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Indústria bélica sobrevive com exportações
Centros de pesquisa das Forças Armadas desenvolvem novos projetos, mas governo não tem dinheiro para comprá-los
João Verdi, presidente da Avibrás, diz estar otimista com a intenção do ministro da Defesa de impulsionar
os produtores nacionais
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois modelos diferentes de
como incentivar a indústria bélica brasileira foram mostrados
em um seminário em São Paulo. De um lado uma veterana indústria de material de defesa
sobrevive graças a exportações
de equipamento de alta qualidade. Do outro, os centros de
pesquisa das Forças Armadas
procuram desenvolver material visando uma auto-suficiência, mas não conseguem chegar
à linha de produção pois não há
recursos do governo para comprar o que foi laboriosamente
pesquisado durante anos.
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, declarou várias vezes
que pretende impulsionar a indústria de material de defesa. O
responsável pela principal empresa "sobrevivente" da área, o
engenheiro João Verdi, presidente da fabricante de foguetes
militares Avibrás, se declarou
"muito otimista" com a intenção do ministro, mas disse isso
logo depois de uma longa catilinária reclamando da falta de
apoio governamental aos fabricantes de material bélico.
"As intenções são boas, ele
conseguiu mais verbas. Se vai
dar tudo certo, é complicado de
dizer", disse Verdi em São Paulo durante o seminário "Tecnologia Estratégica: Pesquisa e
Desenvolvimento", sobre indústria de material de defesa:
"O ministro e os três comandantes militares nos visitaram
na semana passada. Seu discurso é coerente e lógico", afirmou.
Verdi fez essas declarações
ao final de uma palestra na qual
reclamou veementemente que
o mercado militar interno, das
três forças, é "pequeno, variável, volúvel e frágil".
A Avibrás é uma empresa de
46 anos de idade que fez parte
do auge de vendas da indústria
bélica brasileira nos anos 80 e
conseguiu sobreviver à derrocada da maioria delas na década seguinte. "Durante esse
tempo todo fizemos pesquisa,
produzimos e exportamos. A
sobrevivência está ligada a produtos novos visando principalmente o mercado externo", declarou Verdi.
Entre os sucessos de vendas
está o lançador de foguetes Astros, de 1981, que foi encomendado pelo ditador iraquiano
Saddam Hussein, então em
guerra com o Irã. Segundo o
empresário, o custo do projeto,
de quase US$ 2 bilhões, foi bancado pelo Iraque.
O Astros foi depois vendido
para a Arábia Saudita, que ironicamente o usou contra o Iraque na Guerra do Golfo, de
1991. A última grande venda foi
para a Malásia, em 2002.
É praxe no mercado internacional de armas que um comprador procure saber se o equipamento é utilizado pelo país
de origem, uma espécie de "selo
de aprovação". Verdi diz que a
Avibrás é uma exceção à regra:
faz 15 anos ele fornece foguetes
ar-terra para a Colômbia, material que só recentemente a
FAB comprou. E o Exército levou 12 anos para comprar o Astros depois de Saddam.
O empresário está particularmente indignado com o
Exército, com quem ajudou a
desenvolver um blindado de
quatro rodas, o Guará, que não
recebeu nenhuma encomenda.
Também reclamou que o convênio que tinha para desenvolver um sucessor do blindado de
transporte de tropas Urutu foi
atropelado por uma concorrência vencida pela Fiat e Iveco, da
qual ele se recusou a participar.
Penúria
O Exército decidiu racionalizar seus projetos de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) pela
penúria de verba. Mais de cem
planos foram reduzidos para
apenas 11 prioritários, como
um radar de defesa aérea e uma
família de blindados, segundo o
general-de-brigada Alessio Ribeiro Souto, que dirige o Centro Tecnológico do Exército.
Alguns projetos foram criados com apoio da indústria, como o míssil antitanque ("anticarro" no jargão do exército)
MSS 1.2, desenvolvido pela empresa Mectron. Apesar de já estar "concluído, avaliado e aprovado", o general também reclama da falta de verbas, que não
existem nem para produzir um
primeiro lote-piloto. Era um
projeto originalmente previsto
para estar operacional em
1990. O Exército também desenvolveu uma arma antitanque de menor alcance, a ALAC
(Arma Leve Anticarro), um
morteiro pesado calibre 120
mm e sua munição, um novo
fuzil calibre 5,56 mm.
Faltam, porém, indústrias
dispostas a produzir equipamentos como esses ou seus
acessórios, pois o Exército não
tem a verba para comprar um
lote que justifique o início de
uma produção em série.
O Exército e a indústria têm a
tecnologia, ou mesmo o produto; mas falta dinheiro para a
compra. Estima-se em R$ 1 bilhão a verba para produzir os
blindados médios para substituir os mais de mil blindados
Urutu e Cascavel que o Exército adquiriu no passado.
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