São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Ex-diretor de Marketing do BB diz à CPI dos Correios que assinou adiantamentos à DNA sob orientação de ex-ministro, que nega

Gushiken ordenou repasse, repete Pizzolato

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato disse ontem à CPI dos Correios que seguiu orientação do então ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e do então presidente do banco Cássio Casseb ao autorizar o adiantamento de recursos da Visanet (que tem o BB como sócio) para a DNA, do publicitário Marcos Valério de Souza, em 2003.
Gushiken, hoje chefe do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos), negou ontem que tivesse conhecimento do adiantamento.
Segundo Pizzolato, o ex-ministro o orientou a assinar o repasse. "No caso da nota técnica, ele [Gushiken] disse que eu assinasse porque não havia nenhum problema. Eu entendi aquilo como uma ordem porque eu não ia me confrontar com o ministro."
Pizzolato tentou se eximir da responsabilidade por supostas irregularidades no banco, afirmando que sua diretoria estruturava as campanhas de publicidade mas não cuidava de pagamentos nem de gestão de recursos.
"A diretoria de Marketing não tinha alçada individual, tudo era decidido por comitês", disse, e acrescentou: "Tudo indica que eu fui o inocente útil".
O desconhecimento dos processos alegado por Pizzolato irritou parlamentares, que ameaçaram prendê-lo. "Não é possível que fiquemos aqui como paspalhos ouvindo tanta mentira", afirmou o relator-adjunto, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
O deputado apresentou um requerimento de acareação entre Pizzolato e Gushiken.
O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), também repreendeu Pizzolato. "A um diretor do BB não se admite o desconhecimento de algumas práticas. A idéia que passa é que o BB era uma barafunda, uma torre de Babel, o que não é verdade."

Choro
No fim do depoimento, que durou cerca de sete horas, Pizzolato teve uma crise de choro. Sua mulher, Andréa, também se descontrolou. "O PT vai ter que pagar pelo que que fez com ele", disse. Pizzolato se queixou de uma crise de labirintite e pediu que a sessão fosse encerrada.
A Visanet foi a primeira fonte de dinheiro público apontada pela CPI no esquema do "mensalão". De acordo com a comissão, pelo menos R$ 10 milhões teriam sido desviados para o PT.
Em uma operação considerada atípica pela CPI, o BB autorizou, em 2003 e 2004 o repasse antecipado à DNA de R$ 73,8 milhões de recursos do fundo Visanet, antes da aprovação de campanhas publicitárias específicas.
Segundo Pizzolato, ele foi procurado pelo diretor de varejo, Fernando Barbosa, e pelo gerente de propaganda, Cláudio Vasconcelos, em abril de 2003. Eles teriam pedido sua assinatura em uma nota técnica que autorizava o repasse adiantado de R$ 23,3 milhões da Visanet para a DNA.
Segundo Pizzolato, ele ficou reticente porque os recursos não faziam parte do orçamento do BB, e a explicação foi que a verba não passava pelo banco para evitar dupla tributação e que o procedimento era adotado desde 2001.
Ele teria procurado então o presidente do banco. "Casseb informou que tinha conhecimento do fundo Visanet porque era conselheiro [do fundo] e que os repasses [para o BB] eram comuns." Ele também disse ter ido à Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), onde conversou com Gushiken e com o então secretário-executivo, Marcos Flora. "O ministro disse que concordava com a interpretação."

Outro lado
Gushiken nega as acusações. "Eu nunca soube de antecipação de receita para a DNA", disse, acrescentando que discutia com Pizzolato apenas o conteúdo de campanhas publicitárias que levassem a marca do Banco do Brasil, sem falar de verbas.
"Eu sempre disse o seguinte para o Pizzolato: toda campanha publicitária que contiver a marca do Banco do Brasil, independente da fonte de financiamento, tem obrigação de passar pela Secom. A lei exige isso, até porque, quando se coloca o carimbo do Banco do Brasil, vem lá o carimbo do governo", afirmou.
O ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb não foi localizado ontem pela Folha.


Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ, da Sucursal de Brasília

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