São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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Câmara censura nudez com cabine e aviso

Direção da Casa menciona Estatuto da Criança e do Adolescente para restringir acesso a fotografia da travesti Rogéria

Fotógrafo e organizadores de exposição protestam; segundo a Câmara, muitos estudantes passam por salão onde está a imagem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma fotografia da travesti Rogéria, parte de uma exposição montada num dos salões da Câmara dos Deputados, teve sua visualização restrita ontem após uma determinação da direção da Casa. A imagem integra a exposição "Heróis", do fotógrafo Luiz Garrido, 62. Ela mostra Rogéria vestida apenas de camisa social e gravata.
A coordenadoria de relações públicas da Câmara rejeitou a exposição aberta da imagem, citando o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Os organizadores, para evitar a retirada da foto, improvisaram uma cabine, com uma entrada única, isolando-a. Na entrada, foi colocado um aviso: "Por determinação da Câmara dos Deputados, esta cabine acolhe a fotografia de Rogéria, cuja exibição aberta ao público não foi permitida". A Câmara informou a decisão aos organizadores ontem pela manhã, segundo Carla Osório, diretora da exposição. "Isso é arte, não é uma violência. Para não retirar a foto, que faz parte de um conjunto, foi colocada a cabine. Só acho que fica muito mal para a Câmara", afirmou Carla.
A exposição tem diversas fotos de personalidades, entre elas o arquiteto Oscar Niemeyer, o sociólogo Betinho, o ex-presidente Fernando Collor, o senador Antônio Carlos Magalhães e o técnico Zagallo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece fumando um charuto, enquanto o deputado federal Fernando Gabeira está numa foto de paletó, gravata, short e chinelo "A foto da Rogéria tem mais de dez anos, já foi exposta até em prédios públicos. Isso é um ranço da época da ditadura", disse o fotógrafo.
A reclamação partiu de Silvia Mergulhão, diretora de relações públicas da Câmara. Ela citou os artigos 17 e 18 do ECA. Os artigos dizem que a criança tem o direito à "inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral" e que "é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor".
Segundo Silvia Mergulhão, o salão onde fica a exposição é ponto de passagem de muitas escolas que visitam a Câmara. "Não houve restrição nossa. O processo foi conduzido pela curadoria de forma equivocada. Essas fotos teriam de ser submetidas ao Ministério da Justiça antes de expostas, o que não foi feito", disse ela. Segundo ela, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não teve participação na decisão.
O fotógrafo Luiz Garrido pediu ajuda a Gabeira. "Estou tentando, nos bastidores, obter a liberação", disse o deputado. Antes de ser surpreendido pela proibição de Rogéria, Garrido esteve no Palácio do Planalto. Foi recebido por Lula. Entregou ao presidente uma cópia da foto que clicara no início da década de 90, uma das peças da exposição com as quais a direção da Câmara não implicou. (FÁBIO ZANINI)


Colaborou JOSIAS DE SOUZA, da Sucursal de Brasília


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