São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recluso, Waldomiro Diniz vira um "fantasma" fiscal

Sem declarar Imposto de Renda desde 2005, ex-assessor de Dirceu já perdeu o CPF

Petista vai quase todos os dias a uma empresa de ração e produtos animais em Goiânia, mas ninguém esclarece qual a sua função

ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA

Três anos e oito meses depois de protagonizar o primeiro grande escândalo do governo Lula, o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz seria responsável pela área financeira de uma fábrica de ração e produtos para animais instalada em Goiânia -embora para a Receita Federal ele seja um fantasma, que não apresenta declarações de renda desde 2005 e tenha o CPF cancelado.
Como e do quê Waldomiro vive é um dos mistérios remanescentes do primeiro mandato de Lula. Ele, que era o braço-direito de José Dirceu no contato com o Congresso e é considerado um "arquivo vivo" do modus operandi do Planalto, desapareceu do ponto de vista fiscal e pessoal, raramente sendo avistado, e a tentativa de elucidar o caso levanta tantas dúvidas quanto respostas.
A começar pela participação de Waldomiro na sociedade, que se dá por meio da irmã, Maria Sueli, sócia de Rubens Marianni e Simon Goulden.
Só que Maria Sueli vive em Lins (SP). Apesar da distância de centenas de quilômetros, no contrato social da Brazilian Pet Products Ltda, figura como sócia administradora, como Marianni e Goulden, que chegam ao local de trabalho antes das 8h diariamente. A empresa não tem CNPJ registrado, o que a torna inexistente do ponto de vista fiscal e operacional.
A situação criada funciona como se fosse um contrato de gaveta: dá aos sócios a garantia de que o negócio existe, de que eles têm direitos proporcionais ao que investiram, apesar de a empresa viver à margem do fisco. Na mesma data em que entrou em funcionamento a empresa Brazilian Pet Products Ltda., os sócios Marianni e Goulden, que disseram à Folha ser amigos de Waldomiro, registraram na Junta Comercial o início das atividades de uma outra firma, a Brazilian Pet Produtos Especiais Ltda., essa sim com CNPJ e sem problemas com a Receita Federal.
Eles negam ser sócios de Waldomiro. Contraditoriamente, Marianni assume que o amigo trabalhou na empresa no seu início, em 2005. Já Goulden afirma que ele usa salas e telefones para tocar negócios próprios, situação permitida em nome da amizade.
Ambos dizem que o registro da sociedade com a irmã de Waldomiro foi uma tentativa de negócio que não foi adiante. Usam como argumento o fato de nunca terem cadastrado a empresa na Receita Federal.
Conforme os registros da Junta Comercial de Goiás, ambas as empresas entraram em atividade em 1º de abril de 2005.
Waldomiro é alvo de investigação do Ministério Público e da Polícia Federal, sob a suspeita de ter sido também um dos intermediários do governo petista para negociar, mediante pagamento de propina, a renovação em abril de 2003 de contrato de R$ 700 milhões da Caixa Econômica Federal com a a multinacional GTech para a gestão dos sistema de loterias do país.
Por conta da investigação, Waldomiro foi alvo de fiscalização da Receita Federal, que agora lhe cobra uma dívida de R$ 335 mil. A Braz Pet Produtos Especiais, segundo Marianni, que se recusou a gravar entrevista com a Folha na manhã de sexta-feira, fatura entre R$ 400 mil e R$ 500 mil mensais e emprega 350 funcionários.
Na quinta, a Folha passou o dia em frente à empresa. Waldomiro não entrou. Os sócios chamaram a Polícia Militar para verificar o que a reportagem fazia lá. Revistaram, armas em punho, os repórteres.
Às 17h, no final do expediente da quinta-feira, oito funcionários da empresa confirmaram à Folha que Waldomiro freqüenta a Braz Pet, apesar de não terem certeza de seu papel.


Texto Anterior: Eleição do PT paulista terá disputa acirrada
Próximo Texto: Empresários negam ser sócios de Waldomiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.