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Câmara debate capital externo na internet
Entidades querem que portais também tenham limite de 30% de investimento estrangeiro imposto a empresas de comunicação
Na visão de Abert e ANJ, a internet é apenas uma nova forma de veicular os mesmos produtos jornalísticos de TV, rádios, jornais e revistas
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
São os portais da internet
uma atividade empresarial semelhante à dos jornais e de
emissoras de rádio e de televisão? Pelo menos parte da mídia
brasileira entende que sim e
quer que o limite de participação de capital estrangeiro nos
grupos de comunicação seja estendido aos portais de notícia e
entretenimento que produzem
conteúdo no Brasil.
O tema será discutido em audiência pública na Comissão de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara
dos Deputados, na próxima
quarta-feira. É um assunto explosivo, que tem a ver com o
avanço das empresas de telefonia e dos portais estrangeiros e
com a disputa de mercado entre as teles e os grupos nacionais de mídia.
A Constituição limita a participação de capital estrangeiro
nas empresas de comunicação
(rádio, televisão e imprensa escrita) a 30% do capital com direito a voto e do capital total.
Até 2002, a participação estrangeira era proibida no setor,
e a propriedade de meios de comunicação era permitida só a
brasileiros natos ou com mais
de dez anos de naturalização.
A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e de
Televisão) foi a primeira entidade a defender publicamente
o enquadramento dos portais
de internet à regra de controle
nacional da mídia.
""Questionamos a falta de isonomia de regras para uma atividade empresarial que visa lucro
e que tem as mesmas características do produto jornalístico.
As redes sociais e os blogs não
estão em discussão e não podem sofrer qualquer controle"",
diz o presidente da Abert, Daniel Slaviero
A ANJ (Associação Nacional
de Jornais) se alinha com a posição da Abert. As duas entidades se baseiam em pareceres
dos advogados constitucionalistas Luís Roberto Barroso e
Tércio Sampaio Ferraz Júnior.
Para os advogados, o limite
de participação estrangeira estabelecido no artigo 222 da
Constituição é aplicável às empresas que produzem conteúdo
jornalístico para a internet.
Na visão da Abert e da ANJ, a
internet é apenas uma nova
forma de veicular os mesmos
produtos jornalísticos veiculados pela TV, rádios, jornais e
revistas impressos.
Por isso as entidades defendem que os portais tenham
controle de capital nacional.
Com a expansão da banda larga, a tendência é a migração
gradual dos serviços para o ambiente digital, alegam.
Mas não há consenso sobre
se os portais devam ser regulados. Demi Getschko, membro
do Comitê Gestor da Internet
no Brasil, é contrário à regulamentação, embora reconheça
haver risco de as teles dominarem a produção de conteúdo,
em razão de seu gigantismo e
por serem donas da infraestrutura de distribuição.
Ele diz que uma forma de evitar tal domínio seria transformar a infraestrutura de rede
das empresas de telefonia fixa
em empresa independente da
prestação de serviço, de forma
que todos os prestadores de
serviço tenham acesso à infraestrutura nas mesmas condições. As teles pagariam pelo
uso da rede como os demais
concorrentes. Esta solução, conhecida no setor como ""unbundling", é adotada, por
exemplo, na Inglaterra.
Ronaldo Lemos, professor titular da FGV (Fundação Getulio Vargas), avalia que a regulamentação teria pouco efeito
prático, porque as empresas
poderiam oferecer o serviço a
partir de outro país. Para ele,
não é possível enquadrar a internet ao conceito de jornalismo do século 20.
O presidente da Abrafix (que
representa as concessionárias
de telefonia fixa), José Fernandes Pauletti, considera ""absurdo alguém querer controlar
qualquer coisa na internet",
mas diz que a entidade ainda
não tem uma posição formal
sobre o assunto.
Cayman
Em setembro, quando a Oi/
Telemar investiu na ampliação
de seu portal iG, o presidente
da Abert declarou que as restrições ao capital estrangeiro não
poderiam ser desprezadas no
ambiente ""on-line".
Um terço (33%) do capital do
iG pertence a uma empresa sediada no exterior: a Internet
Group Cayman. A Oi diz controlar 100% do iG Cayman,
através da Brasil Telecom. Mas
a própria Oi, na visão de radiodifusores, tem mais acionistas
estrangeiros do que o limite admitido para o setor de mídia.
Argumentam as empresas
que há vários grupos estrangeiros produzindo jornalismo político e econômico no Brasil,
como o Terra (do grupo espanhol Telefónica), a Claro (da
mexicana Telmex), a TIM (Telecom Itália/Telefónica), o
Google (EUA) e a Vivo (Telefónica/Portugal Telecom).
As empresas de telefonia fixa
faturaram, no Brasil, R$ 76,2
bilhões no ano passado e R$
38,6 bilhões no primeiro semestre deste ano.
As de telefonia celular faturaram R$ 68,4 bilhões em 2008
e R$ 33,6 bilhões de janeiro a
junho de 2009.
Já a receita publicitária das
emissoras de rádio e de televisão, segundo o projeto Inter-Meios, da publicação "Meio &
Mensagem", somou R$ 13,5 bilhões em 2008 e R$ 8,6 bilhões
de janeiro a agosto deste ano. A
publicidade, segundo a Abert,
representa cerca de 90% da receita total das emissoras.
Segundo a ANJ, o faturamento anual estimado do total dos
jornais brasileiros é de cerca de
R$ 7 bilhões.
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