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Disputa interna na polícia se acentua
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma frase lacônica da Divisão
de Comunicação Social -a voz
oficial do diretor-geral da Polícia
Federal, Paulo Lacerda- expôs
ontem uma disputa interna que
parecia ter sido arrefecida após o
encontro do ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, com o superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, no
início desta semana.
"Até as 16h45, a diretoria geral
não havia recebido nenhum pedido de afastamento do corregedor
de São Paulo, Dirceu Bertin", informou a divisão. Explicitou-se,
com isso, como andam as relações entre Lacerda e Baltazar.
O afastamento
Horas antes, a PF paulista divulgara nota informando que foram
afastados de suas funções os delegados Dirceu Bertin, corregedor,
e José Augusto Bellini, responsável pela área de emissão de passaportes. São dois cargos de confiança, cujos ocupantes foram indicados por Baltazar.
Os dois delegados estão sob suspeita na Operação Anaconda, investigação da PF que apura a existência de uma quadrilha especializada na venda de sentenças judiciais e no retardamento de inquéritos federais. Bertin e Bellini fariam parte da quadrilha, segundo
denúncia do Ministério Público
Federal à Justiça.
Até o momento, a PF não divulgou provas consistentes do envolvimento deles no esquema. Ampara-se no sigilo judicial, decretado pelo Tribunal Regional Federal. Bellini foi preso na semana
passada, com outras sete pessoas.
Não houve mandado de prisão
para o corregedor Bertin.
As prisões serviram de estopim
para tornar público o racha na
Polícia Federal. Baltazar reclamou
por não ter sido informado da
operação com antecedência.
Ameaçou abandonar o cargo. O
ministro da Justiça almoçou com
o superintendente para contornar
a crise. O racha, porém, só fez aumentar desde então.
Para minimizar a disputa, Bastos equilibra-se entre duas forças.
Baltazar foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), de quem foi segurança nas
quatro campanhas presidenciais
(89, 94, 98, 2002). Lula chegou a
indicá-lo para a diretoria geral da
Polícia Federal, mas Bastos convenceu o presidente a aceitar Lacerda. Seria mais profissional, argumentou na época.
Aposentado, o chefe atual da PF
trabalhava no gabinete do senador Romeu Tuma (PFL-SP), seu
antecessor no cargo, quando foi
chamado pelo ministro da Justiça.
Baltazar e Lacerda sabem da negociação de Bastos com Lula. Isso
alimenta pretensões do superintendente paulista de assumir a diretoria geral.
Após se encontrar com o ministro no início da semana, Baltazar
chegou a dizer a colegas que derrubaria Lacerda, segundo a Folha
apurou. Tentou falar com Lula,
mas não conseguiu, devido à viagem do presidente para a África.
Alerta
Quando Baltazar escolheu Bertin e Bellini no início do ano, recebeu um alerta. Um mensageiro da
Divisão de Inteligência Policial,
conhecido internamente como
serviço secreto da PF, avisou Baltazar que membros de sua equipe
tinham "alguns problemas".
No dia 31, o delegado Reinaldo
de Almeida César, intitulado porta-voz da Operação Anaconda,
disse, em Brasília, que Bertin deveria deixar o cargo, porque havia
sido denunciado pelo Ministério
Público. O afastamento só se concretizou ontem, uma semana depois. A demora causou ainda
mais desgaste à imagem de Baltazar na PF.
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