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Popularidade de Lula sofre "erosão" na periferia de São Paulo
Votação do presidente encolhe em praticamente toda a cidade quando comparada à de 2002; petista também é derrotado onde Marta bateu Serra em 2004
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
LUÍS FERRARI
DA REDAÇÃO
Tal como uma queda de dominós que começa do centro e
vai até a periferia, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi
perdendo votos distrito por
distrito da capital paulista entre 2002 e 2006. O candidato a
um novo mandato no Palácio
do Planalto resiste apenas nas
bordas do município, como
mostra a votação obtida por ele
no domingo passado.
Considerando a cidade dividida em 41 zonas eleitorais (como em 2002), Lula só cresce
em quatro neste ano, todas nos
extremos: Guaianases, Capão
Redondo, Piraporinha e Grajaú. Em nenhum delas o salto
chegou a dois dígitos. No Grajaú, onde mais avançou, subiu
6,27 pontos. Um adendo: entre
2002 e 2006, a cidade ganhou
11 novas zonas, mas sem grande
variação no total de eleitores.
Neste ano, Lula foi batido pelo tucano Geraldo Alckmin em
cinco regiões nas quais a então
prefeita Marta Suplicy venceu
o tucano José Serra no primeiro turno da eleição municipal
de 2004: Itaquera, Cidade Ademar, Capela do Socorro, Campo Limpo e Pirituba. Campo
Limpo foi dividida em duas,
ambas com vitória tucana. Pirituba foi retalhada em três, mas
só Perus continuou petista.
Avalia-se entre petistas que
grande parte do avanço do
PSDB se deve à administração
de Serra na prefeitura. Com a
sensibilidade de um sismógrafo, o petista Enio Tatto, líder da
silgla na Assembléia Legislativa
paulista, não vacila ao falar do
tremor que precedeu a queda.
"Não dá para esconder que o
Serra puxou a votação do Alckmin, especialmente com o programa de recapeamento de
ruas na periferia", afirma. "Não
adianta procurar voto onde a
gente não tem, onde os tucanos
estão consolidados. Tem que
procurar na periferia."
Enio diz que, no segundo turno, a história será outra. "Marta
é a coordenadora de Lula em
São Paulo e lembrará os programas sociais que fez no município. Alckmin não terá mais
o Serra em campanha para ajudá-lo. Alckmin vai sozinho."
Mas, segundo o vereador tucano Gilberto Natalini, coordenador da campanha de Serra e
Alckmin na região metropolitana, a esperança de Tatto é vã e, a
explicação para o avanço, outra. "O povo que parou e refletiu sobre os escândalos do PT
percebeu quem é melhor para
São Paulo e para o Brasil", diz
ele. "Fizemos um governo popular na cidade e uma campanha conjunta entre o Serra e o
Alckmin, é só perceber como a
votação deles é parecida."
Estrela solitária
Apesar de Serra e Marta serem considerados os grandes
cabos eleitorais da disputa paulistana, Alckmin obteve mais
votos para presidente do que
Serra para governador.
Alckmin foi escolhido por
cerca de 3,38 milhões eleitores
da capital para gerir o Brasil.
Serra, por 3,23 milhões para governar o Estado. Em cinco das
13 zonas eleitorais da zona leste, Alckmin subiu mais que
25% em relação à votação que
obteve no primeiro turno de
2002 para o Bandeirantes. O
maior avanço foi na Mooca, onde Serra nasceu, com 32,03%.
Alckmin também cresceu em
todas as 41 regiões quando
comparado ao Serra de quatro
anos atrás. Só em uma delas, o
Grajau, o avanço não foi na casa
dos dois dígitos: 9,7%. Em 32
das então 41 zonas, a escalada
superou 20 pontos.
A Folha ouviu um morador
petista de Perdizes (onde Lula
perdeu por 71,18% a 19,03%) e
um líder tucano na Capela do
Socorro (reduto petista conquistado por Alckmin neste
ano) para tentar identificar alguns dos motivos do voto.
Carlos Moreno, 38, regente
da Orquestra Sinfônica da USP
e morador de Perdizes defende
as realizações sociais do governo. Questionado sobre como
explica seus motivos para os vizinhos que votam em Alckmin,
o maestro afirma: "Não falo.
Sou uma ilha no meu bairro".
O pintor Raimundo Martins
Rodrigues, 52, votou em Lula
sempre que o petista foi candidato, à exceção deste ano. Diz
que deixou de votar no presidente por não acreditar que
Lula não soubesse os problemas que se passava no governo
federal. O principal, contudo,
"é que o preço do arroz pode
estar mais barato, mas o do ferro de construção, o do óleo e o
de outros alimentos, não".
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