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CELSO PINTO
Proposta para a crise
das empresas
Desde o final do ano passado, acumulam-se pressões
de empresas em crise por algum
tipo de apoio oficial. Eugênio
Staub, presidente da Gradiente e
um aliado de primeira hora do
então candidato Lula, acha que
o governo deve ajudar, mas só se
as empresas se comprometerem
a abrir o capital e entrar no novo mercado. Como estímulo adicional, o governo poderia permitir o uso voluntário, pelos trabalhadores, de parte do FGTS para
comprar ações dessas empresas.
"O capitalismo brasileiro é
muito atrasado", diz Staub. "A
hora de modernizá-lo é quando
o empresário está à beira de
quebrar." Ele argumenta que
muitas empresas são patrimonialistas. O acionista controlador, ou a família, quer administrar e usufruir da empresa.
Várias empresas de qualidade
acabam "contaminadas pelos
controles da família controladora". Ele lembra dois exemplos: a
Metal Leve, que acabou vendida
a um grupo alemão, e a Klabin.
Ele ressalva que há empresas
bem administradas pelos controladores: o critério central deve ser a competência. A crise, cujo estopim foi a disparada do dólar, poderia ser uma oportunidade para "lançar um capitalismo de fato" no país.
O novo mercado implica uma
série de obrigações. Todas as
ações têm que ser ordinárias
com direito a voto. Pelo menos
25% do capital deve estar no
mercado. Os minoritários têm
direito a assento no conselho de
administração. A exigência de
divulgação de informações é
muito maior do que a imposta
às empresas abertas. As demonstrações devem também seguir
padrões internacionais. Em caso
de venda do controle acionário,
o minoritário tem o mesmo tratamento do controlador.
A Gradiente, segundo Staub,
está tentando cumprir todas as
regras do novo mercado. Tem
em seu conselho um representante da Animec, em nome dos
minoritários, que questiona tudo, até se o helicóptero usado
por ele deveria ser de propriedade da Gradiente. "Acho que ele
tem razão", concede.
Staub acha grave a questão do
endividamento externo de muitos grupos, feito quando o dólar
era farto e barato. Seu temor é
que a pressão das empresas em
crise acabe levando o governo a
uma resposta tradicional, de
ajuda ao controlador, sem contrapartidas. Em outros termos,
que seja criada uma "Buracobrás" nos moldes tradicionais,
na expressão irônica de um importante empresário.
O BNDES poderia até conceder algum empréstimo-ponte no
período de preparação da entrada no novo mercado. A idéia do
uso voluntário do FGTS seria
um estímulo adicional. Alguns
grandes grupos em dificuldades
podem ser bons investimentos, e
as regras do novo mercado dariam mais segurança. Para minimizar o risco dos trabalhadores, ele sugere que bancos de investimento e fundos de pensão
façam avaliações e recomendações públicas sobre empresas do
programa.
O programa acabaria, naturalmente, beneficiando grupos
nacionais, porque subsidiárias
de multinacionais, em princípio,
não aceitariam submeter-se às
exigências do novo mercado.
Grandes grupos fechados e bem
administrados, como o Votorantim, não teriam razão para
entrar no programa. A fórmula
não seria, contudo, uma panacéia aplicável a qualquer empresa em crise. Staub acha que o setor de aviação, por exemplo, exige uma solução mais ampla.
Já existe um projeto de uso de
1% do FGTS na compra de novas ações em Bolsa, que está sendo discutido entre a Bovespa e o
PT desde a campanha. Ele acha
que as idéias não são excludentes, podem se somar.
Staub expôs a idéia ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, logo depois do segundo turno
das eleições. Palocci gostou, mas
a proposta ainda não avançou.
O PT está preocupado com a
crise de vários setores empresariais, mas deu poucas pistas sobre o que fará. Deu, contudo,
forte apoio ao projeto da nova
Lei de Falências, mencionada
por Palocci, no discurso de posse,
como uma de suas prioridades.
O professor Aloisio Araújo, da
Fundação Getúlio Vargas, ajudou Armínio Fraga, no Banco
Central, na elaboração e discussão do projeto. Já teve vários
contatos com o PT e vai continuar colaborando. A atual Lei
de Falências, da década de 40,
diz, é inteiramente inadequada
para permitir programas de recuperação de empresas em dificuldade, que preserve empregos
sem, necessariamente, ajudar o
acionista controlador. Até mesmo esquemas como o proposto
por Staub, observa, precisariam
de um amparo legal para funcionar adequadamente.
O que está em discussão é um
projeto de lei que tramita desde
1993 e que foi usado como base,
depois de várias modificações.
Ele amplia os poderes do comitê
de credores para buscar soluções
para recuperação das empresas,
hoje nas mãos do juiz e dos devedores. Coloca limites na prioridade dos débitos trabalhistas na
massa falida, para fechar brechas hoje existentes. Permite
composições com devedores, se
dois terços aceitarem (hoje é preciso unanimidade). Além de
permitir preservar a marca e os
empregos de empresas em crise
-sem, necessariamente, ajudar
o controlador-, a nova lei pode
diminuir o risco dos empréstimos e ajudar a reduzir o
"spread" bancário.
Vários empresários importantes com quem conversei nas últimas semanas acham que deve
haver apoio para minorar a crise. Mas com soluções para as
empresas e os empregos, sem privilegiar o controlador. Entre
eles, Ivoncy Ioschpe, do Iedi;
Paulo Cunha, do Grupo Ultra;
Horácio Piva, da Fiesp; Eduardo
Eugênio, da Firjan; e Roger Agnelli, da Vale.
Otimismo cauteloso
A valorização dos títulos da dívida brasileira, a alta da Bolsa e
a queda do dólar têm refletido,
por enquanto, mais a volta dos
investidores brasileiros do que
dos internacionais. Os fundos,
em geral, ainda estão cautelosos.
Alguns estão elevando posições
de Brasil que estavam abaixo da
média, mas poucos estão apostando forte. Potencial para elevar a aposta existe, mas de forma gradual.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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