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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Êxito de Alckmin azeda plano do tucanato
Passagem de ex-governador ao segundo turno implode acordo informal de tucanos com Lula e ameaça pretensões de Serra e Aécio
Para tentar vencer a eleição, petista agora ataca todo o PSDB e leva para sua tropa de choque Ciro e Marta, dois possíveis presidenciáveis
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A passagem de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) para o segundo
turno das eleições presidenciais implodiu um acordo informal que já estava sendo firmado entre lideranças do PSDB e o
presidente Lula e ameaça levar
de roldão as pretensões presidenciais de duas das maiores figuras do partido: José Serra,
governador eleito de São Paulo,
e Aécio Neves, de Mina Gerais.
Caso Lula tivesse liquidado a
fatura no primeiro turno, Alckmin estaria lambendo (sozinho) as feridas da derrota. Serra e Aécio seriam hoje os principais candidatos à sucessão do
petista. E, até segunda ordem,
os únicos: nas conversas com
Aécio, antes do primeiro turno,
Lula chegou a dizer que, com a
derrota de Aloizio Mercadante
ao governo de SP, o PT não teria candidato competitivo à
Presidência em 2010.
Em conversa com amigos,
em setembro, quando as pesquisas indicavam que poderia
ser eleito em primeiro turno,
Lula disse: "As pessoas vêm me
falar de Serra e Aécio. Quem
disse que um deles não pode estar no nosso palanque em
2010? Ou que eu não posso estar no palanque de um deles?".
A missão de dialogar com
Serra era do ministro Márcio
Thomaz Bastos, da Justiça. Os
dois tiveram vários encontros
nos últimos meses em SP.
"O PT não dará trégua"
Em palestra para banqueiros, pela qual recebeu R$ 15
mil, o ex-ministro Antônio Palocci detalhou, em setembro, o
acordo informal: os tucanos
ajudariam Lula a aprovar reformas no Congresso. Em troca,
teriam atendidos seus pleitos
junto ao governo federal.
A possibilidade de vitória de
Alckmin explode tudo. Em primeiro lugar, tirou Lula da posição de "amigo", como ele se referia a Serra e Aécio: para vencer as eleições, o presidente começou a atacar não só Alckmin
mas todo o PSDB. E convocou
dois possíveis presidenciáveis,
que andavam sumidos, para a
sua "tropa de choque": Marta
Suplicy e Ciro Gomes.
Caso Alckmin vença as eleições, o quadro muda ainda
mais: dez entre dez tucanos duvidam que ele abra mão de concorrer à reeleição. De dois, o
número de presidenciáveis de
2010 pula para pelo menos quatro: Alckmin, Serra e Aécio, pelo PSDB, e o próprio Lula, como
candidato de oposição.
Em jantar com empresários
em SP, na semana passada, um
dos deputados mais influentes
do PT afirmou: "Vamos ser claros. Existia um acordo entre
nós [PT] e o PSDB: o próximo
governo era do Lula. O de 2010,
do Serra ou do Aécio, sem problemas. Com Alckmin, o acordo será rompido. E Alckmin vai
ter derrotado o Serra, o Aécio, o
FHC, o Lula, todo mundo". De
acordo com o parlamentar, "o
Alckmin, se eleito, não vai governar" porque PT, MST e CUT
"não vão dar trégua".
"Não é possível"
Amigos íntimos e políticos
do grupo de Serra no PSDB e no
PFL mal disfarçam o desconforto com a possibilidade de
Alckmin vencer as eleições.
Dias antes do primeiro turno,
no coquetel do debate que a TV
Globo promoveu entre os candidatos ao governo de SP, um
dos políticos de maior destaque
no Estado, muito próximo de
Serra, fez cara de enterro ao receber a notícia de que pesquisas telefônicas indicavam que
haveria segundo turno.
"Não é possível! Quem te falou?", perguntou o político à
Folha. Depois, chegou a cochichar com a colunista: "Ele
[Alckmin] não vai passar [para
o segundo turno]. Não é possível, não vai dar tempo."
De acordo com um político
do PFL paulista, a vitória de
Alckmin vai fazer com que a
disputa, no PSDB, "vire uma
briga de foice no escuro". O
mais irônico é que tanto Serra
quanto Aécio, pressionados por
Alckmin e sobretudo pelos eleitores tucanos que querem Lula
fora do Planalto, devem se engajar agora na campanha.
Tucanos ouvidos oficialmente pela Folha negam que a vitória de Alckmin desagrade setores do PSDB. "Isso não existe.
Não há um só tucano que esteja
a favor da vitória do Lula. Há situações históricas em que o
bem do país está acima de interesses pessoais", diz o ex-ministro Paulo Renato de Souza.
A vitória de Alckmin estava
fora também dos planos de
Fernando Henrique Cardoso,
que já se preparava para ser o
porta-voz da oposição a Lula.
FHC nunca escondeu que
preferia ver Serra candidato à
Presidência. Ele só decidiu
apoiar Alckmin quando ouviu
de especialistas como Carlos
Augusto Montenegro, do Ibope, que Lula era um candidato
"quase invencível". A um interlocutor, FHC foi claro: "Vamos
colocar o Alckmin para perder.
E preservar o Serra para 2010".
Entre amigos íntimos, FHC,
celebrado pelo bom humor e
por perder o amigo, jamais a
piada, chegou a dizer, em março, que a derrota de Alckmin
obrigaria os tucanos a comprarem uma butique para a filha
dele se ocupar. Sophia, filha de
Alckmin, já trabalhou na Daslu.
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