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NO AR
Sem qualquer relação
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Pedro Parente acaba de ser
liberado pela Comissão de
Ética Pública, que ele mesmo
criou e sobre a qual já mostrou
ter ascendência, para assumir
como vice-presidente da RBS
sem quarentena.
É o grupo que retransmite a
TV Globo no Rio Grande do Sul
-e que é sócio da Net, TV paga
que recebeu R$ 284 milhões do
BNDES em março.
Nota do Palácio do Planalto
sublinhou que o ministro foi
funcionário público por 31 anos
-e que a comissão o liberou
porque as áreas de operação da
RBS não têm "qualquer relação
com suas funções".
Mas ele promete, de qualquer
maneira, só para garantir, que
não vai usar em favor da RBS as
"informações privilegiadas às
quais teve acesso".
Deve ser tudo verdade, mas é
preciso esforço para aceitar que
não há "qualquer relação" entre
as funções do ministro da Casa
Civil e a televisão.
Por exemplo, o governo de
FHC tinha como seu candidato
a governador, no Rio Grande do
Sul, Germano Rigotto.
Antes do segundo turno, a
RBS encomendou e divulgou as
seguintes pesquisas:
Uma semana antes, Rigotto
aparecia 24 pontos à frente de
Tarso Genro; um dia antes, 16
pontos à frente; na eleição, 12
pontos à frente.
Na apuração, a diferença foi
de meros cinco pontos.
Os números corretos estavam
o tempo todo na concorrência
da RBS, criticada violentamente
pela emissora e por Rigotto, que
falou em desmoralização do
instituto que deu os números,
afinal, corretos.
Tarso Genro, após a eleição,
tentou se debater declarando
que "as pesquisas que esse grupo
divulgou foram manipuladas
para desestimular".
Como em 89, jamais se vai
chegar a uma conclusão sobre o
efeito dos números no eleitor, se
foi decisivo ou não.
Mas a diferença da pesquisa
para a verdade foi tão chocante
que produziu pedidos públicos
de desculpas dos presidentes do
Ibope e da RBS.
A mesma RBS de que Pedro
Parente, servidor por 31 anos, se
tornará vice-presidente assim
que deixar o poder.
Pode dar em nada, mas o vago
pacto social de Lula ganhou o
Jornal Nacional, com cobertura
de "convocação nacional" já a
partir da manchete.
Ganhou também o inesperado
apoio de empresários do porte
de Abílio Diniz e do sindicalista
Paulo Pereira da Silva.
Sobretudo, ganhou pesquisas
-sempre elas. Levantamento
destacado na TV garantiu que
82,7% dos brasileiros acreditam
no tal pacto social.
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