São Paulo, Segunda-feira, 08 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MISCELÂNEA

Guerrilheiros e militantes de esquerda discutirão em Belém (PA) formas de combate ao neoliberalismo

Evento reunirá zapatistas, Farc e MST

RICARDO GALHARDO
da Reportagem Local

SORAYA AGÉGE
Editora da Folha Campinas

Pelo menos 1.500 militantes de esquerda devem acampar em ginásios, escolas e áreas abertas de Belém (PA), entre os dias 6 e 11 de dezembro, para debater propostas contra o neoliberalismo e o processo de globalização econômica. O 2º Encontro Americano pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo vai reunir um verdadeiro "balaio de gatos" ideológico.
Vão participar dos debates desde organizações guerrilheiras, como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o próprio EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), até organismos religiosos como a CPT (Comissão Pastoral da Terra), além do PRC (Partido de Refundação Comunista) italiano, partidos políticos da esquerda brasileira, MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra), MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), além de Greenpeace, CUT (Central Única dos Trabalhadores) e grupos indígenas.
O encontro é organizado pela Prefeitura de Belém (PA) e pelo Centro Memorial Cabano.
Segundo um dos coordenadores do evento, Manoel Lima Amaral, 26, são esperados aproximadamente 1.500 delegados e mil participantes.

Primeiro encontro
O primeiro encontro foi realizado em Chiapas (região sul do México), em 96. "O segundo será realizado em Belém porque a cidade tem a característica de portal da Amazônia e funciona como referência indígena", disse Amaral.
"O Brasil foi escolhido para sediar o segundo encontro porque tem um peso geopolítico maior que o do México", disse Magno Carvalho, fundador do Comitê de Solidariedade às Comunidades Zapatistas de São Paulo.
Segundo Carvalho, a difusão do zapatismo no Brasil é definida como crucial pelo próprio subcomandante Marcos, líder do EZLN, para o sucesso do movimento mexicano.

"Internacional da Esperança"
"Vamos trocar experiências, mas também queremos unificar um plano de ação conjunta para a implantação da "Internacional da Esperança" (organismo mundial que congregaria minorias do mundo todo, idealizado pelo subcomandante Marcos)", afirmou.

Custos
Segundo Carvalho, embora o encontro reúna grupos guerrilheiros, o evento deverá discutir apenas modos pacíficos de combate ao neoliberalismo. O comitê de organização informou que o evento terá seus custos cobertos pelos próprios participantes, que pagarão US$ 3 e US$ 7.
Além do próprio EZLN, as principais "estrelas" do encontro serão o MST, as Farcs (Colômbia) e até os Panteras Negras (EUA), que atuaram nos EUA na década de 70 e foram acusados de ações terroristas. Também participarão representantes de comunidades indígenas desde o Canadá até a Argentina, homossexuais, punks, anarquistas, sindicatos, mulheres etc. Apesar do caráter continental, o evento contará com a participação de grupos europeus e africanos.

"Destino"
No material de divulgação do encontro há uma convocação do próprio Marcos: "Todos os ventos já têm um destino: Belém, Pará, Brasil".
Desde a semana passada, o zapatista Edur Velasco, da FZLN (Frente Zapatista de Libertação Nacional), braço civil do EZLN, está no Brasil cuidando dos últimos preparativos para o encontro. Na quinta-feira ele se reuniu com o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva. Na sexta, Velasco participou de um debate na USP (Universidade de São Paulo) com estudantes.
A página da organização do encontro na Internet é www.encontroamericano.com.br.


Texto Anterior: Liberdade valia US$ 15 mil
Próximo Texto: Lema do EZLN é "terra e liberdade"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.