São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Popularidade de Lula sofre "erosão" na periferia de São Paulo

Votação do presidente encolhe em praticamente toda a cidade quando comparada à de 2002; petista também é derrotado onde Marta bateu Serra em 2004

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

LUÍS FERRARI
DA REDAÇÃO

Tal como uma queda de dominós que começa do centro e vai até a periferia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi perdendo votos distrito por distrito da capital paulista entre 2002 e 2006. O candidato a um novo mandato no Palácio do Planalto resiste apenas nas bordas do município, como mostra a votação obtida por ele no domingo passado.
Considerando a cidade dividida em 41 zonas eleitorais (como em 2002), Lula só cresce em quatro neste ano, todas nos extremos: Guaianases, Capão Redondo, Piraporinha e Grajaú. Em nenhum delas o salto chegou a dois dígitos. No Grajaú, onde mais avançou, subiu 6,27 pontos. Um adendo: entre 2002 e 2006, a cidade ganhou 11 novas zonas, mas sem grande variação no total de eleitores.
Neste ano, Lula foi batido pelo tucano Geraldo Alckmin em cinco regiões nas quais a então prefeita Marta Suplicy venceu o tucano José Serra no primeiro turno da eleição municipal de 2004: Itaquera, Cidade Ademar, Capela do Socorro, Campo Limpo e Pirituba. Campo Limpo foi dividida em duas, ambas com vitória tucana. Pirituba foi retalhada em três, mas só Perus continuou petista.
Avalia-se entre petistas que grande parte do avanço do PSDB se deve à administração de Serra na prefeitura. Com a sensibilidade de um sismógrafo, o petista Enio Tatto, líder da silgla na Assembléia Legislativa paulista, não vacila ao falar do tremor que precedeu a queda.
"Não dá para esconder que o Serra puxou a votação do Alckmin, especialmente com o programa de recapeamento de ruas na periferia", afirma. "Não adianta procurar voto onde a gente não tem, onde os tucanos estão consolidados. Tem que procurar na periferia."
Enio diz que, no segundo turno, a história será outra. "Marta é a coordenadora de Lula em São Paulo e lembrará os programas sociais que fez no município. Alckmin não terá mais o Serra em campanha para ajudá-lo. Alckmin vai sozinho."
Mas, segundo o vereador tucano Gilberto Natalini, coordenador da campanha de Serra e Alckmin na região metropolitana, a esperança de Tatto é vã e, a explicação para o avanço, outra. "O povo que parou e refletiu sobre os escândalos do PT percebeu quem é melhor para São Paulo e para o Brasil", diz ele. "Fizemos um governo popular na cidade e uma campanha conjunta entre o Serra e o Alckmin, é só perceber como a votação deles é parecida."

Estrela solitária
Apesar de Serra e Marta serem considerados os grandes cabos eleitorais da disputa paulistana, Alckmin obteve mais votos para presidente do que Serra para governador.
Alckmin foi escolhido por cerca de 3,38 milhões eleitores da capital para gerir o Brasil. Serra, por 3,23 milhões para governar o Estado. Em cinco das 13 zonas eleitorais da zona leste, Alckmin subiu mais que 25% em relação à votação que obteve no primeiro turno de 2002 para o Bandeirantes. O maior avanço foi na Mooca, onde Serra nasceu, com 32,03%.
Alckmin também cresceu em todas as 41 regiões quando comparado ao Serra de quatro anos atrás. Só em uma delas, o Grajau, o avanço não foi na casa dos dois dígitos: 9,7%. Em 32 das então 41 zonas, a escalada superou 20 pontos.
A Folha ouviu um morador petista de Perdizes (onde Lula perdeu por 71,18% a 19,03%) e um líder tucano na Capela do Socorro (reduto petista conquistado por Alckmin neste ano) para tentar identificar alguns dos motivos do voto.
Carlos Moreno, 38, regente da Orquestra Sinfônica da USP e morador de Perdizes defende as realizações sociais do governo. Questionado sobre como explica seus motivos para os vizinhos que votam em Alckmin, o maestro afirma: "Não falo. Sou uma ilha no meu bairro".
O pintor Raimundo Martins Rodrigues, 52, votou em Lula sempre que o petista foi candidato, à exceção deste ano. Diz que deixou de votar no presidente por não acreditar que Lula não soubesse os problemas que se passava no governo federal. O principal, contudo, "é que o preço do arroz pode estar mais barato, mas o do ferro de construção, o do óleo e o de outros alimentos, não".


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