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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Apontado pelo Ministério Público como mentor de suposto esquema de venda de sentenças judiciais, ficará na carceragem da PF

Polícia prende juiz federal Rocha Mattos

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, foi preso ontem pela Polícia Federal. Apontado como o "mentor" de um esquema de venda de sentenças judiciais, o magistrado é acusado dos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, peculato (apropriação indevida de bem público), prevaricação e corrupção passiva.
A prisão de Rocha Mattos foi decidida ontem mesmo, em uma reunião do órgão especial do TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo, formado pelos 18 desembargadores mais antigos. Eles aprovaram o parecer da desembargadora Therezinha Cazerta, relatora do processo em que os juiz é acusado. Antes disso, os desembargadores determinaram o afastamento de Rocha Mattos da função de juiz titular da 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
No final da reunião, Cazerta determinou à PF que prendesse o juiz, que estava no apartamento da ex-mulher Norma Regina Emílio Cunha, na praça da República, centro de São Paulo. Cunha, ex-auditora da Receita Federal, foi detida no dia 30, também por suposto envolvimento no esquema.
Os agentes da PF chegaram ao apartamento, para cumprir a ordem de prisão preventiva às 17h55, aproximadamente uma hora antes de Rocha Mattos chegar ao local. O juiz não tentou se esconder e informou aos repórteres o local onde estava.
Segundo agentes da PF que efetuaram a prisão, o juiz recebeu o pedido com tranquilidade. Rocha Mattos foi levado para a sede da PF regional em São Paulo, no bairro da Lapa (zona oeste), uma hora e 15 minutos após a entrada dos policiais no apartamento.
A demora para que a prisão fosse efetuada ocorreu em virtude de falhas no mandado de prisão, que tiveram de ser corrigidas.
Nesse intervalo, a reportagem telefonou para o apartamento de Cunha e um homem, que se apresentou como agente federal, atendeu o telefone e afirmou que o juiz não poderia falar.
Rocha Mattos pediu aos agentes da PF para deixar o prédio pela garagem, evitando assim o constrangimento de passar pela calçada, ocupada por cerca de 80 pessoas, entre jornalistas e curiosos.
Rocha Mattos, que estava no apartamento com um sobrinho da ex-mulher, deixou o prédio às 19h10 em um Astra prata, com vidros escuros. O veículo deixou a garagem escoltado por um carro da Polícia Federal e por um Vectra, também com agentes da PF.
Enquanto era levado pelos policiais, o juiz ouviu de algumas pessoas que esperavam sua prisão na calçada, gritos de "juiz ladrão, juiz ladrão". O Astra com Rocha Mattos chegou à carceragem da PF, no bairro da Lapa, às 19h25.
Segundo o delegado da PF Wagner Castilho, o juiz foi levado a uma cela especial de dois por três metros que vai dividir com outro preso, cujo nome não foi divulgado. Rocha Mattos está em uma área destinada aos homens presos com curso superior. Nela existem três celas com comunicação entre elas, onde também estão o delegado José Augusto Bellini, o delegado aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva, e o agente Cesar Herman Rodriguez, também denunciados pelo Ministério Público.
O juiz recusou o jantar ontem. No verso do mandado de prisão ele escreveu um texto no qual pediu que fosse divulgado aos repórteres. Nele, ele solicitou ser ouvido em "caráter urgente" pelo TRF. Também afirmou que ficou "abismado" ao ler o mandado de prisão e sustentou que os documentos que teriam sido encontrados pela PF em seu apartamento, em Higienópolis (região central), "jamais estiveram" lá.
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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