|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Recluso, Waldomiro Diniz vira um "fantasma" fiscal
Sem declarar Imposto de Renda desde 2005, ex-assessor de Dirceu já perdeu o CPF
Petista vai quase todos os
dias a uma empresa de
ração e produtos animais
em Goiânia, mas ninguém
esclarece qual a sua função
ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA
Três anos e oito meses depois
de protagonizar o primeiro
grande escândalo do governo
Lula, o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil
Waldomiro Diniz seria responsável pela área financeira de
uma fábrica de ração e produtos para animais instalada em
Goiânia -embora para a Receita Federal ele seja um fantasma, que não apresenta declarações de renda desde 2005 e tenha o CPF cancelado.
Como e do quê Waldomiro
vive é um dos mistérios remanescentes do primeiro mandato de Lula. Ele, que era o braço-direito de José Dirceu no contato com o Congresso e é considerado um "arquivo vivo" do
modus operandi do Planalto,
desapareceu do ponto de vista
fiscal e pessoal, raramente sendo avistado, e a tentativa de elucidar o caso levanta tantas dúvidas quanto respostas.
A começar pela participação
de Waldomiro na sociedade,
que se dá por meio da irmã, Maria Sueli, sócia de Rubens Marianni e Simon Goulden.
Só que Maria Sueli vive em
Lins (SP). Apesar da distância
de centenas de quilômetros, no
contrato social da Brazilian Pet
Products Ltda, figura como sócia administradora, como Marianni e Goulden, que chegam
ao local de trabalho antes das
8h diariamente. A empresa não
tem CNPJ registrado, o que a
torna inexistente do ponto de
vista fiscal e operacional.
A situação criada funciona
como se fosse um contrato de
gaveta: dá aos sócios a garantia
de que o negócio existe, de que
eles têm direitos proporcionais
ao que investiram, apesar de a
empresa viver à margem do fisco. Na mesma data em que entrou em funcionamento a empresa Brazilian Pet Products
Ltda., os sócios Marianni e
Goulden, que disseram à Folha
ser amigos de Waldomiro, registraram na Junta Comercial
o início das atividades de uma
outra firma, a Brazilian Pet
Produtos Especiais Ltda., essa
sim com CNPJ e sem problemas com a Receita Federal.
Eles negam ser sócios de
Waldomiro. Contraditoriamente, Marianni assume que o
amigo trabalhou na empresa
no seu início, em 2005. Já
Goulden afirma que ele usa salas e telefones para tocar negócios próprios, situação permitida em nome da amizade.
Ambos dizem que o registro
da sociedade com a irmã de
Waldomiro foi uma tentativa
de negócio que não foi adiante.
Usam como argumento o fato
de nunca terem cadastrado a
empresa na Receita Federal.
Conforme os registros da
Junta Comercial de Goiás, ambas as empresas entraram em
atividade em 1º de abril de
2005.
Waldomiro é alvo de investigação do Ministério Público e
da Polícia Federal, sob a suspeita de ter sido também um
dos intermediários do governo
petista para negociar, mediante pagamento de propina, a renovação em abril de 2003 de
contrato de R$ 700 milhões da
Caixa Econômica Federal com
a a multinacional GTech para a
gestão dos sistema de loterias
do país.
Por conta da investigação,
Waldomiro foi alvo de fiscalização da Receita Federal, que
agora lhe cobra uma dívida de
R$ 335 mil. A Braz Pet Produtos Especiais, segundo Marianni, que se recusou a gravar entrevista com a Folha na manhã
de sexta-feira, fatura entre R$
400 mil e R$ 500 mil mensais e
emprega 350 funcionários.
Na quinta, a Folha passou o
dia em frente à empresa. Waldomiro não entrou. Os sócios
chamaram a Polícia Militar para verificar o que a reportagem
fazia lá. Revistaram, armas em
punho, os repórteres.
Às 17h, no final do expediente da quinta-feira, oito funcionários da empresa confirmaram à Folha que Waldomiro freqüenta a Braz Pet, apesar de
não terem certeza de seu papel.
Texto Anterior: Eleição do PT paulista terá disputa acirrada Próximo Texto: Empresários negam ser sócios de Waldomiro Índice
|