 12h de 26 de
setembro- sinaliza "a hora das
mobilizações populares". "Agora,
cada um deve fazer a sua parte. O
pessoal não vai desistir. Eu tenho
esperança. Uma iniciativa que
contou com a bênção de Deus não
vai acabar em pizza."
Canja de galinha
O bispo, que passou por exames
médicos e recebeu dois frascos de
soro na quinta-feira, bebeu ontem
água de coco e suco de melancia e
tomou uma canja com fiapos de
carne de galinha, legumes e arroz
amassados. Hospedado por um
casal ligado à Igreja Católica em
Cabrobó, ele não reclamou de dores nem mal-estar.
Parentes e amigos visitaram ontem. Em Cabrobó, as romarias
cessaram. A pequena capela que
serviu de abrigo ao bispo durante
o jejum, na zona rural da cidade,
ficou vazia ontem.
Os quatro lavradores do MPA
(Movimento dos Pequenos Agricultores) que haviam aderido à
greve de fome na terça-feira, também encerraram o protesto.
Cappio disse pretender descansar nos próximos dias em São
Paulo, mas declarou também ter
interesse em participar de outras
manifestações a favor da revitalização do rio São Francisco.
Pelo menos dois atos estão programados para este fim de semana. Um deles acontecerá hoje à
tarde, em São Paulo. O outro está
previsto para amanhã, em Juazeiro, cidade baiana localizada às
margens do rio.
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