São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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ELIO GASPARI

Lembra do Freud? Ele tinha razão


Quanto mais rápido ele for tirado do fogo do inferno onde o atiraram, melhor para os costumes políticos

FREUD GODOY precisa ser explicitamente exonerado das suspeitas que o levaram a um patíbulo moral. De acordo com o atual estágio das investigações das traficâncias petistas, ele nada teve a ver com o episódio do dossiê Vedoin. Enquanto houver alguém assegurando o contrário, a injustiça e o linchamento prevalecerão sobre a lei e o direito.
Na madrugada de sexta-feira, 15 de setembro, o tabajara Gedimar Passos, preso enquanto mercadejava o dossiê por R$ 1,7 milhão, contou à Polícia Federal que agiu "a mando" de um capa-preta do PT "chamado Froude ou Freud".
No domingo, dia 17, o depoimento de Gedimar vazou para a imprensa e ligou-se (corretamente) o nome à pessoa. O capa-preta era Freud Godoy, parceiro de caminhadas de Nosso Guia no Torto e assessor especial da Presidência da República. O mundo desabou-lhe sobre a cabeça. Lula telefonou para sua casa, Freud demitiu-se do cargo, teve os passos acompanhados por dezenas de jornalistas e apareceu ao país barbado, de camiseta, com um olhar de Delúbio Soares.
No dia seguinte o procurador Mário Lúcio Avelar pediu sua prisão, negada pela Justiça Federal. Ele viria a pedi-la de novo, e Freud só não dormiu na cadeia porque foi beneficiado pela trégua da Justiça Eleitoral.
O envolvimento de Freud no caso Vedoin comparava-se ao de Gregório Fortunato no atentado a Carlos Lacerda, em 1954. Ele se apresentou à polícia, negou que soubesse da malfeitoria e ofereceu a quebra de todos os seus sigilos. Listou quatro encontros que teve com Gedimar, tratando da segurança do comitê do PT em São Paulo, todos em agosto. Foram acareados, mas Gedimar manteve-se em silêncio.
Na condição de condenado, Freud sumiu. Sua defesa foi desconsiderada e ele encrencou-se por ter recebido R$ 120 mil das empresas de Marcos Valério e Duda Mendonça.
Circulou uma história segundo a qual Gedimar pusera o nome de Freud na roda para poupar o churrasqueiro Jorge Lorenzetti. O ex-policial não saberia de quem estava falando. Tentando tirar a bola da pequena área, chutara contra o próprio gol. Parecia piada.
Duas semanas depois da manhã em que Freud Godoy desceu aos infernos, prevalece sua inocência diante da acusação que lhe fez Gedimar (nada a ver com os saques valerianos e as contas pagas por Duda). A comparação das chamadas de seu celular com as do aparelho de Gedimar confirmaram o que ele contara: conversaram em agosto. A Justiça cassou a ordem de prisão que o ameaçava. A Polícia Federal disse que não tem indícios para acusá-lo. O procurador Avelar disse aos repórteres Fábio Victor e Leonardo Souza que, com base nos elementos de que dispõe, não pode acreditar no envolvimento de Freud na operação.
Zero a zero, bola ao centro. Se alguém tiver algo contra Freud Godoy, que conte, mas a partir da acusação que lhe fez Gedimar Passos, nada se pode dizer dele.
Quanto mais clara for a exoneração de Freud do inferno onde foi atirado, melhor para a saúde das instituições nacionais. Para começar, Freud vai exonerado da condenação que sofreu numa referência do signatário na qual foram levadas em conta suas relações perigosas, mas desprezado o essencial: sua defesa. A ele, o devido pedido de desculpas.

USARAM O SANTO NOME DO TIMES EM VÃO

O "New York Times" até hoje não esclareceu direito que o jornalista John Sharkey, passageiro do Legacy da Embraer que colidiu com o Boeing da Gol, escreve uma coluna semanal sobre o mercado de aviões executivos, mas estava a bordo do jatinho na condição exclusiva de free-lancer para a revista "Business Jet Traveler", a convite da empresa ExcelAire.
Uma coisa é ouvir o que diz um "repórter do Times". Bem outra é ouvir um free-lancer da "Business Jet Traveler" que viaja a convite de uma companhia com interesses envolvidos na questão. A diferença entre as duas situações está na credibilidade que a patuléia dá aos padrões jornalísticos das reportagens do "Times". Cobrindo o caso, o repórter Paulo Prada não teve o noticiário contaminado pela dupla condição de Sharkey.
Num artigo publicado pelo jornal quatro dias depois do acidente, Sharkey narrou sua experiência. Mencionou a condição de passageiro free-lancer, mas isso não foi suficiente para evitar a confusão.
Sharkey pouco contribuiu para a explicação do ocorrido, mas seu ofício não é o de desvendar causas de desastres. Dias depois, em entrevistas à CNN e à rede NBC, que o qualificaram como "repórter" do "Times", criticou genericamente o sistema de proteção aérea da Amazônia e temeu pela segurança dos pilotos que estão retidos num país onde meteram-se num acidente que matou 154 pessoas.
Noves fora o "Times", pode-se imaginar o seguinte: um jatinho de uma empresa brasileira rasga um Boeing de uma empresa americana e derruba-o sobre o Grand Canyon do Colorado. É exagero acreditar que os sete tripulantes e passageiros do Legacy acabarão em Guantánamo. Mas não é exagero garantir que nenhum deles será rapidamente liberado para escrever um artigo e dar entrevistas lançando suspeitas sobre o governo americano.

SEGUNDO TURNO
De uma mente malvada: "O Lula quer me vender um carro usado e o Alckmin quer vender um carro que não mostra".

ALTO NÍVEL
No seu encontro com Rosinha Garotinho, Geraldo Alckmin, candidato a presidente da República, recebeu alguns conselhos, típicos do nível de sua aliança:
1) Tire a fita do Bonfim do pulso.
2) Não tome banho de pipoca.
3) Não deixe a cigana ler sua mão.
A ilustre aliada do tucano esqueceu-se de uma recomendação: cuidado com a próxima sexta-feira. É dia 13.

CIÊNCIA
Está no forno um mecanismo de incentivo à participação de empresas privadas na pesquisa científica. A Viúva concederia um rebate no imposto de renda equivalente a até 2,5 vezes o investimento em projetos desenvolvidos na rede federal.
Coisa assim: Uma empresa que teve um lucro de R$ 1 milhão e investiu R$ 100 mil num projeto, terá uma redução de R$ 85 mil no Imposto de Renda devido. Em troca, receberá 15% da receita gerada por qualquer patente que resulte do trabalho científico. A iniciativa pode ajudar a desfazer o nó que amarra a ciência nacional. Pindorama tem 1,8% da produção científica mundial e apenas 0,5% das patentes registradas.

BODES BARBUDOS
A reação da banda aloprada do PT paulista à tentativa de expurgo amplo, geral e irrestrito dos seus dispositivos de inteligência, mídia e segurança é coisa séria. São muitos os barbudos, mas são poucos aqueles dispostos a virar bode.


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