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entrevista
"Choquei porque sou honesta", afirma Rogéria
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Rogéria, nome artístico de
Astolfo Barroso Pinto, 64,
acha que tem mais é que
"morrer de rir deste país".
Para ela, foi censura o fato
de o Congresso ter decidido
segregar da exposição a foto
em que mostra seus pêlos
pubianos. "Vocês da imprensa têm que cair de pau neles."
Apesar do incidente em
Brasília (leia texto nesta página), Rogéria, em entrevista
à Folha ontem, por telefone,
demonstrou o bom humor
ácido que é uma de suas
marcas, revelando que "jamais posaria de pau para fora, a não ser que recebesse
R$ 50 milhões".
Leia abaixo trechos da
conversa com Rogéria,
transformista desde a adolescência, ex-maquiadora de
TV, ex-vedete e um dos
maiores ícones gays do país.
FOLHA - O que achou de o Congresso ter decidido colocar a sua
foto dentro de uma cabine?
ROGÉRIA - Menina, acho
muito engraçado, tenho que
morrer de rir. Eles acabam
dando mais publicidade para
a foto.
FOLHA - Em sua opinião, é censura?
ROGÉRIA - É uma censura,
sim. Quem tem que cair de
pau neles são vocês da imprensa. Eu não posaria nua,
de pau para fora, jamais, a
não ser que me pagassem R$
50 milhões para eu não me
arrepender never [nunca].
Aquela foto é uma brincadeira com o Astolfo [Barroso
Pinto, seu nome verdadeiro].
Fotografamos há cerca de
três anos, e o Luiz Garrido
[fotógrafo] nem achou que
fosse fazer esse sucesso absoluto.
FOLHA - Acha curioso que o Congresso se incomode com essa
imagem?
ROGÉRIA - É suspeito que o
Congresso censure. Quando
um cara tem consciência de
sua masculinidade, esse tipo
de coisa [a foto] não o afeta.
Aí você coloca [no texto da
reportagem] etc.
Se eu estivesse de pau de
fora, seria um acinte, mas é
uma coisa engraçada. O governo não é chegado à arte,
ele é chegado a banalidades.
FOLHA - Você quer dizer os congressistas ou o governo?
ROGÉRIA - Os dois. E que não
saia nenhum processo para
mim [por essas declarações]
porque esse pessoal é filho da
mãe. Mas os brasileiros gostam de mim porque nunca fiquei dentro do armário, nunca neguei que fosse homem,
nunca fiz plástica ou escondi
a idade, sou autêntica.
Esse pessoal [do Congresso] ficou chocado porque eu
sou honesta.
FOLHA - Você foi vítima da censura no governo militar?
ROGÉRIA - Nunca. Uma vez
um delegado de polícia quis
encrencar comigo e pedi ajuda para a dona Marina, uma
censora. Ela mandou ele me
deixar em paz e continuei o
meu trabalho.
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