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Câmara censura nudez com cabine e aviso
Direção da Casa menciona Estatuto da Criança e do Adolescente para restringir acesso a fotografia da travesti Rogéria
Fotógrafo e organizadores
de exposição protestam; segundo a Câmara, muitos
estudantes passam por salão onde está a imagem
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma fotografia da travesti
Rogéria, parte de uma exposição montada num dos salões da
Câmara dos Deputados, teve
sua visualização restrita ontem
após uma determinação da direção da Casa.
A imagem integra a exposição "Heróis", do fotógrafo Luiz
Garrido, 62. Ela mostra Rogéria
vestida apenas de camisa social
e gravata.
A coordenadoria de relações
públicas da Câmara rejeitou a
exposição aberta da imagem,
citando o Estatuto da Criança e
do Adolescente.
Os organizadores, para evitar
a retirada da foto, improvisaram uma cabine, com uma entrada única, isolando-a.
Na entrada, foi colocado um
aviso: "Por determinação da
Câmara dos Deputados, esta
cabine acolhe a fotografia de
Rogéria, cuja exibição aberta ao
público não foi permitida".
A Câmara informou a decisão aos organizadores ontem
pela manhã, segundo Carla
Osório, diretora da exposição.
"Isso é arte, não é uma violência. Para não retirar a foto, que
faz parte de um conjunto, foi
colocada a cabine. Só acho que
fica muito mal para a Câmara",
afirmou Carla.
A exposição tem diversas fotos de personalidades, entre
elas o arquiteto Oscar Niemeyer, o sociólogo Betinho, o ex-presidente Fernando Collor, o
senador Antônio Carlos Magalhães e o técnico Zagallo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece fumando um
charuto, enquanto o deputado
federal Fernando Gabeira está
numa foto de paletó, gravata,
short e chinelo
"A foto da Rogéria tem mais
de dez anos, já foi exposta até
em prédios públicos. Isso é um
ranço da época da ditadura",
disse o fotógrafo.
A reclamação partiu de Silvia
Mergulhão, diretora de relações públicas da Câmara. Ela
citou os artigos 17 e 18 do ECA.
Os artigos dizem que a criança tem o direito à "inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral" e que "é dever de
todos velar pela dignidade da
criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou
constrangedor".
Segundo Silvia Mergulhão, o
salão onde fica a exposição é
ponto de passagem de muitas
escolas que visitam a Câmara.
"Não houve restrição nossa. O
processo foi conduzido pela curadoria de forma equivocada.
Essas fotos teriam de ser submetidas ao Ministério da Justiça antes de expostas, o que não
foi feito", disse ela.
Segundo ela, o presidente da
Câmara, Arlindo Chinaglia
(PT-SP), não teve participação
na decisão.
O fotógrafo Luiz Garrido pediu ajuda a Gabeira. "Estou tentando, nos bastidores, obter a
liberação", disse o deputado.
Antes de ser surpreendido
pela proibição de Rogéria, Garrido esteve no Palácio do Planalto. Foi recebido por Lula.
Entregou ao presidente uma
cópia da foto que clicara no início da década de 90, uma das
peças da exposição com as
quais a direção da Câmara não
implicou.
(FÁBIO ZANINI)
Colaborou JOSIAS DE SOUZA, da Sucursal de Brasília
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