São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

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JANIO DE FREITAS

A seca do governo


É inconcebível que não se ouça nem uma palavra indignada e exigente de um só parlamentar do Nordeste

O DESCASO DO GOVERNO , sem exceção do próprio presidente, com mais de 220 localidades nordestinas declaradas em estado de emergência, não foge à regra histórica, mas desta vez incide em um período de utilização sem igual, na política e na propaganda, das desgraças do Nordeste.
Por mais de uma semana, as localidades padecem de falta absoluta de água, porque o governo Lula não fez a nova remessa de dinheiro para a operação dos carros-pipas do Exército, entre os açudes cheios e as populações atingidas pela seca. Só agora o governo diz providenciar a liberação de parte do dinheiro, R$ 40 milhões, esperado para amenizar a falta de água e a perda das lavouras alimentícias.
É inconcebível que ainda ocorram descasos governamentais desse tipo. E que, no seu decorrer, não se ouça nem uma palavra indignada e exigente de um só parlamentar do Nordeste, postos todos em férias alegradas por dois meses de vencimento extra. Ou, quando muito, no caso de meia dúzia deles, ocupandos-se em disputas de mais poder e respectivos benefícios.
Os governadores dos Estados atingidos não precisaram de férias para exibir passividade equivalente à dos seus conterrâneos deputados e senadores. Nada de incomodar o repouso praieiro do presidente de origem nordestina, ainda presidente graças ao Nordeste e, graças ao Nordeste, dotado de uma escapatória para o insucesso quase haitiano do seu governo: ele "não governa para os ricos", mas para "resgatar o Nordeste de séculos de injustiças".

Boa hora
O punhado de deputados proponentes de uma candidatura alternativa à presidência da Câmara, contra a permanência do lulista Aldo Rebelo e a eventual eleição do petista Arlindo Chinaglia, tem contra o seu projeto a própria idéia que o motiva: a moralização da Câmara. Se bom número de deputados fosse de adeptos da moralidade interna, a Câmara não estaria desmoralizada.
O êxito eleitoral da alternativa não é impossível mas é muito improvável, tanto mais que o governo Lula se empenhará para que não ocorra. Já se empenha, aliás, com as pressões para que governadores acionem suas bancadas em apoio a Aldo Rebelo, do PC do B, contra o deputado do PT.
Em tal quadro, pode ser até melhor para o projeto alternativo o não lançamento de candidato. A derrota tenderia a enfraquecer o grupo, ao passo que, da sua atual iniciativa, podem esses deputados o ponto de partida para um movimento que incorpore uma corrente ativa da opinião pública, em favor da moralização, parcial embora, da atividade parlamentar e, em especial, da Câmara.
O ambiente está maduro para um movimento assim, só faltando a iniciativa.


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