São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Esquema de AL usou ao menos 150 pessoas

Cruzamento da PF, da Receita e do Ministério Público aponta fantasmas e laranjas lotados em gabinetes de deputados

Segundo a polícia, 10 dos 27 deputados da Assembléia do Estado estão envolvidos; parlamentares tentaram, em vão, adiar depoimentos

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

Cruzamento de dados feito pela Receita Federal, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal indica que ao menos 150 pessoas podem ter sido utilizadas como laranjas ou fantasmas no suposto esquema de desvio de recursos da Assembléia Legislativa de Alagoas.
Anteontem, 41 pessoas foram presas, entre elas um ex-governador do Estado, um deputado e dois ex-deputados estaduais. Segundo a PF, deputados e assessores fraudaram a folha de pagamento da Casa de 2001 a 2006 e desviaram cerca de R$ 200 milhões.
"Os fantasmas e laranjas estavam lotados nos gabinetes dos deputados ou ocupando cargos comissionados", disse o delegado Janderlyer Gomes, que afirmou que funcionários regularizados eram mais suscetíveis às irregularidades.
Estudante de direito, Daniel de Oliveira Sampaio, 28, é um dos fantasmas apontados pela PF. "Desde 2000, quando pedi exoneração do cargo comissionado na Assembléia, nunca mais fui à Casa", disse à Folha.
Pela investigação da Operação Taturana, ele ainda aparece como funcionário da Assembléia, com salário de R$ 1.800.
A advogada Gysele Rodrigues Romanholo Ferreira, 27, também aparece como funcionária, mas, segundo sua mãe, vive há 20 meses na Bahia.
O bioquímico Paulo César dos Santos Ferreira, 42, que também teria sido usado pelo suposto esquema, disse que há quatro anos não trabalha na Assembléia. "Será que vou ter direito a parte do salário embolsado pelos deputados?"

Depoimentos
Suspeitos de desviar recursos da Casa começaram a ser ouvidos ontem pela PF.
Todos contaram que foram envolvidos pelo esquema e que não sabiam que servidores fantasmas e laranjas integravam a folha de pagamento da Casa.
"Além da invenção de funcionários para justificar pagamentos, os envolvidos aumentavam vencimentos de funcionários contratados e desviavam a diferença entre o valor real e o do contracheque", disse o delegado Janderlyer Gomes.
Até as 20h de ontem, cinco suspeitos haviam prestado depoimento -o ex-deputado estadual Gilberto Gonçalves, o prefeito de Roteiro (AL) e ex-diretor financeiro da Assembléia, Fábio Jatobá (PTB), dois assessores e um empresário.
A PF diz que dez dos 27 deputados estaduais de Alagoas têm participação no suposto esquema. Dos dez, só Cícero Ferro (PMN) foi preso, num flagrante de porte ilegal de arma.
Os crimes em apuração são estelionato, crime contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, peculato (desvio de verba pública), corrupção passiva e formação de quadrilha.
A PF também fez busca e apreensão na empresa Elógica, em Olinda (PE), que emite os contracheques da Assembléia alagoana. Para a polícia, a empresa emitia, a pedido do Legislativo, contracheque superior ao salário, e a Casa e a empresa ficavam com a diferença.
Dos 43 mandados de prisão expedidos, dois não haviam sido cumpridos até ontem. O ex-governador Manoel Gomes de (1997-1999, pelo PTB) deixou a prisão anteontem, beneficiado por habeas corpus. Outras cinco pessoas foram liberadas. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região negou pedido dos deputados suspeitos para que depusessem em janeiro. Todos devem depor até terça-feira.


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