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JANIO DE FREITAS
A seca do governo
É inconcebível que não
se ouça nem uma palavra indignada e exigente de um só parlamentar do Nordeste
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O DESCASO DO GOVERNO , sem
exceção do próprio presidente, com mais de 220 localidades nordestinas declaradas em estado de emergência, não foge à regra
histórica, mas desta vez incide em
um período de utilização sem igual,
na política e na propaganda, das desgraças do Nordeste.
Por mais de uma semana, as localidades padecem de falta absoluta de
água, porque o governo Lula não fez
a nova remessa de dinheiro para a
operação dos carros-pipas do Exército, entre os açudes cheios e as populações atingidas pela seca. Só agora o governo diz providenciar a liberação de parte do dinheiro, R$ 40
milhões, esperado para amenizar a
falta de água e a perda das lavouras
alimentícias.
É inconcebível que ainda ocorram
descasos governamentais desse tipo. E que, no seu decorrer, não se
ouça nem uma palavra indignada e
exigente de um só parlamentar do
Nordeste, postos todos em férias
alegradas por dois meses de vencimento extra. Ou, quando muito, no
caso de meia dúzia deles, ocupandos-se em disputas de mais poder e
respectivos benefícios.
Os governadores dos Estados
atingidos não precisaram de férias
para exibir passividade equivalente
à dos seus conterrâneos deputados e
senadores. Nada de incomodar o repouso praieiro do presidente de origem nordestina, ainda presidente
graças ao Nordeste e, graças ao Nordeste, dotado de uma escapatória
para o insucesso quase haitiano do
seu governo: ele "não governa para
os ricos", mas para "resgatar o Nordeste de séculos de injustiças".
Boa hora
O punhado de deputados proponentes de uma candidatura alternativa à presidência da Câmara, contra a permanência do lulista Aldo Rebelo e a eventual eleição do
petista Arlindo Chinaglia, tem contra o seu projeto a própria idéia que
o motiva: a moralização da Câmara.
Se bom número de deputados fosse
de adeptos da moralidade interna,
a Câmara não estaria desmoralizada.
O êxito eleitoral da alternativa
não é impossível mas é muito improvável, tanto mais que o governo
Lula se empenhará para que não
ocorra. Já se empenha, aliás, com
as pressões para que governadores
acionem suas bancadas em apoio a
Aldo Rebelo, do PC do B, contra o
deputado do PT.
Em tal quadro, pode ser até melhor para o projeto alternativo o
não lançamento de candidato. A
derrota tenderia a enfraquecer o
grupo, ao passo que, da sua atual
iniciativa, podem esses deputados
o ponto de partida para um movimento que incorpore uma corrente
ativa da opinião pública, em favor
da moralização, parcial embora, da
atividade parlamentar e, em especial, da Câmara.
O ambiente está maduro para um
movimento assim, só faltando a
iniciativa.
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