São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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JANIO DE FREITAS

O Muro, os muros


O homem não desaprendeu a construir muros para separação da humanidade e não aprendeu a demoli-los

OS 20 ANOS da queda do Muro de Berlim celebram um acontecimento que talvez nenhum dos seus contemporâneos, em qualquer parte do mundo, imaginasse ver. Quem acaso o fizesse, estaria inscrito entre os que passam por românticos das utopias. O Muro caiu, no entanto. E não caiu não por si mesmo, como uma ruína.
Tanto quanto o Muro vivo, o Muro inexistente tem valores simbólicos ainda incalculáveis na sua dimensão ideológica e política, mas o perceptível já é muito e suficiente para atribuir à queda o sentido de marco de uma nova era no planeta. Na dimensão humana, porém, quanto e o que o mudou? Se mudou.
As guerras se fazem com igual senão com mais facilidade, extinto o risco de se ampliarem até a confrontação dos mundos que o Muro dividia. Os países detentores de bombas nucleares, estes frutos da ideia de exterminar por inteiro a vida em outros países, são hoje mais numerosos, com a inclusão de China, Israel, Índia, Paquistão, talvez África do Sul, os pretendentes ou realizados Irã e Coreia do Norte, e não precisamos mover-nos para reconhecer mais ambiciosos do pesadelo.
Se mudou, é certo, ao menos, que o homem não desaprendeu a construir muros para separação da humanidade e não aprendeu a demoli-los. Só aprendeu a calar e não fazer barulho algum sobre os muros que constrói. Por exemplo, entre os Estados Unidos e o México, entre Israel e os palestinos. E outros que, é bem possível, se ergam ou sejam planejados em maior silêncio por aí afora.
O romantismo utópico não é hoje mais que um sopro. O que é bastante para provar que vive, ainda, mesmo nos Estados Unidos, em Israel, no México, vive entre os humanos. O que sempre é uma promessa.

Salve, salve
Honduras foi-se. Gente do mesmo tipo que a levou pensa em levar o Paraguai. A Venezuela balança entre dois empurrões. Há mais indícios, na mesma linha, a ameaçar o otimismo democrático latino-americano. E a defendê-lo? A OEA não é. E o que poderia ser não vai além do primeiro passo, que, além do mais, nem todos se dispõem a dar. Inclusive porque os planos combinados de Colômbia e Estados Unidos são muito particulares.
O Brasil, por sua vez, está em evidente barafunda nas suas instituições constitucionais. Mas, pela primeira vez na República, os militares, mais do que não a engrossarem, mantêm-se absolutamente à parte.
Nossas continências.


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