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SUL X NORTE
Integrantes da organização do evento antiglobalização resistem à possível presença de Palocci e Meirelles em Porto Alegre
Fórum Social critica ida de Lula a Davos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Integrantes da organização do
Fórum Social Mundial, que ocorre entre 23 e 28 de janeiro em Porto Alegre (RS), criticam a possibilidade de o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva comparecer também
ao rival Fórum Econômico Mundial, marcado para o mesmo período em Davos (Suíça).
Também é criticada por integrantes da coordenação do Fórum Social a eventual participação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e do presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles, no evento gaúcho, cuja
característica principal é a crítica
à globalização. Ambas as críticas
não representam uma posição
formal do Fórum Social, mas de
membros de sua organização.
Sob o slogan "Um Outro Mundo é Possível", o encontro de Porto Alegre foi criado em oposição
ao de Davos, que ocorre há mais
de 30 anos e une a nata política e
empresarial do mundo.
Preocupado em tranquilizar o
mercado e ao mesmo tempo conter e reconhecer como legítimas
as "ansiedades sociais", Lula se divide entre os encontros opostos.
Confirmou presença em Porto
Alegre e ainda não respondeu ao
convite de Davos, mas deve ir.
Segundo um dos organizadores
do Fórum Social que não quis se
identificar, a estratégia leva para o
campo da política externa a "esquizofrenia interna do governo",
dividido, a seu ver, entre uma política econômica conservadora e
um projeto de mudança social.
Para Cândido Grzybowski, diretor-geral do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), uma das entidades que
organizam o evento, a ida de Lula
a Davos é "lamentável".
"O presidente Lula estará se rebaixando. É preciso fazer opções
no governo, e a decisão de ir a ambos não revela opção clara", afirmou Grzybowski.
O sociólogo Emir Sader, também responsável pela organização do Fórum Social, diz que, com
a recessão americana, a reunião
de caciques do pensamento econômico na estação de esqui suíça
perdeu importância.
"A recomendação deles para
que a América Latina abrisse sua
economia deu errado. Eles perderam", diz, acrescentando que a
participação de Lula é "um presente inesperado a um cadáver".
Divisão
Dentro do comitê organizador
do Fórum Social Mundial existe
ainda resistência à possível presença de Palocci e Meirelles no encontro em Porto Alegre.
A maior oposição seria a Meirelles. Ex-presidente mundial do
BankBoston, ele é visto como representante do grande capital financeiro internacional, um dos
vilões do Fórum. O caso de Palocci é considerado menos crítico,
mas sua presença igualmente geraria desconforto.
"As primeiras indicações do ministro Palocci, de elogios ao ex-ministro Pedro Malan, admissão
de um superávit fiscal maior e defesa de austeridade monetária
não são condizentes com um Fórum que se propõe a uma nova arquitetura econômica internacional. A presença dele em Porto
Alegre não agradaria a muita gente", disse à Folha o representante
de uma das oito entidades que integram o comitê organizador do
Fórum, que falou sob a condição
de não ser identificado.
Oficialmente, a posição do Fórum é que "não há veto a ninguém" e que as resistências são
isoladas. "A diversidade de opiniões é respeitada no Fórum Social", diz Francisco Whitaker, da
Comissão Justiça e Paz (CJP).
Estão no comitê organizador
Abong (Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais), Attac (Ação pela Tributação
das Transações Financeiras em
Apoio aos Cidadãos), CJP, Cives
(Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), CUT, Ibase, MST e Rede Social de Justiça.
Palocci e Meirelles não foram
convidados pela coordenação do
Fórum. É possível, no entanto,
que integrem algum dos vários
eventos paralelos previstos.
De acordo com a assessoria de
Palocci, o ministro tem intenção
de ir a Porto Alegre, em data ainda
não especificada, e também a Davos. Já a assessoria de Meirelles
não respondeu aos recados deixados pela reportagem.
Para tentar sinalizar prioridades, Lula deve ir primeiro a Porto
Alegre e em seguida a Davos. Na
cidade gaúcha, está sendo preparado um grande evento. Acompanhado de entidades internacionais que se proclamam uma "rede
mundial de solidariedade ao Brasil", Lula fará um ato a céu aberto,
no Auditório do Pôr do Sol.
São esperadas 50 mil pessoas
para ouvir um discurso em que o
presidente deverá denunciar as
"injustiças" provocadas pelo modelo econômico. O petista, no entanto, tomará cuidado para não
incorrer em uma retórica que negue frontalmente a globalização
ou -o que seria pior- soe antiamericana ou antiimperialista.
O discurso terá tom parecido
em Davos, se Lula confirmar a
viagem. Segundo um assessor, os
organizadores do Fórum Econômico têm sido "insistentes" na
presença do presidente.
Quanto ao gabinete de Lula, deve haver uma divisão. A Porto
Alegre irão José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral),
Marina Silva (Meio Ambiente),
Tarso Genro (Conselho de Desenvolvimento), Miguel Rossetto
(Reforma Agrária), Olívio Dutra
(Cidades), Dilma Roussef (Minas
e Energia), Cristovam Buarque
(Educação) e outros.
Em Davos estarão, provavelmente, Palocci, Meirelles, Luiz
Furlan (Desenvolvimento), Celso
Amorim (Relações Exteriores) e
Gilberto Gil (Cultura).
(FÁBIO ZANINI, LEILA SUWWAN E RAFAEL CARIELLO)
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