São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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JANIO DE FREITAS

O dito pelo não dito

A dupla desgraça que é uma segunda-feira com chuva foi neutralizada já de manhãzinha, com a boa informação dada pelo programa de Lula no rádio: o seu governo, disse ele, é voltado para os pobres.
Ainda de manhã, soube-se que o Bradesco fez, só até setembro, o maior lucro da história financeira do Brasil mesmo em comparação com lucros de um ano inteiro. Considerada a proporção entre, de uma parte, a economia e outras condições do país, e, de outra, o lucro bancário, os mais de R$ 4 bilhões ganhos pelo Bradesco têm tudo para ser recorde no mundo. Ao Bradesco, parabéns.
Ao pobre Lula, isso mesmo, que pobreza.

Desdito
Se algum deputado interessar-se pelo tema, depois de amanhã haverá oportunidade de atacar uma contradição que vai passando ilesa na história dos ditos dólares ditos cubanos para a campanha de Lula. Vladimir Poleto, o economista e ex-assessor do então prefeito Antonio Palocci que transportou as ditas caixas com o dito dinheiro, é esperado na CPI dos Bingos para depor a partir das 11h. E a história que deu à "Veja", como peça fundamental da denúncia, reduz-se à mentira em seu ponto mais importante, quando se atenta para a aparente confirmação feita por sua dita testemunha.
Com os convenientes pormenores, até de horas, Vladimir Poleto contou à revista que foi mandado ao aeroporto de Congonhas e dali saiu, em avião particular emprestado, para Brasília, onde um pequeno desencontro foi superado e, afinal, ele embarcou com as três ditas caixas de volta até Campinas.
O piloto Alécio Fongaro lembra-se do vôo. Em narrativa a Catia Seabra, preciosa repórter da Folha, pôde fazer referências precisas a pormenores, inclusive de horas. Mas decolou de Penápolis, e não de Congonhas, na capital. Não levava Poleto: voou sozinho até Brasília, onde uma pequena espera se encerrou com a chegada de Poleto e suas ditas caixas, para a volta até Campinas.
O piloto de um pequeno avião jamais se enganaria sobre a presença, ou não, de companhia a bordo. E Vladimir Poleto ainda tem que explicar por que um economista é mandado de São Paulo a Brasília para pegar três caixas de bebida, já que, tão servilmente prestativo, na ocasião nem imaginava que as ditas caixas não contivessem senão bebidas.

O visitante
Os analistas da Cúpula das Américas podem ter toda a razão, ao depositar nas divergências em torno da Alca o aspecto relevante da reunião de presidentes. Mas, vistas as coisas com olhos mais cansados, parece que Bush estava pouco se incomodando com Alca e quaisquer outras divergências. Sua viagem foi uma operação de relações públicas, na qual esbanjou simpatia. Até à franqueza crítica de Néstor Kirchner respondeu com compreensão e retribuiu com elogios.
Imperdoável na visita de Bush, só a montagem do palco, para as declarações presidenciais, bem no campo de futebol da Granja do Torto. Esse campo compõe, com a churrasqueira do Alvorada, as realizações mais notáveis de engenharia civil do governo para os pobres.


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