São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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NO AR

Sem qualquer relação

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Pedro Parente acaba de ser liberado pela Comissão de Ética Pública, que ele mesmo criou e sobre a qual já mostrou ter ascendência, para assumir como vice-presidente da RBS sem quarentena.
É o grupo que retransmite a TV Globo no Rio Grande do Sul -e que é sócio da Net, TV paga que recebeu R$ 284 milhões do BNDES em março.
Nota do Palácio do Planalto sublinhou que o ministro foi funcionário público por 31 anos -e que a comissão o liberou porque as áreas de operação da RBS não têm "qualquer relação com suas funções".
Mas ele promete, de qualquer maneira, só para garantir, que não vai usar em favor da RBS as "informações privilegiadas às quais teve acesso".
Deve ser tudo verdade, mas é preciso esforço para aceitar que não há "qualquer relação" entre as funções do ministro da Casa Civil e a televisão.
Por exemplo, o governo de FHC tinha como seu candidato a governador, no Rio Grande do Sul, Germano Rigotto.
Antes do segundo turno, a RBS encomendou e divulgou as seguintes pesquisas:
Uma semana antes, Rigotto aparecia 24 pontos à frente de Tarso Genro; um dia antes, 16 pontos à frente; na eleição, 12 pontos à frente.
Na apuração, a diferença foi de meros cinco pontos.
Os números corretos estavam o tempo todo na concorrência da RBS, criticada violentamente pela emissora e por Rigotto, que falou em desmoralização do instituto que deu os números, afinal, corretos.
Tarso Genro, após a eleição, tentou se debater declarando que "as pesquisas que esse grupo divulgou foram manipuladas para desestimular".
Como em 89, jamais se vai chegar a uma conclusão sobre o efeito dos números no eleitor, se foi decisivo ou não.
Mas a diferença da pesquisa para a verdade foi tão chocante que produziu pedidos públicos de desculpas dos presidentes do Ibope e da RBS.
A mesma RBS de que Pedro Parente, servidor por 31 anos, se tornará vice-presidente assim que deixar o poder.
 
Pode dar em nada, mas o vago pacto social de Lula ganhou o Jornal Nacional, com cobertura de "convocação nacional" já a partir da manchete.
Ganhou também o inesperado apoio de empresários do porte de Abílio Diniz e do sindicalista Paulo Pereira da Silva.
Sobretudo, ganhou pesquisas -sempre elas. Levantamento destacado na TV garantiu que 82,7% dos brasileiros acreditam no tal pacto social.



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