São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUL X NORTE

Integrantes da organização do evento antiglobalização resistem à possível presença de Palocci e Meirelles em Porto Alegre

Fórum Social critica ida de Lula a Davos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Integrantes da organização do Fórum Social Mundial, que ocorre entre 23 e 28 de janeiro em Porto Alegre (RS), criticam a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparecer também ao rival Fórum Econômico Mundial, marcado para o mesmo período em Davos (Suíça).
Também é criticada por integrantes da coordenação do Fórum Social a eventual participação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no evento gaúcho, cuja característica principal é a crítica à globalização. Ambas as críticas não representam uma posição formal do Fórum Social, mas de membros de sua organização.
Sob o slogan "Um Outro Mundo é Possível", o encontro de Porto Alegre foi criado em oposição ao de Davos, que ocorre há mais de 30 anos e une a nata política e empresarial do mundo.
Preocupado em tranquilizar o mercado e ao mesmo tempo conter e reconhecer como legítimas as "ansiedades sociais", Lula se divide entre os encontros opostos. Confirmou presença em Porto Alegre e ainda não respondeu ao convite de Davos, mas deve ir.
Segundo um dos organizadores do Fórum Social que não quis se identificar, a estratégia leva para o campo da política externa a "esquizofrenia interna do governo", dividido, a seu ver, entre uma política econômica conservadora e um projeto de mudança social.
Para Cândido Grzybowski, diretor-geral do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), uma das entidades que organizam o evento, a ida de Lula a Davos é "lamentável".
"O presidente Lula estará se rebaixando. É preciso fazer opções no governo, e a decisão de ir a ambos não revela opção clara", afirmou Grzybowski.
O sociólogo Emir Sader, também responsável pela organização do Fórum Social, diz que, com a recessão americana, a reunião de caciques do pensamento econômico na estação de esqui suíça perdeu importância.
"A recomendação deles para que a América Latina abrisse sua economia deu errado. Eles perderam", diz, acrescentando que a participação de Lula é "um presente inesperado a um cadáver".

Divisão
Dentro do comitê organizador do Fórum Social Mundial existe ainda resistência à possível presença de Palocci e Meirelles no encontro em Porto Alegre.
A maior oposição seria a Meirelles. Ex-presidente mundial do BankBoston, ele é visto como representante do grande capital financeiro internacional, um dos vilões do Fórum. O caso de Palocci é considerado menos crítico, mas sua presença igualmente geraria desconforto.
"As primeiras indicações do ministro Palocci, de elogios ao ex-ministro Pedro Malan, admissão de um superávit fiscal maior e defesa de austeridade monetária não são condizentes com um Fórum que se propõe a uma nova arquitetura econômica internacional. A presença dele em Porto Alegre não agradaria a muita gente", disse à Folha o representante de uma das oito entidades que integram o comitê organizador do Fórum, que falou sob a condição de não ser identificado.
Oficialmente, a posição do Fórum é que "não há veto a ninguém" e que as resistências são isoladas. "A diversidade de opiniões é respeitada no Fórum Social", diz Francisco Whitaker, da Comissão Justiça e Paz (CJP).
Estão no comitê organizador Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais), Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), CJP, Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), CUT, Ibase, MST e Rede Social de Justiça.
Palocci e Meirelles não foram convidados pela coordenação do Fórum. É possível, no entanto, que integrem algum dos vários eventos paralelos previstos.
De acordo com a assessoria de Palocci, o ministro tem intenção de ir a Porto Alegre, em data ainda não especificada, e também a Davos. Já a assessoria de Meirelles não respondeu aos recados deixados pela reportagem.
Para tentar sinalizar prioridades, Lula deve ir primeiro a Porto Alegre e em seguida a Davos. Na cidade gaúcha, está sendo preparado um grande evento. Acompanhado de entidades internacionais que se proclamam uma "rede mundial de solidariedade ao Brasil", Lula fará um ato a céu aberto, no Auditório do Pôr do Sol.
São esperadas 50 mil pessoas para ouvir um discurso em que o presidente deverá denunciar as "injustiças" provocadas pelo modelo econômico. O petista, no entanto, tomará cuidado para não incorrer em uma retórica que negue frontalmente a globalização ou -o que seria pior- soe antiamericana ou antiimperialista.
O discurso terá tom parecido em Davos, se Lula confirmar a viagem. Segundo um assessor, os organizadores do Fórum Econômico têm sido "insistentes" na presença do presidente.
Quanto ao gabinete de Lula, deve haver uma divisão. A Porto Alegre irão José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Marina Silva (Meio Ambiente), Tarso Genro (Conselho de Desenvolvimento), Miguel Rossetto (Reforma Agrária), Olívio Dutra (Cidades), Dilma Roussef (Minas e Energia), Cristovam Buarque (Educação) e outros.
Em Davos estarão, provavelmente, Palocci, Meirelles, Luiz Furlan (Desenvolvimento), Celso Amorim (Relações Exteriores) e Gilberto Gil (Cultura). (FÁBIO ZANINI, LEILA SUWWAN E RAFAEL CARIELLO)


Texto Anterior: Planalto: Ex-mulher de Celso Daniel vai assessorar Lula
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.