São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO

Instituição contratou como consultores dois ex-auxiliares de Palocci: Poleto e Barquete

Banco Prosper aumenta em 1.000% repasses do BNDES

MARIO CESAR CARVALHO
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Prosper, que contratou como consultores dois ex-auxiliares do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, aumentou em 1.043% os repasses de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre 2001 e 2004.
Os repasses saltaram de R$ 1,471 milhão em 2001 para R$ 16,822 milhões no ano passado. Neste ano, de janeiro a julho, o volume de recursos do BNDES repassados pelo Prosper somam R$ 20,692 milhões (veja a evolução no quadro nesta página).
O economista Vladimir Poleto, apontado pelo advogado Rogério Buratti como o responsável pelo transporte de dólares que o PT teria recebido de Cuba, foi consultor do Banco Prosper entre janeiro de 2004 e junho deste ano.
Outro assessor de Palocci, Ralf Barquete, também assessorou o banco por dois meses, no início do ano passado, antes de morrer de câncer, aos 51 anos.
Gravações feitas pela Polícia Civil de São Paulo, com autorização judicial, mostram Buratti e Poleto conversando sobre uma reunião que estava sendo articulada pela dupla entre o presidente do Banco Prosper, Edson Menezes, e Palocci. "Mas é o chefe que quer falar direto com o Edson", diz Poleto. "Chefe", segundo Buratti, era a forma como Palocci era chamado pelos assessores.
A conversa entre Buratti e Poleto foi gravada em 3 de julho do ano passado. Três meses depois, Palocci recebeu o presidente do Prosper. Em entrevista que deu em agosto deste ano, o ministro disse que recebera Menezes no Ministério da Fazenda porque ele dirigia a Bolsa de Valores do Rio, uma instituição tão inexpressiva que não tem pregão. O ministro manteve ainda um segundo encontro com o presidente do Prosper, no Rio de Janeiro.
Menezes fez pelo menos dois favores para Palocci: contratou Vladimir Poleto e Ralf Barquete como consultores. Poleto, que trabalhara na Secretaria da Fazenda na segunda passagem de Palocci pela Prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), tinha expectativa de ser agraciado com algum cargo no governo federal com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, três anos atrás.
Barquete foi colocado por Palocci não no Ministério da Fazenda, como ele esperava, mas numa assessoria sem uma missão muito definida na presidência da Caixa Econômica Federal.
Foi nesse cargo que Barquete teria tomado conhecimento de que a GTech fora abordada por Waldomiro Diniz ao renegociar um contrato de R$ 650 milhões com a Caixa e pediu a Buratti para sondar o que ocorria.
A ida de Barquete e Poleto para o Banco Prosper permitiu que Palocci se livrasse de dois assessores que tinham potencial para criar problemas. O episódio da GTech é um exemplo desse potencial, no caso de Barquete.
O Prosper informou que a consultoria fornecida por Poleto não teve qualquer relação com o aumento dos repasses do BNDES. Os aumentos, segundo o banco, decorrem da estratégia adotada pela instituição.
O maior aumento em termos percentuais ocorreu entre 2001 e 2002, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso -de 493%. O Prosper saiu do patamar de cerca de R$ 1,5 milhão e atingiu R$ 8,7 milhões.
Foi só em 2005, no entanto, que o banco ultrapassou a casa dos R$ 20 milhões em apenas sete meses de atividade.


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