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SAIBA MAIS
Projeto segue sem orçamento definido e sem consenso
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Anunciado desde a campanha eleitoral como a prioridade
das prioridades de Luiz Inácio
Lula da Silva, o Fome Zero segue sem orçamento definido
nem consenso no governo, que
vem modificando as propostas
do calhamaço de 118 páginas
lançado em outubro de 2001.
É verdade que a regra mais
polêmica do projeto -a vinculação obrigatória do benefício à
compra de comida- está, pelo
menos até o momento, mantida. Mas, no período de transição de governo, o hoje ministro
Antonio Palocci (Fazenda)
chegou a anunciar que o dinheiro poderia ser gasto livremente, formato que defendia.
Já os recursos previstos para
o programa de distribuição de
cartões de alimentação formam uma salada de números:
o projeto original calcula R$ 20
bilhões anuais; na campanha,
falou-se em R$ 5 bilhões para o
primeiro ano; no Orçamento,
há R$ 2,5 bilhões disponíveis; o
ministro Francisco Graziano
(Combate à Fome e Segurança
Alimentar) mencionou ontem
o valor de R$ 1,8 bilhão.
Na prática, o dinheiro vai depender da decisão de Palocci
em relação ao aperto fiscal necessário neste ano, o que contrasta com a frase de Lula no
lançamento do projeto, em
2001: "Se faltar dinheiro, falta
para outra coisa, não para acabar com a fome".
A criação do ministério extraordinário ocupado por Graziano, aliás, contraria o projeto
exibido durante a campanha
eleitoral, segundo o qual a idéia
havia sido abandonada porque
a política de segurança alimentar precisa "de uma configuração institucional que não tenha
um caráter temporário, como é
o caso de um ministério extraordinário".
O projeto da campanha privilegia a implantação do Consea
(Conselho de Segurança Alimentar, articulando governo e
sociedade), que até hoje não
saiu do papel. Cotado para o
conselho, dom Mauro Morelli,
bispo de Duque de Caxias, já
criticou publicamente o organograma da área social do governo Lula.
Se a distribuição de cupons
ainda suscita dúvidas, mais
obscuro está o destino de outras políticas listadas no projeto como, para citar a mais cara,
a "Previdência Social Universal" -em outras palavras, estender os benefícios do INSS a
todos os trabalhadores em idade de aposentadoria, tenham
ou não contribuído para o sistema. No programa, estima-se
que a despesa com benefícios
teria um crescimento anual
equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto), algo como
R$ 30 bilhões.
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