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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Ex-diretor de Marketing do BB diz à CPI dos Correios que assinou adiantamentos à DNA sob orientação de ex-ministro, que nega
Gushiken ordenou repasse, repete Pizzolato
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-diretor de Marketing do
Banco do Brasil Henrique Pizzolato disse ontem à CPI dos Correios que seguiu orientação do então ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e do então presidente do banco Cássio
Casseb ao autorizar o adiantamento de recursos da Visanet
(que tem o BB como sócio) para a
DNA, do publicitário Marcos Valério de Souza, em 2003.
Gushiken, hoje chefe do NAE
(Núcleo de Assuntos Estratégicos), negou ontem que tivesse conhecimento do adiantamento.
Segundo Pizzolato, o ex-ministro o orientou a assinar o repasse.
"No caso da nota técnica, ele
[Gushiken] disse que eu assinasse
porque não havia nenhum problema. Eu entendi aquilo como
uma ordem porque eu não ia me
confrontar com o ministro."
Pizzolato tentou se eximir da
responsabilidade por supostas irregularidades no banco, afirmando que sua diretoria estruturava
as campanhas de publicidade mas
não cuidava de pagamentos nem
de gestão de recursos.
"A diretoria de Marketing não
tinha alçada individual, tudo era
decidido por comitês", disse, e
acrescentou: "Tudo indica que eu
fui o inocente útil".
O desconhecimento dos processos alegado por Pizzolato irritou
parlamentares, que ameaçaram
prendê-lo. "Não é possível que fiquemos aqui como paspalhos ouvindo tanta mentira", afirmou o
relator-adjunto, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
O deputado apresentou um requerimento de acareação entre
Pizzolato e Gushiken.
O presidente da CPI, senador
Delcídio Amaral (PT-MS), também repreendeu Pizzolato. "A um
diretor do BB não se admite o desconhecimento de algumas práticas. A idéia que passa é que o BB
era uma barafunda, uma torre de
Babel, o que não é verdade."
Choro
No fim do depoimento, que durou cerca de sete horas, Pizzolato
teve uma crise de choro. Sua mulher, Andréa, também se descontrolou. "O PT vai ter que pagar pelo que que fez com ele", disse. Pizzolato se queixou de uma crise de
labirintite e pediu que a sessão
fosse encerrada.
A Visanet foi a primeira fonte de
dinheiro público apontada pela
CPI no esquema do "mensalão".
De acordo com a comissão, pelo
menos R$ 10 milhões teriam sido
desviados para o PT.
Em uma operação considerada
atípica pela CPI, o BB autorizou,
em 2003 e 2004 o repasse antecipado à DNA de R$ 73,8 milhões
de recursos do fundo Visanet, antes da aprovação de campanhas
publicitárias específicas.
Segundo Pizzolato, ele foi procurado pelo diretor de varejo, Fernando Barbosa, e pelo gerente de
propaganda, Cláudio Vasconcelos, em abril de 2003. Eles teriam
pedido sua assinatura em uma
nota técnica que autorizava o repasse adiantado de R$ 23,3 milhões da Visanet para a DNA.
Segundo Pizzolato, ele ficou reticente porque os recursos não faziam parte do orçamento do BB, e
a explicação foi que a verba não
passava pelo banco para evitar
dupla tributação e que o procedimento era adotado desde 2001.
Ele teria procurado então o presidente do banco. "Casseb informou que tinha conhecimento do
fundo Visanet porque era conselheiro [do fundo] e que os repasses [para o BB] eram comuns."
Ele também disse ter ido à Secom
(Secretaria de Comunicação de
Governo), onde conversou com
Gushiken e com o então secretário-executivo, Marcos Flora. "O
ministro disse que concordava
com a interpretação."
Outro lado
Gushiken nega as acusações.
"Eu nunca soube de antecipação
de receita para a DNA", disse,
acrescentando que discutia com
Pizzolato apenas o conteúdo de
campanhas publicitárias que levassem a marca do Banco do Brasil, sem falar de verbas.
"Eu sempre disse o seguinte para o Pizzolato: toda campanha
publicitária que contiver a marca
do Banco do Brasil, independente
da fonte de financiamento, tem
obrigação de passar pela Secom.
A lei exige isso, até porque, quando se coloca o carimbo do Banco
do Brasil, vem lá o carimbo do governo", afirmou.
O ex-presidente do Banco do
Brasil Cássio Casseb não foi localizado ontem pela Folha.
Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ, da Sucursal de Brasília
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