São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA

Relator convence comissão a renovar convite para que ministro deponha na terça; se ele não comparecer, requerimento será posto em votação

Palocci consegue adiar convocação por CPI

LUCIANA CONSTANTINO
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo conseguiu ontem adiar por mais uma semana a votação de uma convocação formal do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para prestar depoimento à CPI dos Bingos, que investiga, entre outras coisas, denúncias de corrupção durante sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
A manobra governista, entretanto, pode não evitar o desgaste de uma convocação caso o ministro não compareça "espontaneamente" até a próxima terça-feira, conforme novo acordo entre os integrantes da comissão.
Sem número suficiente para aprovar ontem a convocação, a oposição foi obrigada a aceitar a proposta de refazer o "convite", por sugestão do relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN).
"Se ele não vier no dia 13, a melhor resposta é votar, com o número mais exuberante possível, sua convocação", disse Garibaldi.
O novo impasse beneficia Palocci porque mesmo que seja aprovada sua convocação, dificilmente haverá agenda para marcar seu depoimento ainda neste ano, como o próprio ministro pretendia. Na próxima terça, a CPI pretende também votar todos os requerimentos pendentes e fechar sua agenda até o final do ano.
Além do relator, a proposta de um novo "convite" ao ministro -em vez de se votar sua convocação imediatamente- foi costurada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O senador Flávio Arns (PT-PR) ficou incumbido de transmitir a decisão ao ministro, mas até o fechamento desta edição não tinha resposta.
Para conseguir driblar a oposição, que tem maioria na CPI, e forçar o adiamento, o governo contou com a "ajuda" ontem de dois senadores de Roraima -Augusto Botelho (PDT), que disse votar contra a convocação, e Mozarildo Cavalcanti (PTB), fora de Brasília desde sexta-feira.
A manobra governista irritou o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), que anteontem havia dito que "em nome da transparência e independência" da comissão votaria o requerimento caso o ministro não cumprisse o acordo de comparecer antes do dia 10. Há duas semanas, após acerto do governo com a oposição, a CPI aceitou "convidar" Palocci a depor, permitindo assim que ele aceitasse ou não.
Enfraquecido, Efraim pressionou os senadores de oposição para que trabalhassem pela aprovação da convocação na próxima semana. Uma das estratégias da oposição é substituir o pedetista Augusto Botelho por Jefferson Péres (PDT-AM) caso ele não aceite mudar seu voto.
Com o atual quadro de composição da CPI, o governo derrotaria a oposição por 8 a 6. Isso porque a CPI é composta por 15 senadores, mas o presidente só vota em caso de empate. Ou seja, trocando Botelho, o placar seria 7 a 7, e o empate seria resolvido por Efraim, favorável à vinda do ministro.
Ontem, Efraim disse que ouviu do ministro, "de maneira educada", que rejeitava o convite para ir à CPI. "Ao não aceitar o convite, entendo que ele desrespeitou o entendimento de toda uma classe política", disse Efraim, que havia se comprometido a negociar pessoalmente a data do depoimento de Palocci.
O argumento de Palocci é que gostaria de comparecer à CPI apenas em 2006, já que esteve três vezes em comissões do Congresso nas últimas semanas -duas na Câmara e uma no Senado.
Os senadores de oposição começaram a forçar a ida de Palocci à CPI dos Bingos principalmente depois do depoimento do advogado Rogério Buratti, ex-secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto. Segundo ele, havia um esquema de pagamento de propina à época em que Palocci era prefeito. O dinheiro teria sido usado para financiar campanhas do PT.
O senador Tião Viana (PT-AC) defendeu que não havia "conveniência" do momento.


Texto Anterior: O publicitário: CPI recomenda prisão de Valério à PF; procurador-geral descarta
Próximo Texto: Vitória de ministro é fruto de acerto com a oposição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.