São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

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"Levaria Dirceu a meu palanque", afirma Lula

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa enfática do ex-deputado José Dirceu ao afirmar que levaria ao palanque seu ex-ministro da Casa Civil. Lula repetiu que não existem provas contra Dirceu e mais uma vez atacou a tese do "mensalão".
Em entrevista a quatro emissoras nacionais de rádio, o presidente rotulou de "abominável" o uso de caixa dois pelo PT em recentes campanhas eleitorais e pela primeira vez classificou a prática como "crime". "Primeiro, houve um crime eleitoral de caixa dois, já provado na CPI. Ninguém nega isso. E há, inclusive, quem assumiu a responsabilidade por esse crime eleitoral", disse, em alusão ao ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Por uma hora e meia, ele respondeu a perguntas de jornalistas das redes Bandeirantes, Bandnews, CBN e Jovem Pan. Questionado se sabia dos esquemas irregulares do PT, o presidente fechou o semblante e deu um soco na mesa. Negou mais uma vez.

Palanque
Questionado se levaria Dirceu ao seu palanque, Lula respondeu: "Eu levaria o José Dirceu para o palanque, até porque ele foi cassado e não foi provado nada contra ele. Ele é um cidadão que perdeu o mandato de parlamentar, mas até agora eu não vi nenhuma acusação que possa dizer: "O José Dirceu cometeu um delito'".
O presidente tentou justificar a afirmação de que tanto ele como Dirceu não tiveram conhecimento prévio das irregularidades petistas. "Quantas mães de família e quantos pais de família têm um filho dentro de casa que está praticando algum delito, que está usando droga, e não sabem? Ora, se a gente não sabe as coisas que acontecem dentro de casa, por que num Estado o ministro tem que saber de tudo o que acontece no território nacional?"
Lula cobrou "responsabilidade" aos denunciantes para "não cometermos injustiças com quem quer que seja, de direita ou de esquerda, do PT ou de outro partido político, ou até gente da sociedade civil". E completou: "Se depender de mim, jamais cometerei o desatino de condenar alguém antes de essa pessoa ser investigada corretamente, apurado. Aí, sim, puni-la exemplarmente para o mundo inteiro saber o que você fez".
Apesar de condenar o caixa dois, se disse orgulhoso de ser petista. "Não pense que eu fiquei inibido de ser petista. Pelo contrário: agora estou mais orgulhoso. Porque nós também não somos infalíveis, cometemos erros e, quando cometemos erros, temos que pagar e pagar forte, porque a sociedade brasileira precisa nos cobrar sistematicamente, de forma implacável, para que a gente seja uma referência ética neste país."
Ele disse que o PT precisa aprender a apanhar: "Se você encontrar um petista lamentando: "A oposição está batendo", não leve muito em conta, não, porque eles têm que aprender a apanhar; bateram a vida inteira. Não temos que nos queixar".
Lula voltou a dizer que ainda não é candidato. "O Brasil poderia ter um mandato de cinco anos sem reeleição, porque quem está presidindo não ficaria preocupado em fazer negociações para poder se reeleger."


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