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ELIO GASPARI
Lembra do Freud? Ele tinha razão
Quanto mais rápido ele for tirado do fogo do inferno onde o atiraram, melhor para os costumes políticos
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FREUD GODOY precisa ser explicitamente exonerado das suspeitas que o levaram a um patíbulo moral. De acordo com o atual
estágio das investigações das traficâncias petistas, ele nada teve a ver
com o episódio do dossiê Vedoin.
Enquanto houver alguém assegurando o contrário, a injustiça e o linchamento prevalecerão sobre a lei e
o direito.
Na madrugada de sexta-feira, 15 de
setembro, o tabajara Gedimar Passos, preso enquanto mercadejava o
dossiê por R$ 1,7 milhão, contou à
Polícia Federal que agiu "a mando"
de um capa-preta do PT "chamado
Froude ou Freud".
No domingo, dia 17, o depoimento
de Gedimar vazou para a imprensa e
ligou-se (corretamente) o nome à
pessoa. O capa-preta era Freud Godoy, parceiro de caminhadas de Nosso Guia no Torto e assessor especial
da Presidência da República. O mundo desabou-lhe sobre a cabeça. Lula
telefonou para sua casa, Freud demitiu-se do cargo, teve os passos acompanhados por dezenas de jornalistas
e apareceu ao país barbado, de camiseta, com um olhar de Delúbio Soares.
No dia seguinte o procurador Mário Lúcio Avelar pediu sua prisão, negada pela Justiça Federal. Ele viria a
pedi-la de novo, e Freud só não dormiu na cadeia porque foi beneficiado
pela trégua da Justiça Eleitoral.
O envolvimento de Freud no caso
Vedoin comparava-se ao de Gregório Fortunato no atentado a Carlos
Lacerda, em 1954. Ele se apresentou
à polícia, negou que soubesse da malfeitoria e ofereceu a quebra de todos
os seus sigilos. Listou quatro encontros que teve com Gedimar, tratando
da segurança do comitê do PT em
São Paulo, todos em agosto. Foram
acareados, mas Gedimar manteve-se
em silêncio.
Na condição de condenado, Freud
sumiu. Sua defesa foi desconsiderada e ele encrencou-se por ter recebido R$ 120 mil das empresas de Marcos Valério e Duda Mendonça.
Circulou uma história segundo a
qual Gedimar pusera o nome de
Freud na roda para poupar o churrasqueiro Jorge Lorenzetti. O ex-policial não saberia de quem estava falando. Tentando tirar a bola da pequena área, chutara contra o próprio
gol. Parecia piada.
Duas semanas depois da manhã
em que Freud Godoy desceu aos infernos, prevalece sua inocência diante da acusação que lhe fez Gedimar
(nada a ver com os saques valerianos
e as contas pagas por Duda). A comparação das chamadas de seu celular
com as do aparelho de Gedimar confirmaram o que ele contara: conversaram em agosto. A Justiça cassou a
ordem de prisão que o ameaçava. A
Polícia Federal disse que não tem indícios para acusá-lo. O procurador
Avelar disse aos repórteres Fábio
Victor e Leonardo Souza que, com
base nos elementos de que dispõe,
não pode acreditar no envolvimento
de Freud na operação.
Zero a zero, bola ao centro. Se alguém tiver algo contra Freud Godoy,
que conte, mas a partir da acusação
que lhe fez Gedimar Passos, nada se
pode dizer dele.
Quanto mais clara for a exoneração de Freud do inferno onde foi atirado, melhor para a saúde das instituições nacionais. Para começar,
Freud vai exonerado da condenação
que sofreu numa referência do signatário na qual foram levadas em
conta suas relações perigosas, mas
desprezado o essencial: sua defesa. A
ele, o devido pedido de desculpas.
USARAM O SANTO NOME DO TIMES EM VÃO
O "New York Times" até hoje não
esclareceu direito que o jornalista
John Sharkey, passageiro do Legacy
da Embraer que colidiu com o Boeing
da Gol, escreve uma coluna semanal
sobre o mercado de aviões executivos,
mas estava a bordo do jatinho na condição exclusiva de free-lancer para a
revista "Business Jet Traveler", a
convite da empresa ExcelAire.
Uma coisa é ouvir o que diz um "repórter do Times". Bem outra é ouvir
um free-lancer da "Business Jet Traveler" que viaja a convite de uma
companhia com interesses envolvidos na questão. A diferença entre as
duas situações está na credibilidade
que a patuléia dá aos padrões jornalísticos das reportagens do "Times". Cobrindo o caso, o repórter Paulo Prada
não teve o noticiário contaminado
pela dupla condição de Sharkey.
Num artigo publicado pelo jornal
quatro dias depois do acidente, Sharkey narrou sua experiência. Mencionou a condição de passageiro free-lancer, mas isso não foi suficiente para evitar a confusão.
Sharkey pouco contribuiu para a
explicação do ocorrido, mas seu ofício
não é o de desvendar causas de desastres. Dias depois, em entrevistas à
CNN e à rede NBC, que o qualificaram como "repórter" do "Times", criticou genericamente o sistema de
proteção aérea da Amazônia e temeu
pela segurança dos pilotos que estão
retidos num país onde meteram-se
num acidente que matou 154 pessoas.
Noves fora o "Times", pode-se imaginar o seguinte: um jatinho de uma
empresa brasileira rasga um Boeing de
uma empresa americana e derruba-o
sobre o Grand Canyon do Colorado. É
exagero acreditar que os sete tripulantes e passageiros do Legacy acabarão
em Guantánamo. Mas não é exagero
garantir que nenhum deles será rapidamente liberado para escrever um artigo e dar entrevistas lançando suspeitas sobre o governo americano.
SEGUNDO TURNO
De uma mente malvada: "O
Lula quer me vender um carro
usado e o Alckmin quer vender
um carro que não mostra".
ALTO NÍVEL
No seu encontro com Rosinha
Garotinho, Geraldo Alckmin,
candidato a presidente da República, recebeu alguns conselhos,
típicos do nível de sua aliança:
1) Tire a fita do Bonfim do pulso.
2) Não tome banho de pipoca.
3) Não deixe a cigana ler sua
mão.
A ilustre aliada do tucano esqueceu-se de uma recomendação: cuidado com a próxima sexta-feira. É dia 13.
CIÊNCIA
Está no forno um mecanismo
de incentivo à participação de
empresas privadas na pesquisa
científica. A Viúva concederia
um rebate no imposto de renda
equivalente a até 2,5 vezes o investimento em projetos desenvolvidos na rede federal.
Coisa assim: Uma empresa
que teve um lucro de R$ 1 milhão
e investiu R$ 100 mil num projeto, terá uma redução de R$ 85
mil no Imposto de Renda devido. Em troca, receberá 15% da
receita gerada por qualquer patente que resulte do trabalho
científico. A iniciativa pode ajudar a desfazer o nó que amarra a
ciência nacional. Pindorama
tem 1,8% da produção científica
mundial e apenas 0,5% das patentes registradas.
BODES BARBUDOS
A reação da banda aloprada do
PT paulista à tentativa de expurgo amplo, geral e irrestrito dos
seus dispositivos de inteligência,
mídia e segurança é coisa séria.
São muitos os barbudos, mas são
poucos aqueles dispostos a virar
bode.
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