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São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Documentos apreendidos indicam monitoramento de desembargadores

Rocha Mattos investigou 4 juízes

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos, fotografias de imóveis e automóveis e anotações apreendidos pela Operação Anaconda indicam que o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, teria "investigado" por conta própria três desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região de São Paulo, incluindo a atual vice-presidente do tribunal, Diva Malerbi, além de um juiz de primeira instância.
Diva foi relatora de dois processos administrativos sigilosos abertos no TRF e que tinham como parte o juiz Rocha Mattos, em 1992 e 2003. Ela foi corregedora do TRF, a quem competia averiguar denúncias contra juízes federais de São Paulo e de Mato Grosso do Sul.
Rocha Mattos foi preso no último dia 30 sob acusação de integrar uma quadrilha de venda de sentenças na Justiça Federal.
Num dos bilhetes apreendidos entre as coisas do juiz, guardadas no apartamento da sua ex-mulher, Norma Regina Cunha, há anotação a respeito de uma "investigação" contra o desembargador Fábio Prieto de Souza: "Estou investigando. Parece que não tem receita. O apto [apartamento] continua na declaração".
Prieto é próximo do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Jorge Scartezzini, um desafeto do juiz Rocha Mattos.
Sobre a desembargadora Suzana de Camargo Gomes, além de fotografias e escrituras de imóveis registrados em seu nome e de familiares, há um papel timbrado da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo com seus dados pessoais e o valor mensal que declarou ao Imposto de Renda. O papel tem a marca de um fax enviado em 21 de junho de 2000.
As cópias das escrituras foram reconhecidas em cartório em Mato Grosso do Sul em 9 de novembro de 2001.
Suzana Gomes teve um papel importante no afastamento do desembargador Paulo Theotonio Costa, determinado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em dezembro de 2001. Naquele ano, em 7 de novembro -portanto, dois dias antes das cópias cartoriais de seus imóveis-, Suzana confirmou, em juízo, haver recebido informações de advogados de Mato Grosso do Sul de que Theotonio Costa "vendia sentenças".
No escritório do empresário Vagner Rocha, o "Peru", apontado pelo Ministério Público Federal como integrante da suposta quadrilha que tinha ramificação na Justiça Federal, a Polícia Federal encontrou um conjunto de documentos que indicam "apurações" também sobre a vida do juiz substituto da 8ª Vara Federal (previdenciária) Sidmar Dias Martins, namorado da desembargadora Suzana.
De acordo com relatório de inteligência da Polícia Federal, os papéis eram endereçados ao "sr. Guilherme". Em gravações feitas pela ex-mulher de Mattos, Norma diz que José Guilherme Cavalheiro, motorista de um filho do casal e ex-policial federal afastado da PF em 1988, fazia "levantamentos" e "investigações" para o juiz.
Os desembargadores Diva e Prieto não foram localizados ontem pela Folha. Suzana Gomes preferiu não comentar o assunto. O advogado do juiz Rocha Mattos, Alberto Toron, atendeu o telefone celular por volta das 18h00, mas disse que estava em casa e que só poderia atender à reportagem hoje.


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