|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
Blindagem para o andar de baixo
Em vez de pensar como
é que se vai tungar todo mundo, deve-se discutir quem não pode ser tungado
COM A PALAVRA o ministro da
Previdência, Nelson Machado, numa entrevista à repórter Ellen Nogueira:
- Se for para eliminar o fator previdenciário, é preciso impor a idade
mínima.
Parece javanês, mas significa o seguinte: se os trabalhadores não cuidarem de seus interesses, vem aí
mais uma tunga na Previdência, a
terceira nos últimos 12 anos. Isso no
governo de um ilustre pensionista
da Viúva. Em 1995, aos 51 anos, Nosso Guia ganhou uma Bolsa-Ditadura
que lhe rende R$ 4.509,68 mensais,
cumulativos com o AeroLula e a base naval para o feriadão.
Cozinha-se a definição de uma
idade mínima para a aposentadoria
por tempo de contribuição. Talvez
55 anos para as mulheres e 60 para
os homens, talvez mais. Como no
andar de baixo não existe aposentadoria, mas abono-velhice, pois a patuléia não pára de trabalhar, é tunga
em estado puro.
O doutor Machado acha que esse
problema deve ser discutido, pois as
suas arcas deverão fechar o ano com
um buraco de R$ 41 bilhões. Mas é o
caso de retomar o espírito da campanha eleitoral para tratar o problema de uma outra maneira. Não só a
crise da Previdência como também
a rediscussão das leis trabalhistas.
Em vez de pensar como é que se
vai tungar todo mundo (menos Nosso Guia), deve-se discutir quem é
que não pode ser tungado, traçando-se uma linha de proteção mínima
para os trabalhadores de pouca renda. Pode passar pelo nível de algo entre R$ 350 e R$ 700. Seria uma risca
de giz: abaixo daí, ninguém tasca.
Todos os trabalhadores brasileiros teriam assegurados todos os direitos, até o valor da risca de giz.
Aposentadoria aos 55 anos para o cidadão que contribuiu de acordo com
a lei? Só até o valor da risca de giz.
Multa de 40% sobre o FGTS para o
empregado demitido sem justa causa? Tudo bem, tomando-se o valor
da risca de giz para o cálculo. Aviso
prévio? A mesma coisa. Adicional
sobre as férias? Também.
A idéia não é tungar quem estiver
acima da risca de giz, mas impedir
que, mais uma vez, tunguem quem
está abaixo. Acima dela, todas as
mudanças podem ser negociadas,
escalonadas e discutidas, até porque
ali estão pessoas que sabem defender seus interesses. O que não se pode é, mais uma vez, avançar sobre o
trabalhador que ganha pouco. Se o
doutor Nelson Machado puder explicar em Cidade Tiradentes que os
moradores do pedaço só se aposentarão depois dos 60 anos, mas Lula
fez o certo ao pegar seu Bolsa-Ditadura aos 51, convém que deixe o Ministério da Previdência. Deve assumir o comando das operações americanas no Iraque, que tanto necessitam de um bom explicador.
A discussão da Previdência e das
leis trabalhistas é necessária. O Sistema S, por exemplo, pode ser retirado da folha de pagamento das empresas e repassado ao Tesouro. É
uma obra inestimável? Então que
passe ao Tesouro com o dobro do valor (de R$ 9 bilhões para R$ 18 bilhões). A pelanca dos confiscos sindicais pode ser submetida ao discernimento dos trabalhadores. Todos
dão um dia de salário ao sindicatos.
Acima disso, só dá quem quiser, por
documento individual, expresso e
assinado.
A risca de giz criaria uma rede de
proteção social que beneficiaria diretamente o trabalhador de baixa
renda. Na velha história de dar o peixe ou ensinar a pescar, cria-se um
sistema para quem pesca pouco, evitando que caia na fila de distribuição
de sardinhas.
Texto Anterior: Foco: Alckmin promove festa de aniversário em São Paulo sem estrelas do partido Próximo Texto: Barjas e Vedoin assinaram ao menos sete convênios juntos Índice
|