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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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Disputa interna na polícia se acentua

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma frase lacônica da Divisão de Comunicação Social -a voz oficial do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda- expôs ontem uma disputa interna que parecia ter sido arrefecida após o encontro do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com o superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, no início desta semana.
"Até as 16h45, a diretoria geral não havia recebido nenhum pedido de afastamento do corregedor de São Paulo, Dirceu Bertin", informou a divisão. Explicitou-se, com isso, como andam as relações entre Lacerda e Baltazar.

O afastamento
Horas antes, a PF paulista divulgara nota informando que foram afastados de suas funções os delegados Dirceu Bertin, corregedor, e José Augusto Bellini, responsável pela área de emissão de passaportes. São dois cargos de confiança, cujos ocupantes foram indicados por Baltazar.
Os dois delegados estão sob suspeita na Operação Anaconda, investigação da PF que apura a existência de uma quadrilha especializada na venda de sentenças judiciais e no retardamento de inquéritos federais. Bertin e Bellini fariam parte da quadrilha, segundo denúncia do Ministério Público Federal à Justiça.
Até o momento, a PF não divulgou provas consistentes do envolvimento deles no esquema. Ampara-se no sigilo judicial, decretado pelo Tribunal Regional Federal. Bellini foi preso na semana passada, com outras sete pessoas. Não houve mandado de prisão para o corregedor Bertin.
As prisões serviram de estopim para tornar público o racha na Polícia Federal. Baltazar reclamou por não ter sido informado da operação com antecedência. Ameaçou abandonar o cargo. O ministro da Justiça almoçou com o superintendente para contornar a crise. O racha, porém, só fez aumentar desde então.
Para minimizar a disputa, Bastos equilibra-se entre duas forças. Baltazar foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem foi segurança nas quatro campanhas presidenciais (89, 94, 98, 2002). Lula chegou a indicá-lo para a diretoria geral da Polícia Federal, mas Bastos convenceu o presidente a aceitar Lacerda. Seria mais profissional, argumentou na época.
Aposentado, o chefe atual da PF trabalhava no gabinete do senador Romeu Tuma (PFL-SP), seu antecessor no cargo, quando foi chamado pelo ministro da Justiça. Baltazar e Lacerda sabem da negociação de Bastos com Lula. Isso alimenta pretensões do superintendente paulista de assumir a diretoria geral.
Após se encontrar com o ministro no início da semana, Baltazar chegou a dizer a colegas que derrubaria Lacerda, segundo a Folha apurou. Tentou falar com Lula, mas não conseguiu, devido à viagem do presidente para a África.

Alerta
Quando Baltazar escolheu Bertin e Bellini no início do ano, recebeu um alerta. Um mensageiro da Divisão de Inteligência Policial, conhecido internamente como serviço secreto da PF, avisou Baltazar que membros de sua equipe tinham "alguns problemas".
No dia 31, o delegado Reinaldo de Almeida César, intitulado porta-voz da Operação Anaconda, disse, em Brasília, que Bertin deveria deixar o cargo, porque havia sido denunciado pelo Ministério Público. O afastamento só se concretizou ontem, uma semana depois. A demora causou ainda mais desgaste à imagem de Baltazar na PF.


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